Praxágora: Bem, que nenhum de vocês me contradiga nem interrompa, antes de conhecer o meu projecto e de ouvir os meus argumentos.
Quero dizer-vos que é preciso que todos entreguem os seus bens para um fundo comum, para onde cada um contribua com a sua parte e de onde retire a subsistência. Não mais há-de haver ricos e pobres; nem uns a cultivarem propriedades enormes, e outros sem terem onde cair mortos; nem uns a terem ao serviço batalhões de escravos, e outros nem sequer um criado. O que eu quero estabelecer é um padrão único de vida em comum, igual para todos.
Bléfiro: Comum a todos... como?
Praxágora: Já a formiga tem catarro!
Bléfiro: Catarro?! Também vamos pô-lo em comum?
Praxágora: Nada disso! Levas o tempo a interromper-me. Ora dizia eu que a terra, antes de mais, vou torná-la um bem comum a todos; e também o dinheiro; e tudo que é propriedade privada. É deste fundo comunitário que nós, mulheres, vos vamos sustentar. É a nós que compete administrá-los com economia e bom-senso.
Bléfiro: E quem não for proprietário de terras, mas possuir dinheiro e ouro, bens que se não vêem?
Praxágora: Tem de os pôr no monte.
Bléfiro: E se não puser?
Praxágora: Incorre em perjúrio.
Bléfiro: Ora, ora! Já foi assim que eles os ganharam!
Praxágora: Mas seja como for, também não lhes servem para nada.
Bléfiro: Como assim?
Praxágora: Por necessidade, ninguém mais precisa de se mexer. Toda a gente vai ter tudo: pão peixe, bolos, casacos, vinho, coroas, grão-de-bico. Qual a vantagem de se não entregar os bens? Ora diz lá, se fores capaz!
Bléfiro: O certo é que, hoje em dia, são aqueles a quem não falta nada, os que mais roubam.
Cremes: Isso era dantes, meu amigo, quando vivíamos no tempo da outra senhora! Mas com agora - com a tal história do fundo comum - , que é que se ganha em não entregar?
Aristófanes, As Mulheres no Parlamento, JNICT, Coimbra, 1996. Tradução de Maria de Fátima Silva.
Bléfiro: E quem não for proprietário de terras, mas possuir dinheiro e ouro, bens que se não vêem?
Praxágora: Tem de os pôr no monte.
Bléfiro: E se não puser?
Praxágora: Incorre em perjúrio.
Bléfiro: Ora, ora! Já foi assim que eles os ganharam!
Praxágora: Mas seja como for, também não lhes servem para nada.
Bléfiro: Como assim?
Praxágora: Por necessidade, ninguém mais precisa de se mexer. Toda a gente vai ter tudo: pão peixe, bolos, casacos, vinho, coroas, grão-de-bico. Qual a vantagem de se não entregar os bens? Ora diz lá, se fores capaz!
Bléfiro: O certo é que, hoje em dia, são aqueles a quem não falta nada, os que mais roubam.
Cremes: Isso era dantes, meu amigo, quando vivíamos no tempo da outra senhora! Mas com agora - com a tal história do fundo comum - , que é que se ganha em não entregar?
Aristófanes, As Mulheres no Parlamento, JNICT, Coimbra, 1996. Tradução de Maria de Fátima Silva.