31 julho 2008

carpe diem


Mesmo no meio dos males, concedei à vossa alma o prazer possível em cada dia, já que aos mortos de nada serve a riqueza.


Espectro de Dario em Os Persas, v. 840-43, de Ésquilo, em tradução de Manuel de Oliveira Pulquério.

30 julho 2008

Questões de Moral ou Joel Costa

Questões de Moral é o programa mais divertido da Antena 2. Há muitos anos que o oiço e tenho de confessar que até me emocionei quando um dia vi, finalmente, o Joel Costa. Foi na televisão, não ao vivo, mas deu para experimentar aquela sensação especial de ver o rosto de uma voz que nos é tão familiar.
Joel Costa pensa sobre muitos assuntos. Por vezes não concordamos, mas em questões de moral duvido que possa haver sempre consenso. Discuto com ele e, como bom ouvinte que é, deixa-me sempre ficar com a última palavra.
A voz de Joel Costa é... molhada. Enquanto ouvia o último programa, fui tentando encontrar formas de descrever aquela voz: é molhada e irónica. Diverte-me muito.
E como gosto do que me diverte, segunda-feira às 13h, às 23h ou na internet, procuro não deixar de o ouvir.
No ano passado descobri o seu último livro, O Assassino de Salazar. Li-o de uma assentada, mas toda a narração tinha aquela voz, aquela inflexão irónica, aquele baixar de tom em algumas palavras que ele costuma fazer, que até parecia que tinha o autor a ler só para mim. Misteriosamente, li o livro com a voz de Joel Costa.

29 julho 2008

Thíasos

O grupo de teatro clássico Thíasos, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra faz 15 anos e eu sou tão vetusta que até sou do tempo em que não havia Thíasos!
Lembro-me de algumas das primeiras representações dos jovens estudantes Delfim Leão e José Luís Brandão (que me perdoem os outros, mas as actuações destes dois ficaram na memória) que abrilhantaram os serões culturais dos colóquios da antiguidade clássica a que tive a oportunidade de assistir.
Hoje são professores da Universidade de Coimbra e congratulo-me por ver que os espírito galhofeiro e brincalhão que neles se manifestava através das personagens interpretadas em nada ensombrou a seriedade e dignidade com que foram construindo as suas carreiras.
Sinto-me orgulhosa por, de vez em quando, ser iluminada com um pedacinho do brilho que dali vem.
Parabéns a todos!

26 julho 2008

Arte cicládica

(foto daqui)
Olho o meu saco de pano, daqueles que uso para ir ao supermercado para não trazer os de plástico, e leio, em grego e em inglês, «Museum of Cycladic Art - Nicholas P. Goulandris Foundation».
Tenho de ver se encontro, durante as arrumações, a estatueta que comprei na lojinha do museu.
A arte cicládica é uma das formas de arte grega que mais me agrada pela simplicidade, pela austeridade, pela contenção das expressões religiosas, pela singeleza dos votos oferecidos aos deuses.
A ausência de grandes decorações e as formas minimalistas permitiam-me brincar com alguns amigos e perguntar-lhes de que época pensavam que eram aquelas estátuas. Contemporâneas, era a resposta. Que tinham cinco mil anos, esclarecia eu.

(foto daqui)

(foto daqui)

24 julho 2008

Escolha

O que é preferível?

Estar presa, em pouco espaço, mas ter quem esteja connosco

ou
livre, com espaço, mas sozinha?



Não sei o que a minha Natacha preferirá nos próximos 3 dias: que a leve para outro lugar, onde vai estar acorrentada, ou que a deixe aqui no quintal e ter alguém que a venha alimentar, mas que não lhe fará muita companhia.
Aceito conselhos de mais sabedores de como tratar um cão.

23 julho 2008

Curiosidade: herança de Pandora?

(imagem daqui)

Prediction of the time and manner of death was one of the most important activities of the ancient astrologer, though it was illegal.

(Tamsyn BARTON (1994), Ancient Astrology, Routledge)

22 julho 2008

O primeiro jantar...

...deliciosamente improvisado, sob a protecção de um «anjo» da Bairrada, tinto, de 1991...

21 julho 2008

chorar um homem


É na escuridão, Gala, que choras o marido que perdeste:

creio que tens é vergonha , Gala, de chorar um homem.

Marcial, IV, 58. Esta tradução.

19 julho 2008

Beleza madura



Não me agrada casar com uma virgem nem com uma velha.

A uma lastimo-a; à outra respeito-a.
Nem bago verde nem passa de uva. A beleza sazonada
é que está madura para o leito de Cípris.

Onestes, nesta tradução da Antologia Palatina

18 julho 2008

A propósito da minha lombalgia

Tendo prometido a Diodoro que lhe endireitava a corcunda,
Socles colocou três enormes pedras quadradas sobre a saliência da sua espinha dorsal. Diodoro morreu em consequência da pressão, mas ficou mais direito que uma tábua.

Nicarco, nesta tradução da Antologia Palatina.

17 julho 2008

Amizade

a amizade tem de ser mais branda, e mais livre, e mais doce, e mais inclinada a toda a gentileza e afabilidade.

Cícero, A Amizade,18, 66. A mesma referência.

16 julho 2008

Limerick caseiro

Tenho uma amiga em Limerick . Isso fez-me pensar nos limericks que, noutra vida, costuma fazer e de como nos ríamos com as parvoíces que saíam. Não resisti a deixar-me levar e saiu este assim:

There's a house in a place I know
When I first saw it I said wow
I fell in love and bought it
' didn' think much about it
And now to pay it I say wow

15 julho 2008

Que inveja!

O meu dia de hoje pertence-me, ninguém me roubou um bocadinho que fosse: todo ele foi dividido entre o leito e a leitura.

Séneca, Cartas a Lucílio, 83.3. A referência do costume.

14 julho 2008

«É preciso ter lata!» ou «Os pais não têm de morrer pelos filhos»

Foi isto que achei de Admeto, o rei de que vos falei aqui. Aliás, esta tragédia de Eurípides tem momentos de muito humor.
E lata porquê? Porque, na tentativa de convencer alguém a morrer em sua vez, usa argumentos que... só mesmo com muita lata! Acha que os pais são velhos e que deviam ir primeiro que ele, além de que, trocarem com o filho, seria prova de amor!
Eurípides é conhecido por ter aprendido bem com os sofistas, mas tal como monta os argumentos de Admeto, desmonta-os na personagem de seu pai.
Vejamos. Admeto aceita que a mulher morra por ele e depois chora a sua morte (é preciso ter lata!). Quando o pai vem prestar as honras fúnebres à nora, Admeto insurge-se:

ADMETO:
Não foste convidado por mim para este funeral nem considero a tua presença como a de um amigo. (...) Devias compadecer-te de mim quando eu estava perdido. Mas mantiveste-te longe e permitiste que outra pessoa, que era jovem, morresse, tu, um homem já velho. E lamentas agora este cadáver? Não eras tu, na verdade, o pai deste meu corpo? E aquela que se diz e é chamada minha mãe não me deu ela à luz? (...) não me considero teu filho. Ou, então, a todos excedes em cobardia, tu, que, sendo de idade avançada, chegado já ao termo da vida, não desejaste nem ousaste morrer pelo teu filho, deixando esse cuidado a uma mulher estrangeira, a única que eu poderei com justiça considerar como minha mãe e meu pai.
E, no entanto, seria uma bela prova que tu disputarias, morrendo pelo teu próprio filho, quando era já tão curto o tempo que te restava para viver. (...)
Foi esta a recompensa que que de vós recebi, de ti e daquela que me deu à luz. (...) Não serei eu que te sepultarei com a minha mãe. Para ti estou morto (...).

FERES
Ó filho, quem julgas tu, na tua insolência, que estás a atacar com as tuas injúrias? Um Lídio ou um Frígio comprados com o teu dinheiro? Não sabes que sou tessálio, filho de pai tessálio e livre por nascimento? (...) Gerei-te e criei-te para seres senhor deste palácio, mas não tenho obrigação de morrer por ti. Não recebi dos antepassados, nem é grega essa lei de que os pais devem morrer pelos filhos. Feliz ou infeliz, é para ti que nasceste. O que devias receber de mim já o possuis. És chefe de muitos homens e deixar-te-ei terras de muitas jeiras que recebi de meu pai. Em quê, pois, te causei dano? De que te privo eu?
Não morras por mim, que eu não morrerei por ti. Regozijas-te de ver a luz? E pensas que o teu pai não tem o mesmo direito? Imagino como será longo o tempo debaixo da terra, e a vida é breve, mas agradável.

Entretanto tu, sem pudor, lutaste para não morrer e estás vivo: escapaste à sorte imposta pelo destino, matando-a a ela. E falas da minha cobardia, ó celerado, quando afinal tu te deixaste vencer por uma mulher que morreu por ti, por um jovem lindo como tu? Descobriste uma boa maneira de nunca morrer, se persuadires sempre a mulher que tiveres na ocasião a morrer por ti.
E agora vens insultar os teus por não quererem fazer isso, quando tu próprio não passas de um cobarde?
Cala-te e pensa que, se tens amor à vida, os outros também têm; e se continuas a dirigir-me palavras desagradáveis, vais ouvir muitas do mesmo género, e merecidas.

E não é que Admeto não admite (desculpem o trocadilho) que está errado e continua a argumentar com o pai? Leiam, leiam e irritem-se, como eu. Há gente cá com uma lata!

13 julho 2008

ser corajoso

É claro, ó Laques, que eu não vou chamar corajoso nem a um animal nem a qualquer outro ser que, por falta de entendimento, não receie aquilo que é perigoso. Chamo-lhe temerário e louco. Ou também julgas que chamo corajoso às crianças em geral, as quais, por falta de entendimento, nada temem? Pois, para mim, temerário e corajoso não são a mesma coisa. Segundo penso, muito poucos possuem a coragem e a previdência. O arrojo, porém, a audácia e a temeridade, a par da imprevidência, são partilhadas por muitíssimos homens, mulheres, crianças e animais. A esses, pois, que tu e a maioria chamam corajosos, eu chamo arrojados, e chamo corajosos aos dotados de senso.

Diz o general Nícias no diálogo Laques (197a-b), em tradução de Francisco de Oliveira. A minha edição é no INIC,1987, mas há uma reedição nas Edições 70, de 2007.

11 julho 2008

Características dos Americanos

Encontrei o material que me foi fornecido quando fui para os EUA: Living in the United States. A Handbook for Visiting Fulbright Scholars. Lembro-me de me ter impressionado com a clareza com que apresentavam as situações para as quais nos alertava. A maior parte destas informações confirmaram-se verdadeiras e, além de me terem ajudado bastante na integração, também foram causa de muitas gargalhadas quando me punha a observar os italianos que queriam ver, na prática, se era verdade que os americanos não gostavam de ser tocados. Era o italiano a dar um passo em frente e o americano um passo atrás!

Os meus sublinhados (que vou apresentar a negrito) começaram logo na primeira página (p. 7, porque depois dos índices):

A. Characteristics of Americans
(...)
Americans appear open and friendly at firts meeting, but this means only that they are pleased to make your acquaintance; it may or may not lead to true friendship. (...)
Americans tend to stand at least an arm lenght apart when conversing and are not inclined to touch one another, except to shake hands upon greeting one another. (...)
They view punctuality as a virtue, especially in professional life. In fact, Americans often seem to be in a hurry since «time is money». They are materialistic on the whole, but generous as well.
By and large, differences are indulged, and «doing one's own thing» is held in high regard.

09 julho 2008

ser e tornar-se

E agora, quem poderá tornar-se um mau médico?
É óbvio que, em primeiro lugar, aquele que começa por ser médico, e que, em seguida, é um bom médico - esse, com efeito, poderá tornar-se mau - mas nós, os leigos em matéria de medicina, não nos poderíamos tornar nunca, por agir mal, nem médicos, nem carpinteiros, nem nada do género.
Aquele que não puder, agindo mal, tornar-se médico, é óbvio que também não poderá tornar-se um mau médico. Do mesmo modo, um homem de bem poderá, um dia, por causa da doença ou de qualquer outro azar - porque este agir mal não é mais do que ser desprovido de conhecimento - tornar-se mau, mas o homem mau nunca se tornará mau - é-o sempre!; mais, para poder vir a tornar-se mau, é preciso que antes se torne bom.


Diz Protágoras, no diálogo de Platão com o mesmo nome, traduzido por Ana Pinheiro para a Relógio d'Água, em 1999.

08 julho 2008

Gourmet

Recebi este prémio por um quiz feito pela Gi, sobre curiosidades de hábitos alimentares dos romanos.

05 julho 2008

fast food romana - à falta da ASAE...


O modo habitual dos romanos comuns obterem carne era através da compra de comida pré-cozinhada, de baixa qualidade e a baixo preço, a vendedores de rua ou em tascas e estalagens: artigos tais como morcela, paio ou salsichas.
Aparentemente os imperadores não apreciavam esta indústria de «refeições rápidas». Colocaram as estalagens sob vigilância e por vezes perseguiram-nas. Deram origem a medidas regulando a venda de carne cozinhada, de pastéis e inclusivamente (durante um período de luto público) de água quente.
Com que estavam os imperadores preocupados? O traço de puritanismo que vinha à superfície de tempos a tempos durante o período republicano teimava em persistir. As tascas estavam associadas aos jogos de azar, alguns dos quais eram proibidos, e à permissividade sexual, contra a qual os imperadores também legislaram. As inclinações classistas também podem ter sido um factor em jogo. Notamos igualmente que as estalagens eram o paradeiro ocasional de aristocratas renegados. Não é necessário acreditarmos que os imperadores estivessem preocupados com os riscos sanitários ocasionados pela carne contaminada.

Peter Garnsey, Alimentação e Sociedade na Antiguidade Clássica, Ed. Replicação, Sintra, 2002, pp.123-124

04 julho 2008

A idade do ouro

A primeira idade a surgir foi a de ouro. Sem justiceiro algum,
sem leis e de livre vontade, cultivava a lealdade e a rectidão.
Não havia castigos nem medo, nem palavras de ameaça (...)
e não havia trombeta direita, nem trompa curva de bronze,
nem capacetes, nem espadas. Sem precisão de soldados,
as gentes viviam numa ociosidade doce, livres de cuidados.
A própria terra, isenta de deveres, intocada
pela enxada,
ferida por nenhum arado, tudo dava espontaneamente. (...)
E, então, corriam rios de leite, então, rios de néctar,
e loiro mel
pingava do cimo da verdejante azinheira.

Ovídio, Metamorfoses, 89-112 (salteado). Tradução de Paulo Farmhouse Alberto para Livros Cotovia, Lisboa, 2007.

02 julho 2008

Cá para mim, a Morte é comunista...

Pilhas e mais pilhas. Encontro Eurípides e releio Alceste (tradução de Manuel de Oliveira Pulquério e Maria Alice Malça, Ed. Verbo, 1973). Tem partes mais trágicas e outras mais divertidas, mas sempre com a finura intelectual de Eurípides.
Vou deixando pedaços por aqui.

Chegou a hora de Admeto, rei de Feras, morrer, coisa que não lhe agrada. Cobra, então, do deus Apolo, uma velha dívida e este embriaga as deusas do destino para que estas aceitam que morra outra pessoa em sua vez (se alguém aceitar tal troca). Todos se negam: pai, mãe, amigos. Só a mulher, Alceste, o faz. Apolo, mais uma vez, tenta a sorte para salvar a esposa do rei, junto da Morte.

MORTE
Ah! Ah! Porque estás tu ao pé do palácio? Porque andas aqui à volta, Febo? De novo cometes injustiça, usurpando e abolindo as honras dos deuses infernais? Não te bastou impedir a morte de Admeto, enganando, com ardilosa habilidade, as Parcas? E ainda agora, com a mão armada de arco, proteges esta mulher, que prometeu libertar o marido, morrendo por ele, a filha de Pélias!

APOLO
Está tranquilo: observo a justiça e tenho boas razões.

MORTE
Então que necessidade tens de arcos, se defendes a justiça?

APOLO
Estou habituado a trazê-lo sempre comigo.

MORTE
E a vires injustamente em auxílio desta casa.

APOLO
Aflijo-me com as desgraças de um homem amigo.

MORTE
Vais despojar-me de um segundo cadáver?

APOLO
Mas o outro não to tirei pela força.

MORTE
Então como está ele sobre a terra e não debaixo dela?

APOLO
Em troca dei-te a esposa que tu agora vens buscar.

MORTE
E que vou levar para os Infernos, para debaixo da terra.

APOLO
Toma-a e vai. Não sei se serei capaz de te persuadir.

MORTE
A matar o que me pertence? É a minha função.

APOLO
Não, mas a conceder um adiamento aos que estão para morrer.

MORTE
Compreendo agora o teu pensamento e o teu desejo.

APOLO
Há então maneira de Alceste chegar à velhice?

MORTE
Não; pensa que também eu me regozijo com as honras.

APOLO
De qualquer modo não vais levar mais do que uma vida.

MORTE
Quando os homens são jovens é maior a honra que eu granjeio.

APOLO
Mas, se morrer velha, será sepultada ricamente.

MORTE
A lei que estás a promulgar, ó Febo, é a favor dos ricos.

APOLO
Como dizes? Serás acaso sofista sem que se saiba?

MORTE
Comprariam a morte na velhice, aqueles que podem.

APOLO
Não estás então decidida a conceder-me este benefício?

MORTE
Certamente que não; já conheces o meu carácter.

APOLO
Sim: odioso aos mortais e detestado pelos deuses.

MORTE
Não poderás ter tudo aquilo que não deves.

Atenção: quem não quiser saber o fim não leia daqui para a frente.
Quase no final, Hércules (Héracles, em Grego) diz-nos o que vai fazer para recuperar Alceste e devolvê-la ao marido:

HÉRACLES
(...) Irei espiar a Morte, a senhora dos mortos de negro manto, e hei-de encontrá-la, penso eu, junto do túmulo a beber o sangue das vítimas. E se eu me precipitar do meu lugar de emboscada e a apanhar, envolvê-la-ei com os meus braços e não haverá ninguém capaz de libertar os seus flancos doridos antes que me seja entregue a mulher. Mas se falhar esta presa, se ela não se aproximar da oferenda sangrenta, descerei aos Infernos, às sombrias moradas de Core e do Senhor, e farei a minha súplica. (...)

Quando a leva, finalmente, à presença de Admeto, não lhe diz que aquela mulher velada é a sua esposa e, indirectamente, conta-nos que foi a primeira hipótese que sucedeu, isto é, que foi mesmo andando à pancada com a Morte que recuperou Alceste:

HÉRACLES
(...) Chegou às minhas mãos à custa de muita fadiga. Encontrei uns homens que organizavam uns jogos públicos, digno objecto do esforço dos atletas, e destes jogos a trouxe, como prémio da vitória. Os vencedores das provas ligeiras ganhavam cavalos e os vencedores das provas mais pesadas, pugilato e luta, rebanhos de bois; para estes últimos havia o prémio suplementar de uma mulher. Ora, como eu me encontrava ali, seria desonra abandonar esta presa gloriosa. Portanto, como te disse, é a ti que confio esta mulher, que não roubei. Trago-ta, depois de a ter ganho com o meu esforço.


01 julho 2008

«o amor vive na ponta dos cabelos»


PLUMAS


Através da terra o amor
torna-nos estranhos à terra
liga-nos a uma divina linhagem
com seu tormento inapagável
suas velocidades enormes

O amor vive na ponta dos cabelos

O amor, ditam os frios de coração, é ruinoso
qualquer momento em chamas denunciará a imprecisa inquietação que nos toma

Os inocentes que se amam dizem
teu corpo está a nevar
tua alma é uma flor
um prado tranquilo sua noite

Os inocentes que se amam
por seu tormento elevam-se
como plumas
num chapéu de passeio

José Tolentino de Mendonça, A Estrada Branca, Assírio & Alvim, 2005

No alto de uma pilha, reconheço algumas capas da Assírio. Pego num dos livros, lombada fina.
José Tolentino de Mendonça.
Não sei se é ser preconceituosa (glup), mas não deixo de me surpreender sempre que penso que este homem, que tão bem canta o amor, é padre!
Eu sei, eu sei. O amor de um sacerdote, sim... o amor de Cristo, pois... que até a Bíblia, claro... sim, e o Cântico dos Cânticos (que ele tão bem traduziu para esta mesma editora)...
Mas, que querem? Surpreende-me sempre.