do qual deixo um trecho, que descobri no youtube.
Recentemente, saiu em Portugal a tradução do tratado de Plutarco
Sobre a Música (pode ser descarregado gratuitamente aqui, no sítio da excelente
Classica Digitalia).
Aqui vai um pedacinho:
40. E o nobre Homero ensinou que o uso da música é conveniente para o homem. Pois para demonstrar que
a música é útil em muitas ocasiões, apresentou Aquiles digerindo sua ira contra Agamémnon através da música que aprendeu do sapientíssimo Quíron:
e encontraram-no deleitando seu espírito com a
[melodiosa fórminge,
bela obra de arte; em torno, argênteo jugo havia:
escolheu-a dentre os espólios depois de destruir a
[cidade de Eétion.
Com ela alegrava seu coração e cantava glórias de homens [Ilíada, IX, 186-189]
“Aprende”, Homero está dizendo, “como se deve usar a música: pois era adequada a Aquiles, filho de Peleu, o justíssimo, cantar as glórias dos homens e os feitos dos semideuses.” Mais ainda, Homero, ensinando a ocasião mais apropriada do seu uso a quem está em ócio, mostrou que ela é um exercício útil e prazeroso. Pois Aquiles, apesar de ser guerreiro e homem de acção, por causa da sua ira que surgiu contra Agamémnon, não participava dos perigos da guerra. Homero, então, julgou ser apropriado o herói afiar sua alma com as mais belas melodias, para que ele estivesse preparado para sair para a batalha que ele, em breve, iria enfrentar. E ele fazia isso evidentemente lembrando-se dos antigos feitos. Tal era a música antiga e para isso era útil.
(...) Homero conta que os helenos acabaram com a peste que os assolava através da música, pois ele disse:
eles, o dia todo, apaziguavam o deus com um canto,
entoando um belo peã, os jovens aqueus,
lembrando o arqueiro longicerteiro: e ele, ouvindo, alegrava
seu coração.
esses versos, nobre mestre, uso como conclusão do meu discurso sobre a música. (...)
43. Sotérico então foi admirado pelas palavras que foram ditas: e, de fato, ele mostrava no rosto e na voz o seu amor pela música. (...)
[Diz Onesícrates, o anfitrião do banquete onde se deu esta conversa]
Se ela é útil em algum lugar, é também acompanhando a bebida, como demonstrou o nobre Homero quando diz:
canto e dança: eis os adornos de um festim.
E que ninguém venha me dizer, por causa dessas palavras, que Homero pensava que a música é útil somente para o prazer, pois há um sentido mais profundo escondido nos seus versos. Para um benefício e uma ajuda as mais importantes em tais ocasiões ele escolheu a música. Refiro-me aos banquetes e às reuniões dos antigos. De facto, a música foi introduzida porque é capaz de repelir e acalmar o poder inflamatório do vinho, como o vosso Aristóxeno também diz em algum lugar. Ele disse que a música foi introduzida porque o vinho, por um lado, tem a natureza de derrubar os corpos e as mentes daqueles que o beberam em excesso, mas a música, por outro lado, com a sua medida, conduz à condição contrária e acalma. Nessa ocasião, portanto, Homero diz que os antigos usavam a música como uma ajuda.
44. Mas também o mais importante para vós, ó companheiros, e que mais ainda resta demonstrar é que a música é nobilíssima. Pois o engendramento dos seres e o movimento dos astros Pitágoras, Arquitas, Platão e outros filósofos antigos afirmavam nem surgir nem constituir-se sem música.