22 dezembro 2006

«Oh, metade amputada de mim!» - Banquete (3)

(continuação)
(receando a força e ambição destes seres, Zeus decide)

«Parece-me», anunciou, «que arranjei processo de continuar a haver homens e acabar de vez com a sua arrogância: é enfraquecê-los. Agora mesmo vou dividi-los ao meio um por um; deste modo, não só hão-de ficar mais fracos como também sairemos beneficiados, graças ao aumento de número. Por enquanto, podem caminhar erectos sobre as suas duas pernas; porém se virmos que mesmo assim persistem na arrogância e se recusarem a dar-nos tréguas, então», declarou, «volto a dividi-los ao meio e passam a andar só sobre uma perna… ao pé-coxinho!»
Dito e feito. Pôs-se a cortar os homens às metades, exactamente como se cortam sorvas para as pôr em conserva [ou como se faz aos ovos com um cabelo]. À medida que os ia cortando, encarregava Apolo de lhes virar o rosto e a metade do pescoço para a superfície amputada, na ideia de que os homens se tornariam mais humildes com o espectáculo da sua própria amputação diante dos olhos.

Platão, Banquete, 190c-e. Edições 70, 1991. Tradução, introdução e notas de Teresa Schiappa de Azevedo.
Oiça «Pedaço de mim» - Chico Buarque e Zizi Possi

6 comentários:

Miguel G Reis disse...

E, assim, por uma luta de poder, Zeus votou os homens a vogarem perdidos pela terra até encontrarem a sua outra metade, altura em que, pela união dos seus dois princípios complementares, feminino e masculino,
readquirem novamente o sentido da sua vida, o sentido de plenitude e felicidade.

Grande Platão e rica alegoria!

Beijinho grande
Miguel
:)***

Xantipa disse...

Ah, malvado, que me roubaste o próximo portal!
lolol
;)****
:=

Xantipa disse...

postal, não portal!
lol

Miguel G Reis disse...

Não roubei nada! lolol
Acima está uma sinopse mal amanhada,
o Platão não tem rival! lol

Beijnho grande
;)***
:=

Rafeiro Perfumado disse...

Um bom Natal para ti e para o Platão! ;)

Xantipa disse...

Obrigada, Rafeiro! Para ti também!
Beijinhos!