26 novembro 2010

lançamento espacial

Roubado do José Bandeira:

Um livro 5 estrelas



 É já no próximo Sábado, dia 27, impaciente leitor, que vai ter lugar o lançamento de O Fio à Meada, uma colectânea de textos sobre o programa espacial russo (Russki Spasski Progriama), ou talvez de diálogos com personagens famosos, agora assim de repente não me lembro bem. Só sei que os cosmonautas, ou os autores, são dez; e que eu também vou lá dentro, provavelmente para ser sujeito a experiências sobre a capacidade de resistência dos corpos no espaço.

Cada membro da Assistência (reparou na inicial maiúscula?) terá direito a um lançamento contra os contistas presentes, entre os quais se inclui este seu criado. Os volumes que acertarem no alvo serão, naturalmente, assinados. Eu estarei disfarçado de Adriana Nogueira, professora de Estudos Clássicos na Universidade de Faro. A Adriana irá mascarada de marmanjo de barba grisalha e ar de quem não entende muito bem qual o seu lugar no Universo. Poderá desmascarar-me forçando-me a falar: não sei camuflar a minha voz de barítono. O Miguel Neto, editor, servirá guardanapos de papel para os croquetes que poderá adquirir no bar a um preço escandaloso.

Quase me esquecia de dizer que o lançamento do Sputn… perdão, do livro será às 17 horas, na FNAC do Vasco da Gama, em Lisboa. A organização deste evento obrigou ao término da Expo 98. Após as 18:30, o local passará a chamar-se “Parque das Nações” (achámos que era um nome com pintarola).

Apareça, vá lá. O que é que eu tenho de fazer? Hã?



25 novembro 2010

Da utilidade da música

Ao ler a minha amiga Marta García Morcillo no Facebook , sobre a música que se ouvia em Roma, lembrei-me de ir buscar à estante o CD de Christodoulos Halaris
do qual deixo um trecho, que descobri no youtube.

Recentemente, saiu em Portugal a tradução do tratado de Plutarco Sobre a Música (pode ser descarregado gratuitamente aqui, no sítio da excelente Classica Digitalia).
Aqui vai um pedacinho: 

40. E o nobre Homero ensinou que o uso da música é conveniente para o homem. Pois para demonstrar que
a música é útil em muitas ocasiões, apresentou Aquiles digerindo sua ira contra Agamémnon através da  música que aprendeu do sapientíssimo Quíron:

e encontraram-no deleitando seu espírito com a
[melodiosa fórminge,
bela obra de arte; em torno, argênteo jugo havia:
escolheu-a dentre os espólios depois de destruir a
[cidade de Eétion.
Com ela alegrava seu coração e cantava glórias de homens
[Ilíada, IX, 186-189]

“Aprende”, Homero está dizendo, “como se deve usar a música: pois era adequada a Aquiles, filho de Peleu, o justíssimo, cantar as glórias dos homens e os feitos dos semideuses.” Mais ainda, Homero, ensinando a ocasião mais apropriada do seu uso a quem está em ócio, mostrou que ela é um exercício útil e prazeroso. Pois Aquiles, apesar de ser guerreiro e homem de acção, por causa da sua ira que surgiu contra Agamémnon, não participava dos perigos da guerra. Homero, então, julgou ser apropriado o herói afiar sua alma com as mais belas melodias, para que ele estivesse preparado para sair para a batalha que ele, em breve, iria enfrentar. E ele fazia isso evidentemente lembrando-se dos antigos feitos. Tal era a música antiga e para isso era útil.
(...) Homero conta que os helenos acabaram com a peste que os assolava através da música, pois ele disse:

eles, o dia todo, apaziguavam o deus com um canto,
entoando um belo peã, os jovens aqueus,
lembrando o arqueiro longicerteiro: e ele, ouvindo, alegrava
seu coração.

esses versos, nobre mestre, uso como conclusão do meu discurso sobre a música. (...)  
43. Sotérico então foi admirado pelas palavras que foram ditas: e, de fato, ele mostrava no rosto e na voz o seu amor pela música. (...)
[Diz Onesícrates, o anfitrião do banquete onde se deu esta conversa]
Se ela é útil em algum lugar, é também acompanhando a bebida, como demonstrou o nobre Homero quando diz:
canto e dança: eis os adornos de um festim.

E que ninguém venha me dizer, por causa dessas palavras, que Homero pensava que a música é útil somente para o prazer, pois há um sentido mais profundo escondido nos seus versos. Para um benefício e uma ajuda as mais importantes em tais ocasiões ele escolheu a música. Refiro-me aos banquetes e às reuniões dos antigos. De facto, a música foi introduzida porque é capaz de repelir e acalmar o poder inflamatório do vinho, como o vosso Aristóxeno também diz em algum lugar. Ele disse que a música foi introduzida porque o vinho, por um lado, tem a natureza de derrubar os corpos e as mentes daqueles que o beberam em excesso, mas a música, por outro lado, com a sua medida, conduz à condição contrária e acalma. Nessa ocasião, portanto, Homero diz que os antigos usavam a música como uma ajuda.
44. Mas também o mais importante para vós, ó companheiros, e que mais ainda resta demonstrar é que a música é nobilíssima. Pois o engendramento dos seres e o movimento dos astros Pitágoras, Arquitas, Platão e outros filósofos antigos afirmavam nem surgir nem constituir-se sem música.

23 novembro 2010

Profissão perdida

Isto de ser classicista é muito bom, muito interessante, mas às vezes apetece fazer coisas diferentes e poder mostrar que ainda há muito a aprender com o mundo antigo.

Um tema que me tem interessado nos últimos anos e ao qual me tenho dedicado um pouco mais tem sido a recepção da antiguidade no mundo contemporâneo, principalmente nas expressões artísticas. Foi por isso que estive em Bristol num congresso chamado Imagines, muito bem organizado por Silke Knippschild, Marta García e Alberto Martí, onde pude assistir a excelentes comunicações sobre a recepção das clássicas principalmente na pintura e no cinema e pude conviver com alguma «bibliografia» que tinha em casa, como foi o caso de Martin Winkler.
Ao ver tantos especialistas em cinema juntos e quando tanto se fala da falta de rigor nas reconstituições históricas nesta arte, já me tinha interrogado se os realizadores não chamariam classicistas para lhes darem conselhos sobre o décor, por exemplo.
Bem, eles lá chamar, chamam.
O simpático e conversador Lloyd Llewellyn-Jones , classicista, especialista em história antiga (Pérsia) e vestuário na antiguidade, foi consultor («consultant for set and costumes») de Oliver Stone no filme Alexandre.
E depois?
Depois, aquilo que era realidade não interessava cinematograficamente ou os actores não gostavam daquela cor ou daquele corte de vestido...
E pronto. Quando Lloyd Llewellyn-Jones perguntou a Oliver Stone o porquê de não terem seguido as suas indicações, a resposta foi: «I'm sorry».
Se ser consultor de realizadores não pegou na América, já vejo que, por aí, não vou ter futuro no cinema em Portugal.