Acabei de reler, em
Diógenes Laércio, 2.5 (tradução minha), uma carta que Anaxímenes (de Mileto)
terá escrito a Pitágoras, no séc. VI a.C., e que me encheu de tristeza, por ver
a história a repetir-se: os anseios e receios de quem vê a guerra à porta.
Bem fez Pitágoras
em ir para longe.
Mas, hoje, já nada está suficientemente longe.
:(
«Anaxímenes a Pitágoras
Foste o mais prudente de todos nós, quando te mudaste de Samos [1]
para Crotona [2], onde estás em paz. Os
filhos de Éace [3] praticam males
imperdoáveis e tiranos não faltam aos Milésios [4]. O
rei dos Medos [5] também é terrível para
nós, se não quisermos pagar tributo; mas, em verdade, os Jónios estão a ponto
de empreender uma guerra contra os Medos, em prol da liberdade de todos: e
quando estivermos em guerra, deixaremos de ter esperança de salvação. Como
poderá Anaxímenes ainda ter ânimo para estudar os fenómenos celestes, estando
com medo de ser entregue à morte ou à escravatura? (...)»
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[1] Ilha grega, do mar Egeu.
[2] Cidade da atual Calábria,
em Itália.
[3] Éace de Samos tinha 3 filhos: Polícrates, Pantagnoto e Silosonte. Segundo Heródoto, 3.39, Polícrates, que se tornou tirano, “matou um deles, exilou o mais novo, Silosonte, e chamou a si, por inteiro, a soberania de Samos”.
[4] Habitantes de Mileto, colónia
grega da Jónia
[5] Deverá referir-se a
Astíages. Os Medos, parentes dos Persas, viram o seu poderia derrotado por estes,
liderados por Ciro II, (neto de Astíages), também conhecido como Ciro, o
Grande, em 550 a.C., na batalha de Pasárgadas.