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10 maio 2008
«Transforma-se o amador na cousa amada»
Se Hefesto, o deus da forja, perguntasse aos amantes:
«Não será a isto que vocês aspiram - a identificarem-se o mais possível um ao outro, de forma a não mais se separarem noite e dia? Se é essa a vossa aspiração, estou disposto a fundir-vos e soldar-vos numa só peça, de tal modo que em vez de dois, passem a ser um só. E assim vos será dado ter uma única vida enquanto viverem, como se fossem uma só pessoa; e como uma só pessoa hão-de continuar lá no Hades, depois de morrerem, levados por uma única morte.»
Este seria o desejo dos amantes, porque «a nossa primitiva natureza assim era e nós constituíamos então um todo. Ora, é essa aspiração ao todo, essa busca incessante, que tem o nome de amor.»
Platão, Banquete, 192e-193a. Tradução de Teresa Schiappa de Azevedo para as Edições 70. Outros excertos neste blogue em vários sítios, como aqui, aqui , aqui ou aqui.12 novembro 2007
Do amor

O amor não tem uma natureza simples, bela ou feia em si mesma: é belo, se realizado com beleza, e feio, se realizado com vileza.
Vileza é quando se concede uma afeição indigna a um homem indigno; e nobreza, quando se concede uma feição digna a um homem de bem. E por indigno entendemos justamente esse amante popular, que prefere o amor do corpo ao amor da alma, e não guarda constância porque o objecto a que se prende não é também constante [...].
Pelo contrário, aquele que ama alguém pela beleza do seu carácter, esse permanece fiel pela vida fora, porque se funde com o que é constante.
Discurso de Pausânias no Banquete de Platão. Tradução de Maria Teresa Schiappa de Azevedo para as Edições 70.
01 janeiro 2007
Homossexualidade - Banquete (7)
(continuação)
Por outro lado, todas as mulheres do corte de um ser feminino não ligam praticamente aos homens e voltam-se de preferência para as mulheres: e aí estão as «comadrinhas» a ilustrar a descendência do género... Finalmente, todos os que resultam do corte de um ser masculino só andam atrás de homens, e mesmo de pequenos, como pequenas postas que são de um ser viril, revelam o seu fraco por homens e comprazem-se em estarem deitados a seu lado, abraçados a eles...
(191e)
22 dezembro 2006
«Oh, metade amputada de mim!» - Banquete (3)
(continuação)
(receando a força e ambição destes seres, Zeus decide)
«Parece-me», anunciou, «que arranjei processo de continuar a haver homens e acabar de vez com a sua arrogância: é enfraquecê-los. Agora mesmo vou dividi-los ao meio um por um; deste modo, não só hão-de ficar mais fracos como também sairemos beneficiados, graças ao aumento de número. Por enquanto, podem caminhar erectos sobre as suas duas pernas; porém se virmos que mesmo assim persistem na arrogância e se recusarem a dar-nos tréguas, então», declarou, «volto a dividi-los ao meio e passam a andar só sobre uma perna… ao pé-coxinho!»
Dito e feito. Pôs-se a cortar os homens às metades, exactamente como se cortam sorvas para as pôr em conserva [ou como se faz aos ovos com um cabelo]. À medida que os ia cortando, encarregava Apolo de lhes virar o rosto e a metade do pescoço para a superfície amputada, na ideia de que os homens se tornariam mais humildes com o espectáculo da sua própria amputação diante dos olhos.
Platão, Banquete, 190c-e. Edições 70, 1991. Tradução, introdução e notas de Teresa Schiappa de Azevedo.
(receando a força e ambição destes seres, Zeus decide)
«Parece-me», anunciou, «que arranjei processo de continuar a haver homens e acabar de vez com a sua arrogância: é enfraquecê-los. Agora mesmo vou dividi-los ao meio um por um; deste modo, não só hão-de ficar mais fracos como também sairemos beneficiados, graças ao aumento de número. Por enquanto, podem caminhar erectos sobre as suas duas pernas; porém se virmos que mesmo assim persistem na arrogância e se recusarem a dar-nos tréguas, então», declarou, «volto a dividi-los ao meio e passam a andar só sobre uma perna… ao pé-coxinho!»
Dito e feito. Pôs-se a cortar os homens às metades, exactamente como se cortam sorvas para as pôr em conserva [ou como se faz aos ovos com um cabelo]. À medida que os ia cortando, encarregava Apolo de lhes virar o rosto e a metade do pescoço para a superfície amputada, na ideia de que os homens se tornariam mais humildes com o espectáculo da sua própria amputação diante dos olhos.
Platão, Banquete, 190c-e. Edições 70, 1991. Tradução, introdução e notas de Teresa Schiappa de Azevedo.
20 dezembro 2006
Sol, Terra e Lua - Banquete (2)
Quanto à origem destes três géneros, com tais características, ei-la: o macho foi inicialmente um rebento do Sol; a fêmea, da Terra; e da Lua, a espécie que reunia as características dos dois, dado que também a Lua partilha da natureza do Sol e da Terra. Daí o facto de serem globulares, tanto eles como a sua marcha – devido à semelhança com os seus progenitores.
Platão, Banquete, 189e-190a. Edições 70, 1991. Tradução, introdução e notas de Teresa Schiappa de Azevedo.
Platão, Banquete, 189e-190a. Edições 70, 1991. Tradução, introdução e notas de Teresa Schiappa de Azevedo.
14 dezembro 2006
Os três géneros - Banquete (1)
Diz Aristófanes, no discurso que faz sobre o Amor, no Banquete, de Platão:
Para começar, a nossa antiga natureza não era tal como hoje e sim diversa. Para começar, os seres humanos encontravam-se repartidos em três géneros e não apenas em dois – macho e fêmea – como agora: além destes, havia um terceiro que partilhava das características de ambos, género hoje desaparecido, mas de que conservamos ainda o nome. Era ele o andrógino, que constituía então um género distinto, embora reunisse, tanto na forma como no nome, as características do macho e da fêmea; hoje, contudo, não passa de um nome lançado ao descrédito…
Para começar, a nossa antiga natureza não era tal como hoje e sim diversa. Para começar, os seres humanos encontravam-se repartidos em três géneros e não apenas em dois – macho e fêmea – como agora: além destes, havia um terceiro que partilhava das características de ambos, género hoje desaparecido, mas de que conservamos ainda o nome. Era ele o andrógino, que constituía então um género distinto, embora reunisse, tanto na forma como no nome, as características do macho e da fêmea; hoje, contudo, não passa de um nome lançado ao descrédito…
Em segundo lugar, a forma de cada ser humano era inteira e globular, com as costas e os flancos arredondados. Tinham quatro mãos e igual número de pernas; sobre o pescoço redondo, duas faces, iguaizinhas uma à outra; uma única cabeça onde assentavam as faces, colocadas em sentido oposto; quatro orelhas; órgãos genitais em número de dois; e tudo o mais que a partir daqui possa imaginar-se. Caminhavam erectos, como agora, mas nos dois sentidos em que o desejassem. Porém, quando os assaltava o desejo de correr a toda a brida, faziam-no às cambalhotas, projectando as pernas para o ar, como os equilibristas, até regressarem à posição vertical. E assim, apoiados nos seus membros, que eram oito, se deslocavam velozmente em círculo.
Platão, Banquete, 189e-190a. Edições 70, 1991. Tradução, introdução e notas de Teresa Schiappa de Azevedo.
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