No livro de Plutarco, A Coragem das Mulheres, há algumas corajosas mulheres sem nome, como já anteriormente referi.
Esta é uma delas, «a esposa de Pites», que bem podia ser uma heroína das histórias que nos contavam em criança, para que delas tirássemos uma moral.
(imagem daqui)
Diz-se também que a esposa de Pites, contemporâneo de Xerxes, foi sábia e honrada.
O próprio Pites, segundo parece, encontrou por acaso umas minas de ouro e amou a riqueza que delas provinha, não com moderação, mas de modo insaciável e desmedido. Ele passava o seu tempo à volta das minas e forçava os cidadãos a descer até lá, obrigando-os, a todos por igual, a cavar, a transportar ou a purificar o ouro, sem produzir mais nada e sem levar a cabo qualquer outra actividade.
Como muitos morriam e todos estavam completamente exaustos, as mulheres dirigiram-se, como suplicantes, à porta da esposa de Pites.
Esta ordenou-lhes que partissem e que tivessem coragem.
Ela mesma mandou chamar os artífices do ouro em quem mais confiava e, mantendo-os encerrados, ordenou-lhes que fabricassem em ouro pães, bem como todo o tipo de bolos e frutos e quantas guloseimas e alimentos sabia que o marido mais apreciava.
Quando tudo estava preparado, Pites chegou do estrangeiro, pois acontecia que estava ausente da pátria. E quando pediu o jantar, a sua esposa apresentou-lhe uma mesa de ouro, com todos os artefactos em outro, mas sem nada comestível.
Num primeiro momento, Pites ficou contente com as imitações, mas, depois de saciada a vista, pediu comida. No entanto, a mulher apresentava-lhe em ouro tudo o que ele solicitava. Irritado, Pites gritou que tinha fome, ao que ela respondeu: «Mas foste tu que nos proporcionaste abundância destas coisas e de mais nenhuma outra. É que desapareceram todas as actividades profissionais e ninguém cultiva a terra. Deixámos para trás as sementeiras, as plantações e o sustento que vem da terra, e procuramos e escavamos coisas inúteis, e assim nos esgotamos a nós mesmos e ao nosso povo».
(Não sei por quê, mas esta última parte fez-me lembrar Portugal...)
A mulher de Pites era sensata e inteligente, e, depois do marido abandonar o poder, dirigiu muito bem o governo e propiciou aos cidadãos um alívio dos seus males.
Uma mulher assim dava-nos jeito.
4 comentários:
Há um bom senso, uma ligação às coisas do dia a dia, qualidades que normalmente associamos às mulheres e que aqui se evidencia com clareza.
Mas não só: também uma compaixão que se tem a possibilidade de pôr em prática e que não se recusa a quem dela precisa.
Um bom lembrete para os homens que fazem do exercício do poder a sua profissão. Um post muito adequado para o dia internacional da mulher. Parabéns!
Um bom post e um belo comentário do Rui.
Gratias.
Uma grande mulher!
não conhecia a história posta desta maneira mas não era só de mulheres que precisavamos assim era de um colectivo. Mas já que não pode ser assim vamos para a frente mulheres!
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