29 março 2007

Não sou...

... mas ainda posso vir a ser!
É bom vermos que temos perfil para muitas coisas!

Your Career Personality: Brainy, Logical, and Efficient

Your Ideal Careers:

Archeologist
Astronomer
Book editor
Business manager
Civil engineer
Designer
Economist
Inventor
Judge
Scientist

28 março 2007

Liberdade de expressão


Fiquei profundamente chocada com o post do Miguel Castel-Branco, do Combustões. Quatro ameaças de morte! Inadmissível!
Se algo conquistámos com a democracia foi a liberdade de expressão e o não sermos presos, torturados ou mortos pelas ideias que defendemos.
O Miguel é autor de um dos blogues mais interessantes. Apesar de não concordar com muito do que defende, aprecio a sua prosa clara, a coerência das suas ideias, o apuro da sua cultura e, acima de tudo, a sua liberdade, como afirma no blogue.
Sei que sabe defender-se, mas quero, ainda assim, manifestar aqui a minha solidariedade para com ele.

Intuitiva, eu?

You Are 44% Intuitive

Your intuition is often right, and you use it more than you may realize.
Your gut feelings are usually a good guide, but you need more to go on when making a decision.
You'll often check to see if the facts back up your feelings.
And when your intuition is wrong, you work to improve it for the future.

27 março 2007

Não tenham medo do particípio passado!

O postal com este nome está publicado na Taberna dos Inconformados, o blogue onde sirvo à mesa à terça-feira. Vão até lá e bebam um copo!

26 março 2007

Felizes os que acreditam...

Your Personality is Somewhat Rare (ISFP)

Your personality type is caring, peaceful, artistic, and calm.

Only about 7% of all people have your personality, including 8% of all women and 6% of all men
You are Introverted, Sensing, Feeling, and Perceiving.
(Fui buscar ao Miguel, que tem uma personalidade rara... ai que inveja!)

25 março 2007

A brevidade da vida...

A existência humana é um ponto, é menos de um ponto.
(...)
Por isso mesmo me causa indignação ver como as pessoas gastam em futilidades a maior parte de uma vida que, mesmo dispendida com a maior parcimónia, não seria bastante para as coisas essenciais.

24 março 2007

Diz Séneca... sobre o tempo

O tempo ilude quem se aplica ao momento presente, de tal modo é insensível a passagem do seu curso vertiginoso. Queres saber porquê? Porque todo o tempo passado se acumula num mesmo lugar; todo o passado é contemplado em bloco, forma uma totalidade; todo ele se precipita no mesmo abismo.

Cartas a Lucílio, 49.2-3.

21 março 2007

VER SACRUM

Evelyn De Morgan (1855-1919) - Flora, the Godess of Blossoms and Flowers (1880) De Morgan Foundation Collection
Neste início de Primavera, trago algumas histórias.
A Flora era uma força da natureza, venerada na península itálica e festejada no mês de Abril.
Ovídio terá inventado um mito em que o vento Zéfiro se teria apaixonado por ela e a teria raptado. Ao casarem, ele ofereceu-lhe o reino de todas flores.
Flora, por sua vez, dava aos homens o mel e as sementes das plantas.
Também Ovídio está na origem da versão do mito em que teria sido Flora a dar a Juno a semente com que esta se fecundou para dar à luz, sozinha, o deus Marte (de onde vem o nome deste mês de Março).

Marte também era uma antiga divindade itálica, posteriormente associada ao deus grego Ares. Mas é na sua ligação a este vetusto culto que ele personifica o novo ano (sendo Março o primeiro mês do calendário, já faz sentido que Setembro seja o sétimo mês e daí por diante, até Dezembro, o décimo...), celebrando-se em Março, na cidade de Roma, uma festa na qual um velho era fustigado com varas brancas e expulso da cidade, simbolizando o ano velho que devia partir para dar lugar ao novo.
Além de deus da guerra, é também o deus da Primavera (época em que recomeçavam as guerras interrompidas pelo Inverno) e da juventude (por a guerra ser actividade dos jovens).
E chamava-se Ver Sacrum (Primavera Sagrada) ao momento em que um grupo específico de jovens sabinos (que tinham sido consagrados a Marte) devia emigrar para encontrar novas colónias para povoar, guiados por um animal sagrado do deus, como seja o lobo.

(Imagem: Marte, de Diego Velasquez)

Fonte principal: Pierre Grimal, Dicionário de Mitologia Grega e Romana (1992), Lisboa, Difel.

20 março 2007

Postal publicado em simultâneo aqui e em A Taberna dos Inconformados.

Esta é a minha primeira rodada n' A Taberna dos Inconformados. Devido à pouca experiência a servir à mesa, poderei tropeçar e entornar algumas coisas, mas espero a vossa compreensão... É suposto comentar uma actualidade, coisa para mim algo difícil, pois como não tenho televisão, apenas sei o que a Antena 2 ou a Antena 1 me têm para dizer quando as sintonizo no carro, entre uma deslocação e outra. E com tão breve (e ocasional) informação, não é mesmo nada fácil.
Fui ao Público para ver se me inspirava! E, juntamente com uma notícia que ouvi esta tarde*, inspirei-me (uma pequenina inspiração, confesso...)!
Li: «Listas excedentes do Ministério da Agricultura prontas até sexta-feira». Listas excedentes? Quer dizer que o Ministério faz listas de qualquer coisa de que não precisa? Sempre me fez um pouco confusão esta forma de dar notícias...
Será que a preposição «de» entre «Listas» e «excedentes» («Listas de excedentes») ocuparia assim tanto espaço no título? Pela mesma lógica, então o título poderia ser: «Listas excedentes Ministério Agricultura prontas até sexta-feira»...
Também na Antena 1 ouvi (estou a dizer de cor, mas o que está a negrito é ipsis verbis): «Maria José Nogueira Pinto diz que Paulo Portas trouxe o PREC para o PP». Depois, passou a referida senhora a dizer: «O Dr. Paulo Portas trouxe o pior da nossa memória do PREC».
Trazer as piores memórias de uma coisa não é trazer a coisa. Até porque pode haver quem tenha boas memórias do PREC e a notícia não estaria a ser perfeitamente entendida (sendo esse o objectivo da cominicação, não é verdade? Entendermo-nos).
São coisas pequeninas, eu sei, mas são maus tratos da língua portuguesa por parte de quem tem responsabilidade de a acarinhar.
...................
E sai uma rodada por conta da casa!
E sai um Xarém!
(Pois é. Também é suposto contribuir com uma receita ou uma sugestão vinho)
Segue hoje uma receita.
Não moro (ainda) em Olhão, mas é uma das terras de que mais gosto no Algarve, onde vive gente «a sério», onde o turismo não deu (ainda) cabo de tudo, onde o mercado vende (ainda) o melhor peixe da Região.


Com um prato de xarém
E uma batatinha doce



Trago, então, para fazer jus à quadra popular, um dos pratos tradicionais do Algarve:
Xarém
Ingredientes:
1 kg de amêijoas
100 g de bacon
100 g de chouriço
150 g de presunto
1 dl de vinho bramco
150 g de farinha de milho
Sal e pimenta q.b.

Lave muito bem as amêijoas, de forma a retirar-lhes todas as impurezas que possam conter. Em seguida, coloque-as de molho em água salgada (de preferência em água do mar), durante 5 a 6 horas. Corte o bacon e o presunto em tiras finas e o chouriço em rodelas e frite-os em lume brando. Coza as amêijoas num tacho coberto de água, temperada de sal e pimenta, durante cerca de 10 minutos; escorra a água da cozedura e leve-a a um passador fino. Tire o miolo das amêijoas, coloque-as num tacho, junte o caldo da cozedura, adicione vinho e leve ao lume, deixando ferver um pouco. Retire do fogo e adicione a farinha, previamente peneirada. Leve novamente ao lume e deixe cozer, mexendo de vez em quando. Junte as carnes e sirva quente. Frequentemente o xarém (termo árabe que designa "papas de milho") é acompanhado por sardinhas assadas, torresmos e carne de porco.

in Olhão para o Cidadão.
* Comecei a escrever isto ontem à noite...

19 março 2007

Clair de Lune Théâtre

O meu amigo Paulo faz teatro de sombras chinesas.
Vive na Bélgica há muitos, muitos anos.
Andámos na escola juntos. Na altura ele era «Cenoura». Agora não tem cabelo. Mas continua com aquelas sardas que lhe dão um ar irreverente (o que conjuga bem com as suas gargalhadas características, mas contrasta com a tranquilidade que emanam)...
Uma memória muito forte de uma experiência que passei com ele é a que tenho do dia em que soubemos da morte de Sá Carneiro. Fomos os dois comprar muitos jornais para lermos as notícias de diferentes maneiras! Nem queríamos acreditar!

Lá em casa recebia-se gratuitamente (porque, desde o meu avô, que morreu em 1931, que a «família» era correspondente d') o Diário de Lisboa, que o sr. Feliz, o ardina, sempre vestido de azul e sacola a tiracolo ou ao ombro, punha debaixo da porta.

«Olh'ó Diário de Lisboa e Notícias! Rapazes, olh'ó dinheiro!»

As pessoas da minha idade (e mais velhas, claro!), lá do Bombarral, devem lembrar-se bem deste pregão...

Ora, dizia eu, naquele dia fui, pela primeira vez, comprar jornais. Fui com o Paulo e devorámos o que havia. Estávamos impressionados...
O Paulo tem agora este teatro de sombras. É muito bonito o que ele faz. Vão até ao Clair de Lune e espreitem...

18 março 2007

A minha nova capelinha...

«capelinha» vem do grego kapeleion, que significa pequena loja onde se vende e consome vinho. Isto é, uma taberna.
«percorrer todas as capelinhas» usa-se quando queremos dizer que se andou de bar em bar...
Bem, tudo isto porque fui convidada a fazer parte d' A Taberna dos Inconformados.
Assim, às terças-feiras poderão ver-me por lá a discorrer sobre alguma actualidade e provar uma delícia gastronómica que levarei da minha pólis...

17 março 2007

Notícias da Psicanálise

Correu muito bem o Colóquio!
O Anfiteatro estava cheio!
Os nomes sonantes que se deslocaram ao Algarve devem ter ajudado...
A verdade é que foi um dia muito preenchido, com os horários a serem cumpridos e as comunicações muito interessantes!
Parabéns à organização!

16 março 2007

Famafest

A Senhora Sócrates descobriu que está entre os nomeados para os Melhores Blogues de Cultura 2006, a entregar (porque já está decidido) no 1ºEncontro de Blogues de Cinema e Cultura (que se decorre em Famalicão neste fim-de-semana), incluído no Famafest (16 a 24 de Março). Só a nomeação honra-me! Muito obrigada!


Nomeados
Melhores Blogues de Cultura 2006



Nomeados
Melhores Blogues de Cinema 2006

(Agradeço ao Kontraste (quase) todos os links!)

Atenção!

Para os mais distraídos, a Psicanálise Hoje não é hoje... é amanhã...

15 março 2007

Psicanálise Hoje

(Lucien Freud, Large Interior, tirada daqui. Escolhida por ser um quadro do neto do dito cujo, pela composição... e por ser um mimo...)

Se estiverem por Faro no sábado, vão ao Colóquio «Psicanálise Hoje», realizado na Universidade do Algarve, no Campus de Gambelas, numa organização do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais.
Com início às 9.30, poderão ouvir personalidades como António Coimbra de Matos, Carlos Amaral Dias ou Emílio Salgueiro, entre outros.
Também será lançado o livro da Fenda, com a presença de Vasco Santos, editor e, também ele, psicanalista, Sigmund Freud: 150 anos depois.
E eu só lá estou porque a Catarina Rebelo Neves me arrastou para este «divã»...

14 março 2007

Amizade (1)

Que coisa é mais doce do que ter alguém com quem ouses falar de tudo como se fosse contigo próprio? [...]
A amizade encerra muitísimos bens. Para onde quer que te voltes, ela está à tua disposição, não está excluída de nenhum lugar, nunca é intempestiva, nunca molesta.[...]
E não me refiro agora à amizade vulgar e mediana, embora ela própria cause também prazer e proveito, mas falo da verdadeira e perfeita amizade. [...]
Com efeito, a amizade torna não só a prosperidade mais esplendorosa, como também, ao partilhar e comungar da adversidade, faz com que esta se torne mais leve.
Cícero, A Amizade, 1993, INIC, Lisboa. Tradução de Sebastião Tavares de Pinho.
Este postal foi inspirado neste, do Corta-Fitas...

12 março 2007

O Amor dos Outros

O Amor dos Outros
(foto roubada daqui. Aproveitem e leiam o texto da Ana Cristina Oliveira)

Fui no Sábado ver uma peça de teatro a Olhão. Encenada por Paulo Moreira e interpretada por João Evaristo, é um monólogo inspirado em textos do brasileiro Alexandre Ribondi.

O cartaz do espectáculo mostra um homem nu, o que nos remete para um tipo de história que nem todos irão ver. Ou irão enganados!

Porque a nudez aqui é a da alma... dos outros.

Veronete conta a descoberta do amor entre dois homens. Trabalhando como empregada doméstica na casa de um engenheiro, vai acompanhando a descoberta do amor entre este e o seu jardineiro. Ambos muito homens, ambos muito masculinos, bonitos... uma história muito bem contada, sem cair na vulgaridade ou na afirmação de uma qualquer sexualidade. Na verdade, a sexualidade das personagens contadas nem importa muito na história...

A sexualidade da contadora... essa tem a sua graça, pois é um travesti. Veronete chamava-se Jair e é uma mulher num corpo (que mantém) de homem. Mas gosta de se vestir de mulher e sente como tal. Aliás, o texto faz referências ao corpo da mulher como só uma se lembraria de o fazer...

A interpretação de João Evaristo é genial. Na sua modéstia, disse que tudo se devia ao Paulo Moreira: «Eu sou só o boneco. Isto é tudo ideia do Paulo».

Não querendo minorar o trabalho do encenador (antes pelo contrário: excelente!), estar uma hora em cena, interpretando um monólogo, falado com pronúncia brasileira (o que dificulta a improvisação quando há uma «branca») e não se tornando ridículo, interagindo com o público, do alto de uns tacões, ... é obra de grande actor!

Estou com vontade de voltar à Sociedade Recreativa Olhanense no próximo fim-de-semana, só para ver tudo outra vez!

11 março 2007

Anacreonte - Frag. 395

Prometi ao Miguel e agora, finalmente, cumpro!
Aqui vai um mimo, com cheiro a Alsbo Vanilla...

As minhas fontes já estão grisalhas
e a minha cabeça branca;
A fresca juventude já não está comigo,
Os meus dentes estão velhos
E já não me resta muito

tempo da doce vida ;
Por isso lamento-me com frequência,

receando o Tártaro: pois
as profundezas do Hades
são terríveis, e a descida para lá
é difícil; e também é certo que
quem desce não volta a subir.

10 março 2007

Construtores...

Diz ainda a Constituição de Zenão, que tem muito para nos ensinar:

[9] A tua magnificência que tome providências para que nenhum empreiteiro ou técnico deixe inacabada a obra começada, mas aquele que começou recebendo um pagamento seja forçado a cumprir o trabalho ou a pagar ao que está a construir o dano daquilo que aconteceu em consequência e todo o mal que advenha por causa de uma obra não acabada; se acontecer que o culpado é pobre, que seja açoitado e expulso da cidade.
[9a] Que não se proíba alguém do mesmo ofício de acabar o que foi começado por um outro, precisamente porque sabemos de que são capazes os empreiteiros e os técnicos contra os que querem construir a sua casa, que não se aplicam a acabar aquilo que eles próprios começaram nem concordam que outros terminem os seus trabalhos, mas levavam a causar um dano intolerável aos que construíam as suas casas.
[9b] Pois o que recusar terminar o que foi começado por outro por causa disto mesmo, isto é, que foi outro que começou, que também ele sofra uma pena semelhante àquele que abandonou a obra.

09 março 2007

Vistas para o mar...

Apesar dos Planos Directores Municipais, dos de Ordenamentos de Território, de regras para isto, regras para aquilo, o que mais se vê é o caos nas construções urbanas.

Será que esses conhecem a Constituição de Zenão (de seu nome original Tarassicodissa, foi Imperador romano do Oriente entre 474-491), aplicada a Constantinopla?
Diz o texto (grego, tradução minha):
Ordenamos que os que querem renovar as suas próprias casas de modo algum ultrapassem a forma anterior, de maneira a que os que estão a construir uma casa não tirem a luz nem a vista dos vizinhos, violando o que estava estabelecido há muito tempo.
[...]
Posto que se diz na minha constituição também que o que vai construir deve deixar doze pés entre a sua própria casa e a do vizinho, e ainda se acrescenta «mais ou menos», o que provoca justamente uma grande incerteza (e o que levanta dúvida não é apropriado para resolver ambiguidades), ordenamos claramente que entre cada casa haja doze pés, começando efectivamente do chão do edifício e continuando até ao limite mais alto.
Àquele que obedecer a isto, que daqui em diante lhe seja autorizado a erigir a sua casa até ao limite que desejar, e rasgar tanto janelas chamadas próprias para se debruçar, como janelas para dar luz segundo a legislação sagrada, quer queira construir uma casa nova, quer renovar uma antiga, quer reconstruir uma que tenha sido destruída pelo fogo.
De modo algum será permitido que tire do vizinho a vista de mar que este tem directa e não forçada de qualquer lado da casa, quer esteja de pé nos seus aposentos ou sentado, sem que tenha de se virar em si ao debruçar-se torcido e forçado para ver o mar.

08 março 2007

Dia Internacional da Mulher

Tinha pensado deixar este dia em branco...
Mas decidi que não, que iria dizer alguma coisa.
Não acho muita graça ao dia disto e daquilo, com toda a parafernárlia comercial que se segue, mas tal como se comemoram datas importantes da história nacional ou mundial, o dia em que 130 mulheres morreram queimadas numa fábrica em Nova Iorque, em 1850, por defenderem os seus direitos, parece-me justo que se celebre, para que a memória não esqueça.
«Que parvoíce as flores, que parvoíce os jantares só de mulheres! Não quero essa rosa!», tenho ouvido as minhas colegas dizerem neste dia. Por ser este dia, porque noutro qualquer não acahariam mal.
Mas a verdade é que somos umas privilegiadas.
Por muito tempo fui assim: só convivia com mulheres como eu, com liberdade, independência económica e intelectual (bem... talvez...), que também eu não via com bons olhos fazer parte de uma minoria que tem de ser lembrada para que os seus direitos não conquistados sejam postos em destaque, pelo menos uma vez por ano...
Mas uma vez pude conviver com outras mulheres. Mulheres muito diferentes de mim. Mulheres com salários mínimos, filhos, maridos possessivos e até agressivos. Este dia é o único em que podem almoçar ou, as mais ditosas, jantar ou mesmo ir a um bar com amigas. Só mulheres, claro, que com um homem eles não deixariam.
Não deixariam.
É o único dia em que alguns deles lhe dão uma flor, em que os colegas de trabalho lhe dão um mimo, em que todos lhes sorriem quando passam e as tratam um pouco melhor.
É triste, mas um dia hoje... outro amanhã... não podemos fazer muito por estas mulheres...
Direitos, já têm. Prática... não prevejo que aconteça tão cedo...
É também altura de lembrar aos nosso alunos e alunas, filhos e filhas, que só em 1977 o Código Civil mudou, permitindo às mulheres serem chefes de família. Carolina Beatriz Ângelo fundou, em 1911, a Associação de Propaganda Feminista, a primeira portuguesa a votar, dado que era viúva e a lei permitia que os chefes de família exercessem esse direito. E é de lembrar que, para impedir que isto voltasse a acontecer, em 1913, a Lei 3, 3/7/1913 passou a especificar «chefes de família do sexo masculino».
E é de lembrar que em 1949 proibiu-se a co-educação.
E é de lembrar que só depois de 1969 as mulheres casadas puderam passar a deslocar-se ao estrangeiro sem autorização do marido.
E é de lembrar que, se o marido matasse a mulher era punido com três meses de desterro fora da sua comarca, enquanto que a mulher que matasse o marido só teria esta pena se ele tivesse outra mulher a viver lá em casa («concubina teúda e manteúda pelo marido na casa conjugal»)!
Bem...
Acho que chega para lamentar que isto seja recordado apenas num dia por ano.
Que comece com um dia...

07 março 2007

A dor dos outros...

A dor dos outros, a dor dos que amamos, é terrível...
Não é catártica, se bem que nos purifique um pouco: começamos a olhar para a nossa vida e tomamos decisões (de que cedo nos esquecemos) de mudança de atitudes, de «carpe diem» e afins...
No final, continuamos com a nossa vidinha.
Sempre que alguém que amo está a sofrer, lembro-me de um conto do Yukio Mishima, «Patriotismo», penso. Faz parte de uma colectânea chamada Contos de Verão, acho. Falo de cor, porque é um dos livros que tenho encaixotados há anos...
Nesse conto, uma mulher assiste ao suicídio do marido, a pedido deste, e, enquanto ele enterra a lâmina no ventre, ela vê-o sofrer... mas não sente a dor.
Ai! As dores são individuais!
E isso dói-me.
Mas a nossa dor, a dor que sentimos pelo sofrimento dos que amamos não é a dor que eles sofrem.
Seria bom podermos hieraquizar o sofrimento: não vou sofrer agora pela minha perna que parti, porque alguém que amo está com um cancro.
Não posso. Sofro com a minha perna partida e, nos intervalos do meu egoismo, sofro com a dor do outro.
«Não se desperdiça comida, porque há quem passe fome», dizia o meu Pai.
Não percebia a ligação entre as coisas... aliás, até quanto mais comida eu deixasse, mais gente a podia comer...
Mas não. Como posso, moralmente, desperdiçar comida, não valorizar o que tenho, quando há quem não tenha e precise?
É como a dor dos que amamos: quando a deles é maior, de facto, a nossa perna partida torna-se um problema menor, porque se cura e vamos poder voltar a andar. E eles... quem sabe quanto mais vão poder viver? Rio-me da minha perna partida e valorizo o outro. Mas, no fundo, sei que estou limitada a ficar a ler dores que não sinto...

E os que lêem o que escreve
Na dor lida sentem bem
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

Fernando Pessoa, «Autopsicografia»

06 março 2007

Delícias...

Recebi hoje um livrinho delicioso:
Prosodie Latine ou Méthode pour apprendre les principes de la quantité et de la versification latines; par Le Chevalier.

Esta edição, de 1855, é uma nova e foi revista e aumentada por L. Dumas, «professeur au Lycée de Montpellier».

Mas a graça está mais no anterior dono do livro...
Diz-me a minha amiga Petra, que deve ter comprado o livro em Berlim, numa cartinha que acompanhava esta prendinha:
«You once told me you like books that had an interesting previous owner who left his mark by note in the margin or on the fly-leaf».
E é assim que me envia este livrinho de 82 páginas, que pertenceu a Louis Montand, datado de «15 février 1882»...
125 anos depois veio ter à minha mão...
Mas qual é a graça?
As notas de M. Montand!
O livro intercala uma página escrita com outra em branco, permitindo assim que se anotem impressões.
O que fez o senhor Montand? Escreveu, em rimas, as regras gramaticais que ia lendo na página impressa!
Uma delícia!

Deixo dois exemplos:
Diz a regra que os supinos em -utum, que têm mais de duas sílabas, tornam a penúltima longa, tal como os particípios que daí se formaram, como indutum, indutus, tributum, tributus, etc.

Delícia (com uma belíssima letra):

Utum au supin long sera
Plus de deux syllabes s'il a

Diz a regra que -us é breve no final das palavras, como unus, facinus, etc. Exceptuam-se os nomes da quarta declinação no nomitativo e genitivo singular, e no nominativo e acusativo do plural, como fructus, domus.

Delícia:

Us sera bref: mais pour les noms
ceux qui retiennent u sont longs
De fructus bref les quatre cas
avec tripus, long tu feras.

Irregularidade...

Estou mesmo com dificuldades em actualizar o blogue...
Mais uma vez, obrigada pela paciência...