De «Figos», de Herberto Helder, roubei estas partes (in Poesia Toda, publicado pela Assírio e Alvim):
A maneira correcta de comer um figo à mesa
É parti-lo em quatro, pegando pelo pedúnculo,
E abri-lo para dele fazer uma flor de mel, brilhante, rósea, húmida, desabrochada em quatro espessas pétalas.
Depois põe-se de lado a casca
Que é como um cálice quadrissépalo,
E colhe-se a flor com os lábios.
Mas a maneira vulgar
É pôr a boca na fenda, e de um sorvo só aspirar toda a carne.
Cada fruta tem o seu segredo.
O figo é uma fruta muito secreta.
Quando se vê como desponta direito, sente-se logo que é simbólico:
Parece masculino.
Mas quando se conhece melhor, pensa-se como os romanos que é uma fruta feminina.
(...)
Foi sempre segredo.
E assim deveria ser, a fêmea deveria manter-se para sempre secreta.
(...)
Os figos maduros não se ocultam.
Figos branco-mel do Norte, negros figos de entranhas escarlates do Sul.
Os figos maduros não se ocultam, não se ocultam sob nenhum clima.
Que fazer então quando todas as mulheres do mundo se abrirem na sua afirmação?
Quando os figos abertos se não ocultarem?
5 comentários:
A propósito de frutas em poesia:
A Primavera cheira a laranjas /
(Há umas granadas de mão, redondas e pequenas, a que chamam laranjas)/
O perfume das laranjas enche a noite enluarada de mistérios /
(Dizem que as noites de luar são as melhores para bombardeamentos aéreos)
António Gedeão
Sempre gostei mais de os comer da árvore à maneira vulgar.
Mas figos, em qualquer parte e de qualquer maneira.
Bjinhos
Assim como os romanos, chamar-te-ia um figo...A falta de figos, a Cohorte aguenta...de uma forma ou de outra...
Com que então queres comer o Figo... se a Helen sabe, minha amiga...
Um poema muito bonito...e muito descriptivo! loll
E, realmente, que fazer?
Beijinhos!
:)***
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