29 maio 2007

Taberna

Hoje é dia de postal na Taberna. E está tão chique, tão chique, que a receita até está em francês!

28 maio 2007

Quanto custa um acento agudo numa palavra grave?

Mais de 5300 euros!
É verdade!
E merece, pois então!
Foi neste semana, penso que na quinta-feira, no «Um contra todos», um programa no canal 1 da RTP, em que se pedia para identificar, quanto à acentuação, a palavras «automóvel».

Não me lembro quantos erraram, mas lembro-me que o jogador principal comprou a resposta, pois sentia-se inseguro. Se não o tivesse feito, escolheria «agudo». Como comprou, reduziu em cinquenta por cento o valor que já tinha, que ultrapassava os 10600 euros.
Estes valores são virtuais, portanto não o incomodaram. Nem os incomodou (a ele e ao apresentador) o facto de não saberem o nome dos acentos. Ainda comentaram que era difícil.
Difícil?
Se pedissem para acentuar, ainda vá: há muitas dúvidas sobre onde colocar o acento.
Mas identificar uma palavra já acentuada?
Bem, como não quero parecer presunçosa e como os acentos estão bem cotados no mercado (5300 euros é bom dinheiro por um tracinho), segue-se uma pequena explicação.

O acento de uma palavra não tem de ser gráfico. Todas as palavras têm uma sílaba tónica (aquela sobre a qual recai o tom, aprendíamos nós), mas muitas não precisam de a grafar.
E qual é a sílaba tónica? Costumo ensinar que é aquela que prolongamos quando temos de a chamar. Imaginamos que temos de chamar a palavra... palavra: palaaaaaaaaaaavra.
Pronto. Esta é a tónica! E é grave (ou paroxítona), porque é a penúltima (ou a segunda a contar do fim): pa-la-vra.
Não leva acento gráfico, porque os vocábulos portugueses são tendencialmente graves.
Já a palavra que estava em causa no jogo televisivo, «automóvel», sendo também grave , precisa de um acento (agudo - aquele que inclinamos para a direita), pois termina em -l.
Isto porque as palavras que terminam em l, n, r, x, bem como em a, e, o (abertos), i, u (com ou sem s), são naturalmente agudas.
Assim, não precisam de acento palavras como caril, cantar, funil, porque são agudas, mas já é necessário em fácil, éden ou carácter, que são graves.

Fico por aqui. 5300 euros já me dão um jeitão!

26 maio 2007

Meme

As últimas atribulações não me têm dado muito tempo para navergar nos blogues que gosto e, por isso, só hoje vi o convite da Teresa C. para deixar aqui um meme.

Na verdade, acho que costumo deixar aqui muitos, e por isso, é com todo o prazer que acrescento mais um:

Aquele qua nada conhece, nada ama.
Aquele que não é capaz de nada, nada compreende.
Aquele que nada compreende é inútil.
Mas aquele que compreende também ama, repara e vê. (...)
Quanto mais conhecimento existe de uma coisa, maior é o amor...
Quem imagina que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo que os morangos não percebe nada de uvas.

Paracelso
(em epígrafe ao livro de Eric Fromm, de 1956, A Arte de Amar, publicado pela Pergaminho em 2002)

Como é suposto pedir «memes» a mais seis bloguistas, aqui vão uns amigos que sei que têm memes bons para nos dar:

Marta, do
Claras em Castelo
Miguel, do
Heart of Saturday Night
Sara, do Apenas Eu
Mirian, do
A Mulher do Lado
Teresa, do Pedra sobre Pedra
Damularussa (Desculpa, mas não sei o teu nome, amiga!)

«Um "meme" é um "gene ou gene cultural" que envolve um conhecimento que é passado a outros contemporâneos ou aos descendentes. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma. Simplificando: é um comentário, uma frase, uma ideia que rapidamente é propagada pela Web, usualmente por meio de blogues. O neologismo "memes" foi criado por Richard Dawkins pela semelhança fonética com o termo "genes”. »

25 maio 2007

Herança Mediterrânica

Eu devia estar aqui...... mas uma indisposição impediu-me.
Se está perto de Cacela, vá até lá e diga que fica com a minha vaga, dado que as inscrições eram limitadas.

24 maio 2007

A virtude

A virtude não virá, nem por dom da natureza, nem será matéria passível de ser ensinada. Chegará, antes, por fado dos deuses, àqueles em que ela existe, sem saberem.

Platão, Ménon, 99e
(Tradução de Ernesto Rodrigues Gomes, para GEC Publicações, em 1986)

22 maio 2007

E ela celebrava o dia dos meus anos

(nós as duas, no dia dos seus anos, em Outubro de 2006)

A 22 de Maio de 1952 morria a Adrianinha, minha irmã mais velha, a primeira filha que a minha mãe teve, em Outubro de 1946, um ano após o casamento (pós-guerra, Setembro de 1945).
Durante anos ela ia ao cemitério por flores.
Mais dois filhos. Mais dois mortos, à nascença.
Depois, chegámos «nós, os quatro macacos», como ela dizia a rir (os naturais do Bombarral são macacos, assim como os de Lisboa alfacinhas). O meu irmão João já partiu, vai fazer 5 anos. Restamos três.
Já tinha ela três filhos (seis partos), quando aos 42 anos engravida de novo. Foi o resultado das saudades de uma viagem a Itália com uma tia, opinava eu (para implicar com ela), durante a qual o meu pai e minha avó ficaram a tomar conta das crianças.
O fim do tempo era em Junho.
Maio aproxima-se.
Ela enerva-se: «E se nasce antes do tempo? E se nasce a 22 de Maio?»
22 de Maio era o dia da ida ao cemitério, de limpar e de pôr flores na campa da Adrianinha.
Nervos acumulados, preces «que ela não nasça a 22 de Maio, que ela não nasça a 22 de Maio», mas de nada serviu.
A 22 de Maio, mal o sol despontava, eu nascia!
Igual à outra.
Quanto ao nome, muitas indecisões. Está bem, que fique com o mesmo nome.
A grande diferença foram as idas ao cemitério que nunca mais se fizeram a 22 de Maio.
Nesse dia havia festa, prendinhas, amigos pela casa, muita alegria.
Conseguiu sempre esconder qualquer tristeza que lhe pudesse toldar os olhos, ocupada como estava a fazer os bolos e a assegurar-se de que a festa era sempre um sucesso.
Nesse dia ela celebrava o dia dos meus anos.
Parabéns à minha mãe!

(sim, é verdade, o título é inspirado em A. Campos)

Taberna

Hoje há bolo na Taberna!

21 maio 2007

Como citar a Bíblia

Nunca pensei um dia ter de ensinar como consultar e citar a Bíblia.
Contudo, nas aulas de Matrizes Culturais Europeias, onde a Bíblia não pode deixar de ser um dos livros a ler (ou, pelo menos, a ir lendo) e a saber consultar, verifiquei que alguns alunos nunca tinham sequer aberto uma bíblia (não vou falar das implicações que isto tem no entendimento do mundo actual) nem, naturalmente, a sabiam consultar.
Ora bem, aqui já se disse
como citar Platão, como citar poesia grega e latina (numa próxima segue-se «como citar Aristóteles») e agora temos «como citar a Bíblia».
A Bíblia é composta por vários livros que, por sua vez, estão divididos em capítulos e estes em versículos.
A numeração da página que cada edição tem não serve de referência, mas sim a indicação do nome do livro e o número do capítulo e do(s) versículo(s).
O nome dos livros tem uma forma abreviada por que é conhecido e que se encontra numa lista no início da Bíblia. Podem ter numeração romana, quando se dividem em mais do que um.
Os capítulos têm nomes que ajudam a reconhecer o assunto.
Os versículos são marcados por numeração árabe que surge antes de cada um deles. Cada versículo conter uma ou mais frases, ou apenas frases e períodos parciais, dado que foram divisões introduzidas com alguma arbitrariedade.
A edição que uso é a dos Missionários Capuchinhos, da Difusora Bíblica. Algumas destas indicações que se seguem são comuns à maioria das bíblias:

No cabeçalho de cada página surge o nome do livro, bem como o número do capítulo, ajudando assim a situar o que se procura.
No corpo do texto, o capítulo (tanto o número como o nome) aparece em negrito e os versículos em tamanho muito mais reduzido (como tentei reproduzir aqui, sem muito sucesso).

Assim, se eu escrever Cant.I. 1, 2-3, é suposto que se leia «Primeiro Cântico dos Cânticos, capítulo 1, versículos 2 e 3» e que, em qualquer parte do mundo e em qualquer língua, se reconheçam estas palavras:

2 Ah! Beija-me com ósculos da tua boca!
Porque os teus amores são mais deliciosos que o vinho,
3 e suave é a fragância dos teus perfumes;
o teu nome é como perfume derramado:
Por isso te amam as donzelas.

Boas leituras!

20 maio 2007

Blogue do Cineclube de Faro


Não costumo escrever postais sobre blogues (se bem que o deveria fazer. Qualquer dia comento alguns de que gosto especialmente), mas este merece destaque.
Falo do novo blogue do Cineclube de Faro, apresentado na passada sexta-feira, no Teatro das Figuras, em Faro.
Este cineclube é mesmo especial!
Fez no ano passado 50 anos de existência ininterrupta e, pelo menos desde que me fiz sócia, com uma programação excelente e actividades cativantes.

Na sexta-feira encerrou o ciclo das comemorações do aniversário com a exibição do filme Dom Roberto, de Ernesto de Sousa, produzido pela Companhia do Espectador, isto é, um grupo formado por sócios de cineclubes.
Na mesma linha, o cineclube de Faro conduziu uma subscrição junto dos seus sócios para que custeassem a obra.
E assim foi. Devido à contribuição de de 41 sócios a encomenda foi feita e pudemos ver e ouvir a belíssima Suite para Dom Roberto de Bernardo Sassetti Trio. Um magnífico espectáculo!

O filme é lindo! A preto e branco, de uma ternura infinita!
Cheio de nomes conhecidos hoje por todos, bem jovenzinhos naquela altura, dei por mim a fazer uma coisa a que acho graça: tentar reconhecê-los ali e ver nestes as mudanças que a idade trouxe.
Raul Solnado estava igual, bem como Adelaide João e Nicolau Breyner. Glicínia Quartim era linda em jovem e aquele que eu mais procurava, Rui Mendes, cujo nome vira nos créditos, nada de aparecer. Até que um grande plano me satisfez a curiosidade: fazia o papel de um rufia de bairro, cabelo à Elvis, gola da camisa levantada e mangas arregaçadas! Irreconhecível! Só mesmo um plano do rosto me fez ver como era! Lindo!

O filme foi às 18, o concerto às 21.30 (bem... às 22, pois a nossa querida Anabela Moutinho fez uma emocionada e emocionante introdução) e, no fim, tivemos um «rebuçado»: uma pequena rábula de teatro de fantoches, por um bonecreiro à antiga, que não quer deixar morrer Dom Roberto!

Lindo, lindo!

19 maio 2007

A beleza é um bem frágil...

Apesar de Ovídio achar que todas as mulheres podem ser apanhadas nas redes dos homens (e que estão cheias de vontade que tal aconteça - ideia que me repugna aceitar), também diz coisas como estas:

A beleza é um bem frágil; à medida que vão avançando os anos,
Vai diminuindo e, por força da idade, vai murchando;
Não ficam todo o tempo em flor as violetas nem os lírios de pétalas abertas,
E a roseira, depois de cair a flor, enrijece os espinhos, que é o que lhe resta.
Também a ti, ó jovem esbelto, te hão-de chegar os cabelos brancos,
E logo virão as rugas sulcar-te o corpo.


Ovídio, Arte de Amar, II, 113-118 - espero que os meus alunos de Latim estejam a reconhecer o teste da passada quinta-feira)

17 maio 2007

Amizade bretã

Acabei de receber este poema, enviado por uma amiga «bretonne».
Pour toi aussi, Gwen!

«Paul Eluard pour toi ce soir ... »

La Courbe de tes yeux

La courbe de tes yeux fait le tour de mon coeur,
Un rond de danse et de douceur,
Auréole du temps, berceau nocturne et sûr,
Et si je ne sais plus tout ce que j'ai vécu
C'est que tes yeux ne m'ont pas toujours vu.
Feuilles de jour et mousse de rosée,

Roseaux du vent, sourires parfumés,
Ailes couvrant le monde de lumière,
Bateaux chargés du ciel et de la mer,
Chasseurs des bruits et sources des couleurs,
Parfums éclos d'une couvée d'aurores
Qui gît toujours sur la paille des astres,
Comme le jour dépend de l'innocence
Le monde entier dépend de tes yeux purs
Et tout mon sang coule dans leurs regards.

15 maio 2007

Convencido, este Ovídio!

Antes de mais, tem confiança no teu coração de que todas
podem ser conquistadas; e vais conquistá-las; basta que estendas as redes.
(Ovídio, Arte de Amar, I, 269-270)

Só está perdoado porque também escreveu isto...

14 maio 2007

Ícaro

(The lament for Icarus - H.J. Draper - 1989)


Da Mafalala estorva-nos
a memória dos gregos
É um anjo negro segregado
e assim goza
de asas sussurrantes
Desce por entre
intervalos do vento
e findo o voo refunde
o modelo de cera
Como qualquer pássaro faz ninho
ele no vestido das mulheres
Sem céu fixo
exala a plumagem
da comum nudez interrompida.

(Sebastião Alba, A Noite Dividida, Lisboa, Assírio & Alvim, 1996)

10 maio 2007

Regras gramaticais...


Na terça-feira, dia 8, ouvi Ivo de Castro no canal 2, num programa da Universidade Aberta. A propósito das regras gramaticais, este Professor Catedrático de Linguística referiu o largo espectro que medeia entre o erro e a forma mais elevada de expressão na Língua Portuguesa, referindo que essa forma é a usada pelos escritores. Mas logo, matreiro, contou uma anedota que nos põe a pensar...

Encontrando um dia o já clássico Augusto Abelaira, este confessou-lhe ter produzido um texto que, depois, ao ser relido, lhe levantou dúvidas quanto a uma determinada construção. Para sanar a questão, Abelaira fora consultar a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Sintra. Procurara e encontrara: a construção que estava a usar e da qual duvidara estava atestada na gramática, tendo como base o uso literário de um autor consagrado. Era esse autor... Augusto Abelaira!
Ivo de Castro relatou esta conversa a Celso Cunha que terá dito: «Se eu soubesse, não o tinha usado para aquele exemplo».
Quem faz as normas? As regras? As excepções?
Vou ter muito em que pensar nos próximos tempos...

09 maio 2007

Valor próprio

Se quiseres saber quanto vales não atendas aos teus rendimentos, à tua casa ou à tua posição social, olha sim para dentro de ti, em vez de, como agora, acreditares no valor que os outros te atribuem!

Séneca, Cartas a Lucílio, 80, 10.

08 maio 2007

(foi hoje)

Adeus


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certezade que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.


(Eugénio de Andrade)

Na Taberna...

Hoje é dia de fazer um postal na Taberna dos Inconformados.
Convido-vos para um leite-creme!

07 maio 2007

Fecho da «Biblioteca Apostolica Vaticana» por três anos

(imagem do site da Vaticana)
Esta notícia que corre entre os classicistas (através de uma mailing list de paleógrafos) pode interessar àqueles que pensavam consultar, em breve, alguma obra nesta biblioteca:

«A brief email in order to spread the announcement put up at the Biblioteca Apostolica Vaticana last Friday.
In June 2007, the Biblioteca will close its doors for a period of three years.
However, this closing does not concern the Archivio Segreto Vaticano.
Please pass this announcement on to the persons who could be affected.»

Fui ao site da Vaticana, mas o botão «Information» da barra de ferramentas não funcionou, não podendo assim confirmar a notícia.
Passo, à confiança.

06 maio 2007

Ute Lemper: um espectáculo!


(imagem daqui)
Ontem fui ver Ute Lemper.
Ver... que verbo mais apropriado!
Quando vamos «ouvir» um músico ao vivo, costumamos dizer «fui ver». É verdade que vemos, mas em muitos casos isso acontece apenas porque estamos ali de olhos aberto, pois se os fechássemos pouco ou nada perderíamos.
Ontem não.
A Ute Lemper é um espectáculo!
Tinha-a visto num Festival de Edimburgo há muitos anos atrás, quando o seu repertório era mais... «clássico», digamos assim: mais Kurt Weil, menos Jazz.
Ontem adorei vê-la e ouvi-la! O modo como transita entre canções, o modo como muda a língua em que canta (ora francês, ora inglês, ora alemão... e até iídiche!), o modo como nos envolve na sua viagem, como ela define o espectáculo!
Durante hora e meia estive de olhos pregados naqueles músicos, a mexer-me na cadeira, balançando o corpo ao som dos ritmos que se produziam no palco, encolhendo-me nos momentos mais íntimos, rindo nas alturas de humor, assobiando «Die Moritar Von Mackin Messer», e batendo palmas desalmadamente!
Ela falava em viagem... será que é a isto que se chama uma «trip»?

04 maio 2007

Filosofia de iogurte

(surripiei a imagem daqui)
Li recentemente na tampa de um iogurte pendurada num frigorífico (não, não era colada nem tinha íman. Era mesmo pendurada! Com molas e tudo! E um dia destes ainda falo, precisamente, da filosofia de frigorífico...) uma frase assim parecida:
«É feliz aquele que se julga feliz»
Grande verdade. Ouve-se: «Não me amas. Apenas julgas que me amas». E eu pergunto: «Qual é a diferença?»
Em relação a muitas coisas, aquilo que achamos, a nossa opinião, não equivale à realidade: se eu achar que estou macérrima e o meu peso, segundo as tabelas da organização mundial de saúde, indicar que estou obesa, aquilo que eu acho não é a realidade. Mas, em muitos casos, principalmente no que respeita a sentimentos, a opinião equivale ao ser.
Deste modo, se acho que amo, então amo.
Faz-me lembrar Protágoras, quando diz que «cada coisa é para mim do modo que a mim me parece; por outro lado, é para ti do modo que a ti te parece»*.

É assim a filosofia do iogurte.

*(Platão, Teeteto, 152a, Fundação Calouste Gulbenkian, 2005. Tradução minha)

03 maio 2007

Relendo Heródoto...

Adimanto, filho de Ócito, o comandante de Corinto, exclamou:
«Temístocles, nos concursos, os que partem antes do sinal ser dado são penalizados».
Ao que, em sua defesa, lhe respondeu o general ateniense:
«Mas os que ficam para trás não recebem a coroa da vitória».

Heródoto, 8. 59
(tradução de José Ribeiro Ferreira e Carmen Leal Soares para as edições 70)