09 maio 2009

livros de hetero-ajuda: os antigos dos antigos


Que tendência é esta, Lucílio, que nos desvia do rumo pretendido, que nos empurra para o ponto donde pretendemos sair? Que debate se desenrola na nossa alma e nos impede de manter uma vontade firme? Andamos à deriva entre resoluções contrárias; não conseguimos ser fiéis a uma vontade livre, absoluta, constante. Dirás tu que é prova de insensatez não ter um propósito, um interesse permanente. Mas dessa insensatez como e quando nos conseguimos libertar? Por si só, ninguém conseguirá sair do remoinho; é necessário alguém que estenda a mão e ajude a pisar terra firme.
(...)
Não se deve menosprezar alguém que se salva graça à ajuda dos outros, pois querer ser salvo não é questão de somenos importância.
(...)
Eu considero mais afortunado o homem que não teve problemas com o seu carácter, mas acho mais digno de apreço o que teve de vencer os seus defeitos naturais para alcançar a sabedoria, ou melhor, para se elevar até ela à força de pulso.
(...)

Caminhamos através de obstáculos. Lutemos, portanto, sem temer pedir o auxílio alheio. Perguntarás: «Mas a quem, a quem hei-de pedir auxílio?»
Se queres um conselho, dirige-te aos antigos, que estão disponíveis: para nos auxiliar tanto podemos recorrer aos vivos como aos mortos.

Séneca, Cartas a Lucílio, 52. Tradução de J. A. Segurado Campos e profusamente citada neste blogue.

6 comentários:

Anónimo disse...

Estou-te saudando da minha quinta de Nomento. Oxalá estejas de boa saúde espiritual, isto é, oxalá os deuses te sejam todos propícios, pois não pode deixar de gozar do favor benevolente dos deuses quem consegue estar em paz consigo mesmo. Cartas a Lucílio - 110-117.

José Ricardo Costa disse...

Ok, vivesse Séneca, hoje, em Portugal, e seria um natural colaborador da Laurinda Alves, teria 15 minutos diários no programa do Goucha, e ainda um consultório em Lisboa para pessoas com energias negativas, maus karmas e crises existenciais e de auto-estima.

A modernidade pouco inventou.

JR

Joaquim Moedas Duarte disse...

Ando há que tempos atrás deste livro. Diz-me, Adrianita, qual a editora, etc.

beijinhos.
Continuas igual a ti própria: isto é: ÚNICA!

Gi disse...

Lembra-me Cícero, que em tempo de grande tristeza pela morte da filha escreveu a sua própria Consolação socorrendo-se dos antigos.

Lúcio Ferro disse...

Interessante Dri. Muito interessante, sobretudo numa época como a nossa, que elevou o individualismo a valor supremo da existência.

Kiss.

jorge disse...

magnífico livro.