Isto é, oiço o que me dizem mas compreendo mal. Deve haver uns circuitos na linha interpretativa que me fazem não perceber o óbvio.
Esta minha incapacidade (aqui não é mania, é mesmo uma incapacidade), quando não detecto a tempo que está a acontecer, leva a alguns diálogos absurdos. Felizmente consigo disfarçar na maioria das vezes.
A razão é sempre a fonética. As regras da nossa língua fazem com que, por exemplo, um 's' em final de palavra quando junto a uma vogal que inicia outra palavra soe como 'z'. O exemplo que se dava na faculdade era o das «janelazamarelas». Como não sei usar aqui o alfabeto fonético, vou ligar as palavras, tal como as ouço, para mostrar como funciona:
Ela - Arranjei-te «umachpinhas» para comeres. Eu - Umas espinhas?
Ela - Sim, «umachpinhas». Não gostas?
Eu - De espinhas?
Ela - LOL. Não. Sopinhas!
Eu - Ahhhh!
Ele - Tens aí «umapinha»?
Eu - Uma pinha?
Ele - Sim. «Umapinha».
Eu - E para que queres tu uma pinha?
Ele - Para ver qual o melhor caminho para chegarmos lá.
Eu - Ahhhh! Um mapinha!
Ele - E não foi o que eu disse?
Isto vem de longe, muito longe.
Nos meus tempos de escuteira, adolescente, fomos a um festival da canção escutista e concorremos com uma letra escrita pelo nosso chefe da altura, um digníssimo bloguista que visita este espaço (não sei se quer que o identifique). Uma das palavras que ele lá pôs intrigou-me: «praicidade». Ele há tantas palavras terminadas assim: a unicidade, a duplicidade, a simplicidade... o que seria praicidade?
Só quando vi escrito percebi. Dizia a frase «para isso idade».Recuando mais, criança pequena, quando me benzia «pelo sinal da santa cruz...», ficava intrigada, pois bem me esforçava para encontrar nas cruzes que via onde estava o pêlo e o sinal, como aqueles que algumas velhas tinham na cara.
Cataloguei isto como o faz o Bagaço Amarelo no seu blogue: coisas tão estúpidas que até tenho vergonha.