Os meu livros da 3ª e 4ª classes, imediatamente após o 25 de Abril, já tinham histórias e poemas diferentes dos da 1ª e 2ª.
Como em casa todos sabiam poemas de cor, eu também ganhei o hábito de decorar alguns. Este foi um deles. Emprestei o livro (nunca devolvido) e nem sabia quem o tinha escrito. Fiquei contente ao reencontrá-lo para poder agradecer à grande Cecília Meireles.
Uma Palmada Bem Dada
É a menina manhosa
Que não gosta da rosa,
Que não quer a borboleta
Porque é amarela e preta,
Que não quer maçã nem pêra
Porque tem gosto de cera,
Que não toma leite
Porque lhe parece azeite,
Que mingau não toma
Porque é mesmo goma,
Que não almoça nem janta
porque cansa a garganta,
Que tem medo do gato
E também do rato,
E também do cão
E também do ladrão,
Que não calça meia
Porque dentro tem areia
Que não toma banho frio
Porque sente arrepio,
Que não toma banho quente
Porque calor sente
Que a unha não corta
Porque fica sempre torta,
Que não escova os dentes
Porque ficam dormentes
Que não quer dormir cedo
Porque sente imenso medo,
Que também tarde não dorme
Porque sente um medo enorme,
Que não quer festa nem beijo,
Nem doce nem queijo.
Ó menina levada,
Quer uma palmada?
Uma palmada bem dada
Para quem não quer nada!
1 comentário:
Não minha casa não se sabiam poemas de cor, porque a maior parte da minha família era analfabeta, mas lembro-me da minha mãe me ler poemas dos livros da 2.ª e da 3.ª classe (estes anteriores ao 25 de Abril). Lembro-me vagamente de um poema sobre uma menina muito traquina que recebeu uma boneca de corda de presente e que resolveu puxar o rabo ao gato como fazia com a boneca para ver o que acontecia, escusado será dizer que não correu bem. :-)
Mas do que me lembro com mais saudade é do cheiro dos livros, um cheiro doce, vivo e intenso. Um cheiro que já não encontro nos livros de hoje. Esse cheiro mágico enfeitiçou-me e passei a amar os livros.
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