26 abril 2010

sobre a amizade

A Natya pediu-me parte da carta 3 (Cartas a Lucílio, de Séneca. Uso a tradução de J. A. Segurado Campos, da Gulbenkian) e ela aqui vai:

Dizes-me que entregaste a carta a um amigo teu, para me trazer, mas em seguida aconselhas-me a não trocar impressões com ele sobre quanto te diz respeito, pois nem tu próprio o costumas fazer. Quer dizer, na mesma carta deste-lhe e recusaste-lhe o título de "amigo".
Ora bem: se tu usaste esta palavra não no seu verdadeiro sentido mas antes em sentido genérico, e lhe chamaste "amigo" tal como a todos os candidatos nós chamamos "respeitáveis cidadãos", ou como às pessoas que encontramos e cujo nome não nos ocorre, cumprimentamos como "senhor fulano" ainda é aceitável; se consideras, porém, "amigo" alguém em quem não confias tanto como em ti próprio, então cometes um erro grave e mostras não conhecer bem o significado da verdadeira amizade.
Delibera em comum com o teu amigo mas começa por formular sobre ele um juízo correcto: após o início da amizade, há que ter confiança. Antes, sim, é que se deve ajuizar. Confundem as obrigações inerentes a este princípio aqueles que, ao contrário dos ensinamentos de Teofrasto, formulam juízos depois de iniciada a amizade, e não estabelecem relações de amizade depois de formularem juízos. Pensa longamente se alguém é digno de que o incluas no número dos teus amigos; quando decidires incluí-lo, então recebe-o de coração aberto e fala com ele com tanto à vontade como contigo próprio.

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