03 julho 2007

Fastidientis stomachi est multa degustare

Demasiada abundância de livros é fonte de dispersão; assim, como não poderás ler tudo quanto possuis, contenta-te em possuir apenas o que possas ler.
Dirás tu: «Mas sinto vontade de folhear ora este livro, ora aquele.»
Provar muita coisa é sintoma de estômago embotado; quando são muitos e variados os pratos, só fazem mal em vez de alimentar.
Lê, portanto, constantemente autores de confiança e quando sentires vontade de passar a outros, regressa aos primeiros.
Séneca, Cartas a Lucílio, 2, 3-4. Sempre a mesma tradução.

Compreendo a sabedoria destas palavras, mas eu sou mais como o Lucílio: gosto de ter livros que posso não vir a ler na totalidade, mas que gosto de folhear. Naquela altura, folhear devia ser desenrolar um papiro e não se devia poder tê-los abertos sobre a mesa ou empilhados, como eu os tenho...
Que ando a ler?
Leio vários ao mesmo tempo.

Séneca não conta, pois não? Nem Ovídio, imagino... nem Platão... nem os policiais (adoro policiais, confesso. Ando sempre com um atrás. Estou na fase egípcia, acompanhando Amelia Peabody Emerson nas suas aventuras).

Fui ali à sala ver o que está na pilha dos «pego neles mais vezes a ver se acabo algum», porque esta época do calendário escolar não é muito dada a coisas recreativas. A pilha dos «quero mesmo ler, devem ser giros, estão aqui há mais de um mês e ainda não os abri» envergonha-me. Principalmente com o raspanete que Séneca me pregou no início deste postal.

Cá vão, então, os «a ver se acabo, porque até estou a gostar, só que não tenho tempo» (em próximos postais falarei de cada um deles, pois acho que merecem uma explicação):
- Alimentação e Sociedade na Antiguidade Clássica: aspectos simbólicos dos alimentos, de Peter Garnsey. Ed. Replicação, Lisboa, 2002;
- Religions de L'Antiquité, org. por Yves Lehmann, PUF, 1999;
- O longo caminho das mulheres, organizado por Lígia Amâncio et al., Publ. Dom Quixote, 2007;
- Everyday Things in Archaic Greece, de Marjorie e C.H.B. Quennell, Ed. B.T.Batsford, 1931;
- A Natural History of Latin, de Tore Janson, Oxford University Press, 2007 (a minha edição em paperback, que a outra é de 2004).

Agradeço ao Legendas & Etcaetera o pedido, que vou completar com comentários, como referi;
E também eu estou curiosa por saber o que lêem algumas pessoas. O Miguel tem uma lista no blogue, portanto, basta passar por lá para ver.

Ficam aqui cinco provocações:

Carneiro, do Oxiclista
José Bandeira, do Bandeira ao Vento
JS e Gregório Salvaterra, do Contador de Gaivotas

Marta, do Claras em Castelo
Tomás Vasques, do Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos

(desculpem, porque imagino que estejam fartos de coisas destas, mas não resisti).

11 comentários:

Unknown disse...

O Séneca é um sabichão, sem dúvida nenhuma, mas discordo do bom cidadão. Porque os livros é como a comida: se não nos aventuramos a experimentar sabores novos, jamais alargaremos o nosso paladar. Nada me entusiasma mais, e me mantem um fiel leitor, do que aquele momento emque pego num livro completamente desconhecido, numa livraria, num alfarrabista, por mera curiosidade, porque algo nele me chamou a atençao, e depois ter o prazer de descobrir uma obra de qualidade, que muito prazer me deu a ler.
Se não procedesse assim, nao teria descoberto Pepetela, Germano de Almeida, Craveirinha, Paulina Chiziane, Cholokov, Delibes, e muitos outros que agora nao me passam pela cabeça essencialmente porque deixaram de ser descobertas para ser amigos familiares.

Beijinhos
Miguel

Barão da Tróia II disse...

Eu tenho um livro na quarto "O Livro de Hitler", um livro na sala " Uma História da Guerra" e um livro no WC "Atlântida", depois na cozinha tenho as minhas revistas, "História, National Geographic, Historya e Vida, Mais Alto" vou fazendo assim, umas páginas de quando em vez e vou dando a volta à coisa.Boa semana.

Anónimo disse...

Concordo com rui.
Há livros que leio e releio, outros deixo de parte e pego noutro, depois volto.
Alguns são lido duas e três vezes e descubro sempre qualquer coisa.
É raro o que não volto a ler.

carneiro disse...

"imagino que estejam fartos de coisas destas".

Pois...

Beijo grande

MJMatos disse...

Glosando uma certa descrição, eu diria que sou do outro lado da barricada (ciências ditas exactas), e que me vou convertendo aos saberes das Humanidades. E que tenho um fraquinho por histórias antigas que mostram situações que, por ignorância dos actores/observadores, parecem muito modernas. Parece-me que vou aprender algo com este blogue, AFN.

Arcanjo disse...

Desculpa....

Passei para te deixas um beijinho e pedir desculpas por ter "desaparecido" sem aviso prévio.

Tam uma boa semana***

SOBE E DESCE disse...

Quando um livro me prende leio e releio.
Por vezes passado um certo tempo vou buscar novamente.Por vezes são capitulos que me prendem e prendem por imenso tempo, tenho dois que me prenderam para sempre. Estão na mesa de cabeceira. Gosto dos que me fazem pensar. Fui sempre assim.
Não vou atrás deles só porque me disseram aue é bom, porque está na berra ou teve este e aquele prémio.
Quando gosto dum livro sinto, ao lê-lo, que me esqueci do tempo.

Anónimo disse...

Na semana passada foi difícil fazer visitas.
Só agora vi este teu post e quando vi a data é que me apercebi bem, do trabalho com que tenho andado.

Xantipa, já fiz a pedido da CS, mas vou tentar fazer um outro.


beijinhos

MJH disse...

Olá Adriana,
Venho muitas ao teu blogue e hoje gostei imenso da tua lista de livros. Retirei algumas sugestões para férias.

Uma abraço
MJH

Gregório Salvaterra disse...

Olá Xantipa :)
Vi, pois, o teu recado e só me veio à memória o livro que mais folheei nos últimos dias: "Prague". Guiou-me por pontes, ruas e praças; teatros, museus e cafés...
Recomendo.
Beijos

JS

Xantipa disse...

Querido Miguel,
Pois é assim mesmo! Também eu gosto de descobrir autores! Alguns eram já consagrados, mas para mim eram novidades!
Beijinhos

Meu caro confrade Barão,
Então faz parte deste grupo dos que lêem na casa de banho. Eu tenho sempre lá vários livros. Neste momento tenho três, mas estou mais concentrada na Madame Bovary. Li quando garota, com os meus 13 anos, e está a saber-me muito bem a releitura.
Um abraço!

Carneiro,
Eu sabia, mas apeteceu-me...
Uma festinha nesse pêlo (se não foste ainda à tosquia).

Caro MJMatos,
Muito me digna com a visita e a prova de confiança! Espero não o desiludir.
Um abraço

Linda Arcanjo,
Não tens de pedir desculpa por nada. Também eu tenho andado desaparecida.
Beijinhos

Sobe e Desce,
Também me perco no tempo da leitura.
Um abraço

Querida Marta,
Não tens de fazer outro, porque o outro serve lindamente!
Beijinhos!

Khaire, MJH
Também te visito, como deves ter reparado, e espreito muitas das tuas sugestões!
Filákia
;)

JS, camarada, então é por Praga que tens andado?
Beijinhos