(6.) Êucrates parecia estar melhor, e a doença agora era a do costume. De facto, o fluxo dos humores havia descido para os pés. (...)
(7.) As visitas já antes tinham falado sobre a doença, e ainda estavam a dissertar, cada um a sugerir o seu tratamento.
Diz Cleodemo: Portanto, se apanharmos do chão, com a mão esquerda, um dente de doninha morta conforme antes disse, se depois o envolvermos numa pele de leão acabado de esfolar e atarmos à volta das pernas do doente, a dor cessa imediatamente.
Diz Dinómaco:
Numa pele de leão, não, segundo ouvi dizer, mas sim numa pele de corça virgem e que ainda não teve cio. Desta maneira a coisa é mais verosímil. De facto, a corça é um animal muito veloz, que tem a sua força principal nas patas. O leão é forte, sim senhor, e a sua gordura, bem como a pata direita e os pelos eriçados da crina, poderão prestar grandes serviços, desde que saibamos utilizar cada uma dessas partes acompanhada da fórmula mágica apropriada. No entanto, serve de muito pouco na cura dos pés (...)
(8.) Aí eu disse: E vós acreditais que esses males cessam por meio de fórmulas mágicas ou aplicações externas à doença que se desenvolve no interior?
Puseram-se todos a rir das minhas palavras, sendo manifesto que me acusavam de grande ignorância, por não saber coisas tão óbvias e que ninguém de bom senso ousaria contradizer, dizendo que não é assim. (...) Vai daí, diz Cleodemo, sorrindo:
Que dizes a isto, Tiquíades? Parece-te inacreditável que se tire benefício deste tipo de remédios para as doenças?
Parece, pois - respondi - ... a menos que eu esteja tão apanhado por uma gripe ruim, que acredite que estes remédios externos, sem comunicação alguma com as causas das doenças, actuem quando acompanhados de palavras ou, como vós dizeis, de certas fórmulas encantatórias, e que esses remédios, quando em contacto com a zona doente, induzem a cura. Tal não seria possível, mesmo que atásseis dezasseis doninhas inteiras à pele do leão de Nemeia. Eu mesmo já vi muitas vezes o próprio leão coxear com dores, mesmo completamente envolvido na sua própria pele.
(9.) És muito ignorante - comentou Dinómaco -(...). Também não me parece que admitas estes factos evidentíssimos, como a expulsão das febres periódicas, o encantamento de serpentes, a cura de tumores inguinais e todas as demais maravilhas que as velhas ainda hoje operam.
Ó Dinomaco - retorqui - (...) Realmente, não está provado que essas curas que tu referes aconteçam por obra de tais poderes. Portanto, se antes, por um processo de indução racional, não me convenceres de que esses factos ocorrem segundo a ordem natural (isto é, que a febre e o edema têm medo quer dum nome divino, quer duma palavra bárbara, e que é devido a isso que o tumor inguinal abandona o corpo), considero as vossas palavras como fábulas de velhas.
(10.) Tenho a impressão - disse Dinómaco - de que, ao falares desse modo, não crês na existência dos deuses, já que não acreditas em curas operadas por palavras santas.
Não digas isso - respondi eu. Realmente, nada impede que os deuses existam, mas que esses milagres sejam falsos. Por mim, respeito os deuses e reconheço as curas que eles operam, tal como o bem que eles fazem aos doentes, restabelecendo-os por acção de medicamentos e da medicina. De facto, o próprio Esculápio e os seus filhos curavam doentes aplicando-lhes remédios suaves, e não ligando-lhes à volta do corpo coisas de leões ou doninhas.
(7.) As visitas já antes tinham falado sobre a doença, e ainda estavam a dissertar, cada um a sugerir o seu tratamento.
Diz Cleodemo: Portanto, se apanharmos do chão, com a mão esquerda, um dente de doninha morta conforme antes disse, se depois o envolvermos numa pele de leão acabado de esfolar e atarmos à volta das pernas do doente, a dor cessa imediatamente.
Diz Dinómaco:
Numa pele de leão, não, segundo ouvi dizer, mas sim numa pele de corça virgem e que ainda não teve cio. Desta maneira a coisa é mais verosímil. De facto, a corça é um animal muito veloz, que tem a sua força principal nas patas. O leão é forte, sim senhor, e a sua gordura, bem como a pata direita e os pelos eriçados da crina, poderão prestar grandes serviços, desde que saibamos utilizar cada uma dessas partes acompanhada da fórmula mágica apropriada. No entanto, serve de muito pouco na cura dos pés (...)
(8.) Aí eu disse: E vós acreditais que esses males cessam por meio de fórmulas mágicas ou aplicações externas à doença que se desenvolve no interior?
Puseram-se todos a rir das minhas palavras, sendo manifesto que me acusavam de grande ignorância, por não saber coisas tão óbvias e que ninguém de bom senso ousaria contradizer, dizendo que não é assim. (...) Vai daí, diz Cleodemo, sorrindo:
Que dizes a isto, Tiquíades? Parece-te inacreditável que se tire benefício deste tipo de remédios para as doenças?
Parece, pois - respondi - ... a menos que eu esteja tão apanhado por uma gripe ruim, que acredite que estes remédios externos, sem comunicação alguma com as causas das doenças, actuem quando acompanhados de palavras ou, como vós dizeis, de certas fórmulas encantatórias, e que esses remédios, quando em contacto com a zona doente, induzem a cura. Tal não seria possível, mesmo que atásseis dezasseis doninhas inteiras à pele do leão de Nemeia. Eu mesmo já vi muitas vezes o próprio leão coxear com dores, mesmo completamente envolvido na sua própria pele.
(9.) És muito ignorante - comentou Dinómaco -(...). Também não me parece que admitas estes factos evidentíssimos, como a expulsão das febres periódicas, o encantamento de serpentes, a cura de tumores inguinais e todas as demais maravilhas que as velhas ainda hoje operam.
Ó Dinomaco - retorqui - (...) Realmente, não está provado que essas curas que tu referes aconteçam por obra de tais poderes. Portanto, se antes, por um processo de indução racional, não me convenceres de que esses factos ocorrem segundo a ordem natural (isto é, que a febre e o edema têm medo quer dum nome divino, quer duma palavra bárbara, e que é devido a isso que o tumor inguinal abandona o corpo), considero as vossas palavras como fábulas de velhas.
(10.) Tenho a impressão - disse Dinómaco - de que, ao falares desse modo, não crês na existência dos deuses, já que não acreditas em curas operadas por palavras santas.
Não digas isso - respondi eu. Realmente, nada impede que os deuses existam, mas que esses milagres sejam falsos. Por mim, respeito os deuses e reconheço as curas que eles operam, tal como o bem que eles fazem aos doentes, restabelecendo-os por acção de medicamentos e da medicina. De facto, o próprio Esculápio e os seus filhos curavam doentes aplicando-lhes remédios suaves, e não ligando-lhes à volta do corpo coisas de leões ou doninhas.
1 comentário:
Adriana, Amiga:
Ler os clássicos -- e teu blogue o prova -- é melhor do que vacina --banida em Japão e agora em Suiça -- para gripe A, a tal porcina, que não de aves ne de vacas loucas!
Vale!
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