28 setembro 2008

Em Coimbra

Nos próximos dois dias vou estar aqui.

Açores - notas soltas e Dias de Melo

Nunca fui aos Açores. Já tive um bilhete comprado e não o usei. A vontade dos deuses é assim...

Na semana passada, a minha amiga Teresa Perdigão , uma amiga açoriana e eu conversámos sobre o poeta Dias de Melo, que a T. tinha o privilégio de conhecer. Poucos dias depois soubemos da sua morte.

A primeira vez que ouvi aquele nome foi na voz de Fernando Tordo cantando as nove ilhas dos Açores. Mais tarde soube quem era. Tenho andado a trautear «O dia do mar»:

(...)
O mar não tem marés a medir

O mar começa o seu dia em Santa Maria da Boa Viagem
Alarga para S. Miguel, ajeita o farnel e segue com a aragem

Arrima para a Terceira, arranja maneira de molhar o bico

Na Graciosa dá beijos, acalma os desejos e ala para o Pico

Aí conversa primeiro com um baleeiro do Dias de Melo

Engrossa-se a meio canal, sorri para o Faial que dá gosto vê-lo

São Jorge pára nas velas e faz um coral com nove cagarras

Nas Flores cumprimenta o povo, encosta-se ao Corvo
E estende as amarras
(...)


Letra, música e interpretação de Fernando Tordo, incluído no LP «A Ilha do Canto», de 1986.

26 setembro 2008

23 setembro 2008

Não, não estou a falar dos dilemas das nossas elites e da classe política

Se eu procurar ser alguém, apressando-me a ocupar os bancos da frente da cidade, serei detestado por todos aqueles que nunca poderão chegar ao poder. Pois a superioridade é sempre melindrosa.
Por outro lado, os que têm valor e capacidade e, devido à sensatez que lhes é própria, ficam calados sem se precipitarem para os cargos políticos - será no meio desses que parecerei ridículo e louco, por não preferir a calma de passar despercebido numa cidade carregada de culpa.
Chegado a um cargo honorífico, sentir-me-ei ainda mais posto à distância pelos votos da elite que se apropriou da cidade.
Pois é assim, pai, que as coisas se passam. Os que controlam as cidades e os cargos honoríficos são os mais agressivos em relação aos rivais.

Eurípides, Íon, vv.595-606. Tradução de Frederico Lourenço publicada na Colibri em 1994

20 setembro 2008

tia babada

Ela diz que não tem um blogue, mas que, provavelmente, deveria tê-lo.
Também acho.
Adoro-a e sou, provavelmente, imparcial. Penso que escreve cada vez melhor e ninguém diria que é uma mulher das linguísticas (sem ofensa, pois parte de mim aí se inclui). Na verdade, o seu coração mora na literatura.
Adoro a minha sobrinha Rita.
Roubadíssimo do blogue do seu amigo Lourenço, que aloja os seus escritos, deixo-vos um texto delicioso. Se quiserem ler mais, visitem O Nascer do Sol ou sigam a hiperligação marcada na etiqueta Rita Faria, no fim deste postal.

As saudades que eu já tinha da minha alegre casinha, tão limpinha quanto eu… - por Rita Faria

Tenho uma amiga que diz que não gosta de casas farfalhudas. Com isto, ela quer dizer casas que estão a rebentar de coisas, a começar com o lugar-comum da Última Ceia na parede, passando talvez pelos espelhos com desenhos das quatro estações a imitar Arte Nova, a fruta de plástico inútil na mesa da cozinha, rendas e naperons e tapetes e tapetinhos a puxar ao persa ou ao turco por todo o lado, quadros de hotel a cobrir metros de parede e acabando, eventualmente, com bibelots exibidos com certo orgulho no móvel matacão das louças, com portinhas de vidro, e que tem um nome do qual não me lembro.
O que me surpreende nestas casas farfalhudas é que está sempre tudo impecavelmente limpo. Esta higiene irrepreensível contribui, na minha opinião, para tornar a casa ainda mais feia. Não é que eu goste de casa sujas, sendo que até sinto repulsa pela sujidade, como à partida qualquer ser humano, mas há algo que não me suscita o respeito que deveria suscitar na perfeição da limpeza de uma casa farfalhuda. Ver o lavatório da cozinha a reluzir de Cif, sem qualquer vestígio de utilização, ou os bibelots simetricamente dispostos sem grama de pó, ou o chão de taco a brilhar de encerado, ou a mesa da sala sem sinal de revistas desarrumadas, com um cinzeiro estrategicamente colocado e estrategicamente limpo, ou as garrafas do bar dispostas por tamanhos e em filinha no pequeno balcão a reluzir, tudo isto, não sei, faz-me impressão, acho foleiro, acho que ficava tudo muito melhor com uma camadinha de pó, com uns quantos pratos empilhados no lava-louça, com cinza no cinzeiro, com bibelots partidos e ainda bem porque assim vão para o lixo, com um jornal enxovalhado no sofá, etc.
Até ler o Lobo das Estepes, eu não percebia bem porque é que não gostava da limpeza irritante das casas farfalhudas, quando semelhante limpeza deveria ser um objectivo a atingir e não um defeito. No entanto, no livro que referi, há uma parte em que o Lobo está sentado nas escadas do prédio onde vive, à porta da casa (ou do quarto, não me lembro bem) de uma viúva. Está com um ar satisfeito, e o narrador, que o encontra, não percebe bem a razão de se estar ali sem fazer nada, de modo que é isso que pergunta ao Lobo. Este responde que está ali a apreciar a beleza da limpeza pequeno-burguesa. A viúva que vivia naquela casa cuidava da mesma até mais não poder, limpava tudo todos os dias, enchia o pequeno lance de escadas de higiene e terebentina (e talvez até de umas quantas plantas, mas já não me lembro se este pormenor estava no livro ou se sou eu a inventar, porque encher os lances de escadas de plantas também é farfalhudo) e o Lobo (e eu, acrescento) gostava disso, dessa pertença a alguma coisa, do conforto da higiene burguesa, dessa limpeza pequenina que vem com o desejo de uma vidinha certinha, de uma casinha, de uma tranquilidadezinha que ele não tinha, e que também não era bem o que ele queria, mas se calhar até era (ou, talvez, o que ele queria era conseguir querer a tal limpeza pequeno-burguesa, se é que isto faz sentido).
A limpeza pequeno-burguesa foi uma ideia que me ficou, indelével, depois de ler o Lobo das Estepes. É apenas um pormenor, no livro e nas nossas vidas, mas tão verdadeiro e tão reconhecível que nunca o esqueci, talvez porque já observei esta higiene burguesa, pequenina e confortavelzinha, tantas vezes, em tantas casas.
Não quero com isto dizer que a minha casa seja suja. Pelo contrário, eu até limpo a minha casa com toda a razoabilidade. Não sei é se o cheiro da terebentina farfalhuda lá está. Espero que não, mas, se estiver, também não é assim tão mau.

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posted by LB at Quarta-feira, Setembro 10, 2008 links to this post

19 setembro 2008

o que torna o homem livre

Compreendes por que razão se lhes chama «estudos liberais»: porque são dignos de um homem livre. No entanto, o único estudo verdadeiramente liberal é o que torna o homem livre; e esse é o estudo - elevado, enérgico, magnânimo - da sabedoria; os outros são brincadeiras de crianças!
(...)
A divisão das sílabas, a observação dos significados, o conhecimento dos temas mitológicos, as leis e variações de versos - em que é que isto contribui para nos livrar do medo, nos libertar do desejo, nos refrear as paixões? Passemos à geometria e à música: nelas nada encontrarás que nos impeça de sentir receios ou desejos. E quem não adquirir estes conhecimentos essenciais não ganha nada em adquirir outros!

Séneca, Cartas a Lucílio, 88, 3-4. Tradução de J. A. Segurado Campos. mais por este blogue.

17 setembro 2008

Complexo de Electra

É daqui que vem o complexo de Electra, se bem que sempre tenha considerado o mito um bocadinho esticado, até porque nem é ela que mata a mãe (contrariamente a Édipo, que mata o pai). Na verdade, foi um complexo que não vingou.

ORESTES
(depois de se revelar à irmã, que desejava encontrá-lo, depois da mãe, Clitemnestra, ter matado o pai, Agamémnon)
Mas domina-te, não deixes que a alegria perturbe o teu espírito. Sei bem que os que mais nos deviam amar são precisamente os que nos odeiam.

ELECTRA
(...) Ó doce visão, que quadruplicaste o meu amor, a necessidade me impele a saudar-te como a um pai e em ti se concentra o amor que devia dedicar a minha mãe - com toda a justiça por mim odiada! - e a minha irmã, imolada sem piedade. Tu és o irmão fiel, que me restitui o respeito de todos. Que a Força e a Justiça, associadas ao soberano Zeus, me prestem o seu auxílio!

Ésquilo, Coéforas, vv. 232-245. Tradução de Manuel de Oliveira Pulquério, incluído na Oresteia publicado por Edições 70.

15 setembro 2008

fragmentos...


Comprei este livro. Já saíu em Abril, numa edição da INCM e em tradução de Carlos Martins de Jesus, mas só agora veio parar à minha mão. Ao procurar a imagem do livro, encontrei-a aqui, acompanhada de uma grande crítica, o que me dispensa de o fazer.

Enquanto lia Arquíloco, lembrei-me da graça que acho a fragmentos. E admiro quem consegue, de breves linhas, por vezes muito truncadas, retirar algum sentido.

Há muitos anos, ao ler os Poemas e Fragmentos de Safo, por Eugénio de Andrade, encontrei um dístico lindíssimo:

Pudesse esta noite durar
não uma mas duas noites inteiras

Quando procurei o texto grego (fragmento 197, L.-P.) , encontrei o que se segue, escrito por Libânio:

Se ninguém impediu Safo, de Lesbos, de dirigir uma prece à noite para que, para si, durasse duas vezes, também a mim seja possível fazer um pedido semelhante.

Alguém, desavisado, ao ver um livro de fragmentos, pode imaginar que isso é o resultado da tradução de pedacinhos de manuscritos encontrados em qualquer extraordinária escavação. Como este exemplo mostra, Libânio é do séc. IV e o que temos dele é uma citação, de memória, provavelmente, de algo que lera ou que ouvira dizer que Safo, uns 900 anos antes, dissera...

Através de citações que outros nos trouxeram, vamos podendo recompor o que teria sido a obra de este ou de aquele poeta.
Ler fragmentos é, de facto, um trabalho que exige muito conhecimento do que se tem escrito ao longo dos séculos, mas, também, muita imaginação.

14 setembro 2008

Las islas del mediodía/ As ilhas do meio-dia


Aquí hallarás resguardo en la tormenta,

fruto en sus vaguadas y alivio a tu dolor.

Sin embargo échate al mar
apenas la calma lo permita.
Aléjate.
Que la tierra que una vez te cobijó
no vuelva al cabo su brazo contra ti.

___________________________

Aqui acharás abrigo na tormenta,
frutos no fundo dos vales e alívio para a tua dor.

No entanto retorna ao mar
logo que a calma o permita.
Distancia-te.
Que a terra que uma vez te cobiçou
não volte mais tarde o seu braço contra ti.

Manuel Moya

Tradução de Rui Costa
Edição bilingue
Livrododia Editores, Torres Vedras, 2008

13 setembro 2008

Hoje, à noite, em Faro...

... vou à livraria Pátio de letras. Gostei do livro de poesia do Pedro Afonso. Nunca li nada de Manuel Moya, mas conheço o Fernando Cabrita e é sempre um prazer ouvir o que tem para dizer.

11 setembro 2008

2 anos

(foto tirada pela Teresap)

À nossa!
A Senhora Sócrates faz hoje dois anos.
Passei por diversas fases, como quase todos os que mantêm um blogue: pelo entusiasmo, pelo cansaço, pela assunção.
Gosto de vir a este meu canto e receber os convidados. Às vezes falo pouco (coisa só possível na internet, dirão alguns amigos), mas gosto muito de ler o que dizem aqui e nos seus próprios cantos (que vou ver sempre que posso, apesar de pouco comentar).
Alguns dos meus visitantes já me conheciam pessoalmente, outros vim a encontrar por causa deste blogue. É a vida a acontecer, porque virtual não significa irreal.
Obrigada a todos!

08 setembro 2008

«Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto»

Às voltas com as arrumações, abriu-se esta dedicatória nas primeiras três páginas do livro que a minha sobrinha R., que eu adoro, me ofereceu num dia do meu aniversário, há muitos anos atrás:


Querida Tia (A Tia):

É a primeira prenda que te ofereço em dezanove anos, de modo que a responsabilidade que fulmina os meus frágeis ombros é demasiada!
De qualquer modo, momentos solenes (e felizes) nunca se desperdiçam, por isso vou dar o meu melhor na minha (também) primeira dedicatória que te escrevo.
Este livro é a condensação da desilusão do português suave. Senti o cinzento da melancolia de Lisboa que há tanto tempo esqueceu o que é ser a sede do V Império, a monotonia quer do cidadão comum que sabe que não consegue raiar a mediania, quer do pretenso revolucionário apenas acalentado pelos sonhos da revolta, mas sufocado pela realidade da rotina.
E há ainda a mediocridade arrogante da Elsa Galvão, a personificação de tantos e tantos compatriotas que manipulam subrepticiamente o nosso quotidiano.
Gostei do sarcasmo e da ironia, da auto-crítica despida do barroco que o constatar da decadência acarreta sempre.
Acima de tudo, gostei e espero que gostes.
Despeço-me, finalmente, porque já me alonguei demais. Nem devo ter dito nada do que ensejava, mas pelo menos, se fui eu que escrevi, alguma coisa esta dedicatória há-de ter de mim. Deve ter muito, considerando que a escrevo para ti.

P.S. É sempre bom trocarmos umas ideias sobre todos os assuntos! (Toda a gente se esquece disso!)

P.S.2: Desculpa ter utilizado tantos pontos de exclamação. Cada vez que uso um lembro-me sempre do insuperável Adrian Mole que, ao receber uma carta de amor de uma rapariga que não corresponde aos seus elevados parâmetros intelectuais, afirma peremptoriamente que não seria capaz de casar com alguém que recorresse tão frequentemente e indiscriminadamente às exclamações.
Apesar de tudo, tal afirmação permaneceu na minha memória e, inexplicavelmente, não posso deixar de pensar que ele tem alguma razão! (Ah! Ah!)

06 setembro 2008

Chove

Chove muito, chove excessivamente...
Chove e de vez em quando faz um vento frio...

Estou triste, muito triste, como se o dia fosse eu.


N'um dia no meu futuro em que chova assim tambem
E eu, á janella, de repente me lembre do dia de hoje,
Pensarei eu «ah n'esse tempo eu era mais feliz»

Ou pensarei «ah, que tempo triste foi aquele»!

Ah, meu Deus, eu que pensarei d'este dia n'esse dia

E o que serei, de que forma; o que me será o passado que é hoje só presente?...
O ar está mais desagasalhado, mais frio, mais triste

E ha uma grande duvida de chumbo no meu coração...


Álvaro de Campos

[57A-74r] Manuscrito de 20/11/1914. Edição crítica de Teresa Rita Lopes, editada pela editorial estampa em 1993 ( a minha edição é de 97, mas deveria chamar-se reimpressão...)

(imagem daqui)

05 setembro 2008

blogues bloqueados em bibliotecas

(foto daqui)

Li neste blogue, que muito aprecio e prezo, que na Biblioteca de Faro não se podia consultar blogues à vontade. Não se pode. Nem ali nem noutros locais, como na «minha» Universidade. Quase todos estes sítios públicos que têm jovens (e crianças, no caso da biblioteca) como utilizadores têm instalado um filtro que barra o acesso a sites com conteúdos associados a pornografia. Ora, ao encontrar algumas palavras consideradas obscenas, bloqueia. Isto chega ao caricato: sei de um caso de um colega de Latim que, ao colocar no blogue que criara para a sua disciplina um texto em que entrava o verbo latino puto, putas, putare, putaui, putatum (que significa «julgar, considerar»), foi bloqueado.
O mesmo se passa nesses lugares (onde este blogue, por causa do exemplo acima, ainda vai ser de acesso proibido, eheheh).
Mas, pelo que sei, qualquer utilizador pode pedir que determinado endereço seja desbloqueado, o que geralmente acontece, pois as direcções sabem que aqueles filtros são genéricos e que impedem o acesso a muitos sítios que não têm nada de impróprio. Aliás, na Biblioteca António Ramos Rosa (dita «de Faro») aparece a frase: «Se considerar que, neste caso, os conteúdos são didáctico-informativos, pode fazer um pedido de desbloqueio de página neste formulário».
Fulanizando a situação, a ideia que tenho da directora da Biblioteca de Faro é a de uma pessoa que, se não faz mais pela cultura é porque não pode.

04 setembro 2008

Foi quase como dizer: «Ó Sócrates, desculpa a franqueza, mas és feio»


Muitos homens têm a mania de dizer que não sabem apreciar outros homens. Sabem, pois. Vejam só o que diz Teodoro a Sócrates sobre o jovem Teeteto:


Se fosse bonito, teria bastante receio em afirmá-lo, para que não parecesse que estava apaixonado por ele. Agora, na realidade - e não te aborreças comigo -, não é bonito, pois é parecido contigo pela forma achatada do nariz e pelos olhos salientes; só que tem estes traços mais suaves do que tu. Estou a falar à vontade.

Platão, Teeteto, 143e.

03 setembro 2008

locus memoriae


Gosto de edifícios espelhados. Chamem-me provinciana, mas desde que vi, na então Berlim Leste, um antigo edifício (penso que era uma igreja) reflectido no vidro de uma construção moderna (tenho a foto algures), passei a ser fã.
Gostei do Centro Cultural Gil Vicente, no Sardoal.

(A foto de cima foi tirada no castelo de Abrantes)

02 setembro 2008

¡Mira! ¡Ya estoy navegando!

Pois é! A simpatia e eficácia do Nuno Mira, com o apoio da Liliana, ambos empenhados em ajudar-me a pôr isto a funcionar, conseguiram que a minha internet melhorasse significativamente. Parece que o problema era do cartão SIM e de não-sei-quê da rede... enfim, penso que tudo esteja bem, mas não sei se isso chega para que eu me mantenha cliente da TMN. Estão a ser problemas a mais.
Mas valeu a pena ir à loja. Enquanto o assunto não se resolvia, tive uma conversa excelente com o Nuno e com o Carlos (que ali estava para ser atendido), da United Press Photo, que se ofereceu para lavar a cara a este blogue. Quando acontecer, verão e poderão dar a vossa opinião.
Até lá, continua verdinho.

01 setembro 2008

prémios literários

- Doscientas mil pesetas por ir y venir a Madrid. Allí asistirá a una cena donde se concede un premio literario. Si una vez allí acepta el trabajo habrá pasta gansa.
- Pagada la cena?
- Hosti, jefe. Claro.
- Menú.
Pero no, no valía la pena pedir el menú de una cena donde se concede un premio literario. En esas circunstancias la gastronomía es lo de menos y sería una grosería que la cena fuera más buena que la obra premiada.

Manuel Vásquez Montalbán, El premio, Planeta 2005, p.63

(Nota: continuo sem net em casa...)