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08 março 2011

Mulheres sem nome

No livro de Plutarco, A Coragem das Mulheres, há algumas corajosas mulheres sem nome, como já anteriormente referi.
Esta é uma delas, «a esposa de Pites», que bem podia ser uma heroína das histórias que nos contavam em criança, para que delas tirássemos uma moral. 
(imagem daqui)
Diz-se também que a esposa de Pites, contemporâneo de Xerxes, foi sábia e honrada.
O próprio Pites, segundo parece, encontrou por acaso umas minas de ouro e amou a riqueza que delas provinha, não com moderação, mas de modo insaciável e desmedido. Ele passava o seu tempo à volta das minas e forçava os cidadãos a descer até lá, obrigando-os, a todos por igual, a cavar, a transportar ou a purificar o ouro, sem produzir mais nada e sem levar a cabo qualquer outra actividade.
Como muitos morriam e todos estavam completamente exaustos, as mulheres dirigiram-se, como suplicantes, à porta da esposa de Pites.
Esta ordenou-lhes que partissem e que tivessem coragem.
Ela mesma mandou chamar os artífices do ouro em quem mais confiava e, mantendo-os  encerrados, ordenou-lhes que fabricassem em ouro pães, bem como todo o tipo de bolos e frutos e quantas guloseimas e alimentos sabia que o marido mais apreciava. 
Quando tudo estava preparado, Pites chegou do estrangeiro, pois acontecia que estava ausente da pátria. E quando pediu o jantar, a sua esposa apresentou-lhe uma mesa de ouro, com todos os artefactos em outro, mas sem nada comestível.
Num primeiro momento, Pites ficou contente com as imitações, mas, depois de saciada a vista, pediu comida. No entanto, a mulher apresentava-lhe em ouro tudo o que ele solicitava. Irritado, Pites gritou que tinha fome, ao que ela respondeu: «Mas foste tu que nos proporcionaste abundância destas coisas e de mais nenhuma outra. É que desapareceram todas as actividades profissionais e ninguém cultiva a terra. Deixámos para trás as sementeiras, as plantações e o sustento que vem da terra, e procuramos e escavamos coisas inúteis, e assim nos esgotamos a nós mesmos e ao nosso povo». 
(Não sei por quê, mas esta última parte fez-me lembrar Portugal...)

A mulher de Pites era sensata e inteligente, e, depois do marido abandonar o poder, dirigiu muito bem o governo e propiciou aos cidadãos um alívio dos seus males.

Uma mulher assim dava-nos jeito.

18 janeiro 2010

Hospital Beatriz Ângelo

Carolina Beatriz Ângelo, em 1911, ano em que viria a falecer, votou. Foi a 1ºmulher a fazê-lo no nosso país, antes que os homens (com letra muito pequenina) decidissem mudar a lei, para que mais nenhuma outra se atrevesse a tanto.
Hoje muitas de nós não vão votar. Porque não adianta. Porque não vale a pena. Porque deixaram de acreditar (como não estamos em época de eleições, falar disto pode parecer extemporâneo, mas eu não acho). Votar já não parece importante, porque depois «eles» fazem acordos e «são todos iguais».
Percebo.
Há dias em que também estou cansada de tanta hipocrisia política, em que já não aguento as vozes dos que gritam e não assumem as suas responsabilidades.
Lembro-me de ter aprendido que, no fim da democracia, a cidade era gerida pelos profissionais da política, porque os demoi estavam cansados de não ter cratos.
Mas noutros dias (na maioria deles) estou cheia de energia para mudar o mundo e tento não envergonhar as minhas egrégias avós.
Achei que a minha querida avó haveria de gostar de saber que uma mulher, uma médica, do início do século XX, foi homenageada com a atribuição do seu nome a um hospital.
E isto vai valer a pena, por cada uma e cada um que se interrogar do porquê deste nome: Carolina Beatriz Ângelo.

09 abril 2008

Resta a Esperança

(imagem daqui)
Antes de facto habitava sobre a terra a raça dos homens,
a resguardo de males, sem a penosa fadiga

e sem dolorosas doenças que aos homens trazem a morte.

Mas a mulher, levantando com a mão a grande tampa da jarra,

dispersou-os e ocasionou aos mortais penosas fadigas.

E ali só a Esperança permaneceu em morada indestrutível

dentro das bordas, sem passar a boca nem para fora
sair, porque antes já ela colocara a tampa na jarra,
por vontade do deus da égide, Zeus que amontoa as nuvens.

Hesíodo, Trabalhos e Dias, 90-99. Tradução de José Ribeiro Ferreira para a INCM.

07 abril 2008

Não aceites dons de Zeus!

Em seguida, concluído o engano difícil e sem remédio,
até Epimeteu envia o Pai dos numes o ilustre Argeifonte,
arauto veloz dos deuses, a levar a dádiva; e Epimeteu

não se recordou de que Prometeu lhe dissera para
nunca
aceitar qualquer dom vindo de Zeus Olímpico,
mas lho mandasse
de volta, para que não viesse qualquer mal aos homens:
só depois de o ter recebido, quando já tinha o mal, se deu conta.

Hesíodo, Trabalhos e Dias, 83-89. Tradução de José Ribeiro Ferreira para a INCM.

03 abril 2008

Pandora, de seu nome

De imediato modelou com terra o ilustre Argeifonte
uma imagem de virgem casta, como vontade do Crónida.

Cinge-lhe a cintura e embeleza-a a deusa Atena de olhos garços.

As divinas Graças e a veneranda Persuasão

envolveram-lhe o colo com colares de ouro e em sua volta

as Horas de formosa cabeleira coroaram-na de flores primaveris.

Todo o tipo de adornos a seu corpo ajustou Palas Atena.

E em seu peito incutiu o mensageiro Argeifonte

mentiras, palavras sedutoras e carácter volúvel,

por vontade de Zeus tonitruante. Insuflou-lhe voz

o arauto dos deuses e deu a esta mulher o nome

de Pandora, porque todos os habitantes das mansões do Olimpo

doaram a dádiva, ruína para os homens comedores de pão.

Hesíodo, Trabalhos e Dias, 70-82. Tradução de José Ribeiro Ferreira para a INCM.