23 janeiro 2009

O meu Padre

Quando eu era criança, raros eram as que não andavam na catequese ou não escolhiam a disciplina de Moral e Religião.

Em relação a esta última, esperávamos ansiosamente chegar ao 8º ano para sermos alunos do Padre Guerra (P.e Fernando Guerra Ferreira, que já referi neste outro post). Ali líamos livros que nos faziam pensar em realidades até então completamente desconhecidas. Lembro-me do Perguntem à Alice ou de Viagem ao Mundo da Droga. Naquelas aulas discutíamos todos os assuntos de que os jovens de 13, 14 e 15 anos gostam, sem preconceitos.

O Padre Guerra marcou, definitivamente, a nossa geração. Até teve a ousadia de abrir os escuteiros às raparigas! Até então, no agrupamento da minha terra só havia Akelás, as que tomavam conta dos Lobitos, mas ele fez com que se constituísse uma primeira patrulha feminina (da qual fiz parte).
A mim, marcou também a minha carreira profissional. Quando tinha de escrever algum conceito relativo à antiguidade clássica, usava caracteres gregos, o que me deliciava. Como eu gostava muito de história daquela época, a aprendizagem das línguas antigas foi a consequência natural.

Costumo referir-me a ele como «O meu Padre» (começo a perceber uma atracção pelo possessivo nos meus - outra vez! - escritos), pois foi dos educadores que mais me marcou na adolescência e que me fez sentir parte daquilo que, então, explicou que era a Igreja.

Mas a Igreja não era bem como ele dizia eu segui outro rumo, mas isso são outros quinhentos.

14 comentários:

Anónimo disse...

São essas pessoas que nos marcam e que nos ajudam a tomar o rumo na nossa vida. É pena os padres ainda hoje fugirem mt a dar uma educação religiosa que nos prepare para o mundo. Tb tive no secundário Religião e Moral, onde tb discutiamos coisas tipo o aborto, a reencarnação, mas claro, o padre sempre com as suas ideologias de igreja. Mas tb me ajudou a ver as coisas de certa maneira.
Um bj
Ana Paula

spring disse...

Olá Xantipa
Os professores que conhecemos ao longo da vida, muitas vezes marcaram a nossa forma de olhar o mundo. E acho curioso o teu caso, por se tratar de um professor de "moral e religião", que me fez recordar um professor que tive nessa mesma diciplina, no segundo ano do primeiro ciclo, chamado Ruivinho Brazão. As suas aulas eram uma verdadeira festa e por ali aprendemos a debater assuntos, a escrever, contos e poesia e criámos um jornal mural, onde eram colados os nossos artigos sobre musica, filmes, futebol. O mais interessante é que isto tudo se passou em inícios de setenta.
Beijinhos
Rui Luís LIma

António Conceição disse...

Fiquei com uma impressão horrível (e, evidentemente, injusta) do "seu" padre.
A mais miserável recordação que guardo da adolescência são os escuteiros e a discussão dos problemas da droga nos grupos paroquiais. Um jovem parvinho, dizendo aquilo que o padre modernaço queria que ele dissesse, dizia como se fosse um grande pensamento próprio:
- Eu cá acho que nós não devemos desprezar os drogados, porque eles não são maus. Eles precisam da nossa ajuda e de descobrir que a droga é uma coisa má e que os jovens, podem ser felizes sem a droga. Assim como nós aqui no grupo paroquial.
Depois, alguém sacava de uma viola e todos cantavam em coro: «canta, canta, amigo canta, vem cantar esta canção, tudo sozinho não és nada, juntos temos o mundo na mão.»
A seguir, iam todos para casa muito felizes, porque tinham sido bons e ajudado os outros.
Nunca gostei de padres modernaços. E simpatizo imenso com padres conservadores e reaccionários.

Xantipa disse...

Cara Ana Paula,
É bem verdade! Quer sigamos aquele ou outro rumo, ficamos a conhecer as barreiras.
Um beijinho

Caro Rui,
É curioso, porque há aqui um professor de uma escola do Algarve que também se chama Ruivinho Brazão (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Ruivinho_Braz%C3%A3o).
Tive alguns professores que marcaram o meu percurso de uma forma clara. O padre Guerra fê-lo numa fase da minha vida.
Beijinhos

Caro Funes,

Pois iria surpreender-se com este meu padre e ficar com uma justa boa impressão.
Aquilo a que me parece que chama modernaço não se aplica, de todo, ao padre Guerra. Sendo um homem moderno, era rigoroso e com a dose de conservadorismo necessária para não confundir a sua posição de padre católico com outras coisas, como faziam, na altura, outros padres, esses sim modernaços, que esqueciam o papel que tinham assumido (papel, votos, etc.).
:)
Um abraço

Anónimo disse...

É curioso que eu também tenha tido um padre excepcional (gratamente lembro-me em particular da sua tranquilidade perante a nossa fogosidade, mas não me recordo do seu nome) naquela disciplina... e no liceu Camões (estamos a falar em antes do 25 de Abril)!
Será que há motivos para suspeitar que não terá sido um acaso porem padres capazes de dialogar com os jovens nas escolas, mesmo nas mais conservadoras?

Joaquim Moedas Duarte disse...

Olá, Xantipa!

Conheci o P. Guerra, quando ele esteve uns anos em Runa - freguesia de T. Vedras. Não sou crente, sou anti-clerical ( no sentido que lhe dá o Padre Mario de Oliveira, o célebre padre da Lixa), tive e tenho amigos padres. Numa fase especial da minha vida o P. Guerra foi uma presença serena que me deixou boas recordações.
Obrigado por estas partilhas...

Beijinho

claras manhãs disse...

Com a tua idade, Tive o Padre Alberto
Com ele discutimos (não havia ainda droga) o caso de Liége (se não me engano era esta a terra francesa onde se passou)
Uma mãe teve um filho, que era quase um monstro (talodamina)sem nenhum membro com o rosto distorcido e com profundo atraso mental.
Matou-o. A sua defesa, que o tinha feito por amor.
Foi julgada e absolvida.
A Igreja atirou-se ao ar.
As discussões não paravam.
Sei que na altura defendi a mãe com unhas e dentes.
Hoje....percebo as suas razões, percebo-as tão bem, mas acho que nunca teria tido coragem para o fazer.

beijinho

Lúcio Ferro disse...

A Xantipa e os padres... Ai meu deus...

carneiro disse...

Todos temos (pelo menos) um padre tenebroso no nosso passado. Alguns mais que um...
Os padres da nossa vida são como o tabaco: Só quando deixamos de fumar é que percebemos...

Quanto ao facto histórico, não foi bem assim. Mas também é normal que alguns padres fiquem com os louros do trabalho doutros...mas isso são outros seiscentos.

Mas tenho muitas saudades de ti naquela época...

Anónimo disse...

o padre de Óbidos chamava-se Venâncio, foi sempre uma seca a missa com ele salvo quando jogava o benfica - não havia missa.
A semana passada, enquanto tomava um café num daqueles sítios que têm sempre a tv ligada, passava um programa mt parvo chamado TV rural. Numa nota de rodapé diziam que a imagem da Stª Arlinda chorava moscatel e o padre Venâncio estava preocupado com o caso- de onde lhes terá vindo a história?

O Micróbio II disse...

A religião sempre teve esse pendor de criar amores e ódios... e na Igreja Católica isso foi sempre evidente, desde o seu início. Felizmente a Igreja Católica gosta de ter as portas bem abertas (para se entrar e sair) e não se lhe pode pedir que seja ao gosto de "sicrano" ou "beltrano"... imaginem o que seria tendo em conta a diversidade de cada ser humano. Mas há sempre quem goste de ter uma "religião à medida"...

S.M. disse...

Olá, amiga. Pois, por acaso também houve na minha vida dois religiosoa que me marcaram. O padre que estava em Ourém em 1984-88 e com quem gostava de conversar porque compreendia que a ICAR não explica tudo nem é perfeita, tal como nóe também o não somos ( mas apenas humanos) e um membro da Igreja Evangélica ( já n sei qual era o cargo dele, mas não era pastor), Com este último tive muitas conversas no final da adolescência e nunca me esqueci das sua proféticas palavras: vais ter de lutar muito porque a tua inteligência não te deixa aceitar as injustiças que não compreendes. Como ele estava certo...
E por falar em padres, vá, amiga Xantipa, vai ao meu blogue, vê o desafio e confessa-te aqui ao pessoal ;)~
Ego te absolvo...or whatever (LOL)
Bjs grandes

Lúcio Ferro disse...

Isto dos padres, faz favor, publique outra coisa, cara Xantipa, que isto dos padres, enfim, como um sacerdote da vida um dia me confidenciou, já é abuso de confessionário e quanto mais ao resto nem vale a pena falar, certo? Ou por outra, perdoa Senhor, pois não sabem o que dizem, não é mesmo?

Beijo de boa noite querida.

carneiro disse...

"Mas há sempre quem goste de ter uma "religião à medida"..."

Pelo que li, o tema não era a religião. à medida ou fora de tamanho.

Falava-se de padres.

Cada qual falou de si. Se calhar porque cada qual tinha razões para isso. O Micróbio é que veio "dar lições". Falar de cátedra, ainda por cima com um cínico tom paternalista.

Não leve a mal, mas esse tipo de discurso ainda hoje me revolve as entranhas. Por razões que não interessam aqui. Só por isso
lhe respondo.

Para o sossegar, devo dizer-lhe que um dos meus maiores amigos é padre. Visitamo-nos regularmente, falamos amiúde. E nada tem a ver com religião.

O tema eram os padres...