Isto não é um comentário à decisão de aumentar a escolaridade obrigatória até aos 18 anos nem à afirmação de que "todos devem passar pela escola" (diferente de a escola deve passar todos, entenda-se).
Além do propósito de dar a toda a gente tanta educação quanto possível, posto que a educação, em si, é desejável, existem outros motivos que afectam a legislação educativa, os quais podem ser de elogiar, sem falar nos que, muito simplesmente, se limitam a reconhecer o inevitável e só mencionamos como lembrança da complexidade do sistema educativo. Um dos motivos, por exemplo, para elevar o limite de idade da escolaridade obrigatória é o louvável desejo de proteger o adolescente e de o fortalecer contra as mais degradantes influências a que se expõe ao entrar no mundo do trabalho. Esse motivo exige de nós uma boa dose de candura. Na verdade, em vez de afirmar que toda a gente beneficiará com mais anos de ensino, o que é duvidoso, devíamos confessar que as condições de vida na moderna sociedade industrial são tão lamentáveis e as restrições morais tão débeis que devemos prolongar a educação da juventude só por não termos a menor ideia do que fazer para a salvar. Em vez de nos felicitarmos pelo nosso progresso, sempre que a escola assume mais uma responsabilidade que até então pertencera aos pais, faríamos melhor se confessássemos que chegámos a uma fase da civilização na qual a família é irresponsável, ou incompetente, ou indefesa, e em que não podemos esperar que os pais formem os filhos adequadamente (...).
T.S. Eliot, Notas para uma Definição de Cultura, Lisboa, Século XXI, 1996.
Publicado pela primeira vez em 1948, confirmado pelo autor em 1961.
5 comentários:
Ah! Mas relativamente a esta análise, bem lúcida por sinal, hoje há que acrescentar:
1º, Não é só a incompetência das famílias em formar os jovens, mas é também a das EMPRESAS (e de outras organizações sociais, como a igreja, por exemplo), que a escola tem de compensar e/ou substituir!
E 2º, confessemo-lo: hoje a preocupação não será tanto a de proteger os adolescentes da sociedade, mas é mais a de proteger esta dos adolescentes... Ou não será assim?
Subscrevo.
E quanto ao 2º comentário do Rui (bem-vindo à mourama, e felicidades), :-)
O problema é mesmo esse: o conceito de "passar pela escola" confudir-se cada vez mais com o conceito de educação. Mais vale ir trabalhar.
JR
grande post
Ora aí é que a porca torce o rabo!
"todos devem passar pela escola" (diferente de a escola deve passar todos, entenda-se).
Beijinho
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