... é o nome do último livro de poemas de António José Ventura, desta vez editado pela Gente Singular (o site não está actualizado, infelizmente, mas tem lá o mail para onde podem escrever e pedir o envio do livro).
Ainda não tive oportunidade de ir a nenhuma das apresentações, mas comprei o livro no Pátio de Letras. Tem uma ilustração («um pássaro do paraíso») de Costa Pinheiro e um estudo no final, que pode ser lido se seguirem a ligação que está no nome do poeta, acima.
Os poemas estão agrupados em quatro grupos.
Deixo aqui dois, da primeira parte (que se intitula «A casa, o mundo e as estações»).
Um tem título:
«As pétalas de rosa»
A luz é a água da rosa. Branca
numa jarra, desabrocha para a sala
pondo a natureza na casa. E eis
que caem as pétalas uma a uma.
Termina o instante da rosa.
Outro não tem:
Sou um arqueiro de um exército em fuga.
Passei fome e frio nas estantes da biblioteca
ferido pelas palavras refugiei-me no litoral
numa furna onde não me atingem as ondas.
Estou num estado de completo silêncio,
apenas me fazem companhia os mexilhões e as lapas,
alimento-me de moluscos.
Começo a ouvir o movimento da maré
o rumor do mar subindo pela praia.
Em breve terei de abandonar o meu esconderijo
e decerto serei feito prisioneiro pelo exército das vozes.
A natureza não me pode salvar
apenas encontrarei abrigo na cidade
servindo as forças vencedoras.
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