10 julho 2007

Dafne e Apolo

(óleo sobre tela de Rosário Andrade. Aqui e aqui)

Febo está apaixonado. Ao ver Dafne, quer unir-se a ela. (…)
ela afasta-se, mais célere do que a leve brisa,
E não se detém às palavras do deus, que a chama : «Ninfa, rogo-te,
filha de Peneu, espera! Não te sigo como inimigo, espera, ninfa! (…)»
Febo vai falando, enquanto a filha de Peneu, assustada,
prossegue a sua corrida e o deixa a falar sozinho.
E ainda então lhe parecia bela. O vento desnudava-lhe o corpo (…)
Uma leve brisa repuxava-lhe os cabelos para as costas. (…)
O perseguidor, levado pelas asas do amor, é mais rápido, recusa o cansaço,
está já sobre a fugitiva, aspira-lhe o cabelo caído pelas costas.
Consumidas as forças, ela empalidece. Vencida pela canseira
de tão veloz fuga, olhando as águas do Peneu, grita: «Pai! Socorro!
Se é que vós, os rios, tendes algum poder divino, destrói
e transforma esta aparência pela qual agradei tanto.»
Mal havia acabado a prece, invade-lhe os membros pesado torpor,
seu elegante seio é envolvido numa fina casca, cresce-lhe a ramagem
no lugar dos cabelos e ramos no lugar dos braços. (…)
E Febo ainda a ama. Pousando-lhe no tronco a mão,
sente ainda o palpitar do coração sob a nova casca. (…)
Diz-lhe o deus: «Já que não podes ser minha mulher,
serás certamente a minha árvore. Estarás sempre, loureiro,
na minha cabeleira, na minha cítara e na minha aljava.
Acompanharás os generais do Lácio, quando alegres vozes entoarem
cantos de triunfo e o Capitólio vir à sua frente os longos cortejos (…).
Como a minha cabeça, de cabelos intonsos, mantém a juventude,
mantém tu também a glória de uma folhagem permanente.»


Ovídio, Metamorfoses, Livro I, 491-565. Tradução de Domingos Lucas Dias para a Vega, em 2006.

3 comentários:

SOBE E DESCE disse...

C�us!... Estou a ver que � essa a raz�o porque o louro torna os cozinhados t�o saborosos e faz t�o mal ao figado.
Dafne vingou-se.

Anónimo disse...

Faz mal ao fígado? Ainda não dei por isso.

Mas é sempre comovente este pedido de Dafne.

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Boa questão essa...se faz mal ou não...
bom, não não me vou meter a investigar isso, que não saia disso durante semanas ou meses até saber...algo mais...
Pelo sim pelo não, a nossa sabedoria popular diz que se deve tirar a nervura da folha. Sabiam? Não deitar a folha inteira, mas sim quebrando-a ao meio, e não usando a parte central.
Cumprimentos