28 janeiro 2008

Auriga (à descoberta - III)

O pulso fino a concisa mão divina dizem
O pensamento rápido e subtil como Athena
E a vontade sensível e serena:

A ti mesmo te guias como a teus cavalos

26 janeiro 2008

25 janeiro 2008

O Auriga

A nudez dos pés que o escultor modelou com amor e minúcia
Mostra a pura nudez do teu estar na terra.
A longa túnica em seu recto cair diz o austero
Aprumo de prumo da tua juventude
O pulso fino a concisa mão divina dizem
O pensamento rápido e subtil como Athena
E a vontade sensível e serena:
A ti mesmo te guias como a teus cavalos

Os beiços de seiva inchados como fruto
Dizem o teu amor da vida extasiado e grave
E sob as pestanas de bronze nos olhos de esmalte e de ónix
Fita-nos a tua paixão tranquila
O teu projecto
De em ti mesmo celebrares a ordem natural do divino
O número imanente.


Sophia de Mello Breyner Andresen

17 janeiro 2008

O que os deuses deram aos homens

Primeiro, levantando-nos do chão, fizeram-nos altos e erectos, para que pudéssemos, ao olhar o céu, tomar conhecimento dos deuses.

(www.hellenic-art.com/statues/ephibosantik.jpg)


Os homens não são meros residentes e habitantes da Terra, são sim como que quase os espectadores das regiões de cima e das coisas celestes (...).

(http://www.livius.org/ei-er/emperors/philippus_arabs.jpg)

Os sentidos, interpretes e mensageiros das coisas, foram criados e colocados na cabeça, como se de uma cidadela se tratasse, para assim cumprirem as funções que sejam necessárias.



( http://www.bluffton.edu/~sullivanm/italy/rome/capitolinemuseumone/constantinebronze.html)

Os olhos, na qualidade de observadores, ocupam o lugar mais elevado, para assim poderem ver mais coisas e melhor cumprirem a sua função.


(http://www.bluffton.edu/~sullivanm/italy/rome/capitolinemuseumone/constantinebronze.html)

Os ouvidos, cuja função é captar o som, foram não sem razão colocados na parte mais alta do corpo, pois a natureza leva o som sempre para cima.


O nariz, por seu turno, posto que também o cheiro vem sempre para cima, foi correctamente posto numa parte superior do corpo (...).

(Greek Statue, Metropolitan Museum of Art, New York City)

Já o paladar, cuja função é sentir aquilo que comemos, está naquela parte da boca onde a natureza abriu um caminho para a comida e bebida.

O tacto, por seu turno, está distribuído uniformemente por todo o corpo.

Cícero, Da Natureza dos Deuses, Vega, 2004. Tradução de Pedro Braga Falcão.

14 janeiro 2008

Hesíodo aconselha:

Não urines de pé, virado de frente para o sol:
desde que se ponha, recorda-o, e até que surja
não deves urinar na via ou ao lado dela, ao caminhar,
nem se estiveres nu. As noites pertencem aos Bem-Aventurados.
Sentado o faz um homem piedoso, que conhece a prudência,
ou enconstado a um muro de um pátio recolhido.
[Foi aqui que eles aprenderam...]
(...)
Nunca urines na foz dos rios que deslizam para o mar,
nem nas fontes deves urinar, mas de todo evitar tal coisa;
nem deves defecar nunca; tal não é vantajoso para ti.
[isto não aprenderam, pelo que se depreende pelas descargas de esgotos...]

Hesíodo, Trabalhos e Dias, INCM, Lisboa, 2005. Tradução de José Ribeiro Ferreira.

10 janeiro 2008

«Floripes ou a morte de um mito»


(imagem daqui)


Fui ao cinema ver o filme de Miguel Gonçalves Mendes, «Floripes ou a morte de um mito».
Que delícia! Misturando o documentário com a ficção, se alguma dúvida houvesse, o filme mostra-nos um Olhão mouro e encantado, em que o entoar dos pescadores (que percebemos mais tarde que é disso que se trata) se confunde com o do muezim (ou almuadem), conclamando-nos para quelas ruelas moçárabes, para orarmos ao Senhor dos Aflitos...
O humor do documentário proporciona umas boas gargalhadas, a ingenuidade da ficção enternurece-nos.
Não percam! No Fórum Algarve, às 18.20 e às 21h. Desconfio que será a última semana em cartaz...

(Veja um pouco do filme aqui)

08 janeiro 2008

Evolução semântica

A evolução semântica de algumas palavras do grego clássico para o moderno é muito interessante.
Vejamos παιδευω, que significava educar, e hoje significa, para além de educar e instruir, atormentar, incomodar, aborrecer.
Porque será?

02 janeiro 2008

O segundo dia do ano

O meu pai tinha coisas tão engraçadas!
Hoje era o dia em que me levava pela mão à estação de comboios para vermos passar o homem que tinha tantos olhos quantos dias tinha o ano...
E eu, de memória curta, lá ia, entusiasmada tentar ver essa proeza.
Mais tarde, acompanhei-o nessa aventura, levando os meu sobrinhos pela mão.
O meu pai tinha coisas tão engraçadas!

(publicado também na Taberna)