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13 outubro 2008

pelos seus 85 anos

(devia estar frio, na praia da Areia Branca)

a tua mãe, por exemplo, a idade pode ter-lhe dado sabedoria de muita coisa que nem tu de olhos arregalados vês, insistia ele. a tua mãe, que eu já a vi, acerta na corda da roupa sem olhar. é verdade, agarra nas roupas brancas e atira-as ao ar como se fossem para cair no chão, e elas ficam na corda pendendo meio para cada lado, exactamente o suficiente para não verterem dali e não se perderem de asseio.
(...)
sabe, senhor paulo, as mães são como lugares de onde deus chega. lugares onde deus está e a partir dos quais pode chegar até nós. porque só através delas nos encontramos aqui. e, por isso, não há mãe alguma que não mereça o céu, porque, em verdade, as mães transportam o céu dentro delas, e multiplicam-no a custo, como um ofício.

valter hugo mãe, o remorso de baltazar serapião, QuidNovi, 2006

(exemplos de outros postais sobre a minha mãe aqui e aqui )

21 junho 2008

o que é a internet?

Mãe (apontando para o meu portátil aberto) - Isso é que é a Internet?
Eu - Isto é um computador com Internet.
Mãe - Vi na televisão que a Internet é perigosa. Há homens que marcam encontros com crianças e é muito perigoso.
Eu - Não é bem assim.
Mãe - Então, o que é a Internet?
Eu - A Internet é como se fosse um mundo paralelo a este: há bibliotecas, jardins, casas de amigos, cafés, supermercados, passeios, avenidas, mas também tem vielas, becos escuros, bares de alterne, jogos clandestinos, enfim, há de tudo, pode-se encontrar de tudo, pode-se comprar quase tudo. Não penso que seja mais perigoso que este mundo aqui, que a Mãe vê.
Mãe - Mas na televisão disseram que um pai descobriu que o patrão tinha marcado encontro com a sua filha de 11 anos.
Eu - Pois, mas a Mãe não sabe que idade a miúda disse que tinha, pois não?
Mãe - Não...
Eu - Pois... na Internet pode mentir-se mais, pela protecção do anonimato que a distância permite, mas nem sempre se mente melhor, porque, ou as relações se ficam pelo virtual e aí não há consequências muito gravosas dessas mentiras (por vezes, as pessoas criam outras realidades), ou as relações passam a barreira da virtualidade e aí as mentiras, mais tarde ou mais cedo, são descobertas.
Mãe - Já não estou a perceber bem o que estás a dizer...
Eu (continuando) - Aliás, a mentira, mesmo nas relações tradicionais, sempre existiu. Sempre houve enganos, aldrabices, burlas, roubos... nem acho que a Internet os tenha potenciado. Apenas os modificou. Agora só precisamos de nos adaptar a esta nova forma de nos relacionarmos, de nos conhecermos, e de aprendermos a ganhar algumas defesas e a ler alguns sinais.
Mãe - Não sei bem o que estás a dizer, mas tem cuidado.
Eu (abraçando-a com um beijinho) - Está bem, Mãe.

14 abril 2008

«estudar» ao piano e outros divertimentos

A minha mãe contou-me umas das suas histórias de infância. Falávamos do nosso piano. Ela nunca soube cantar nem tocar. Sempre o disse e todos sempre o soubemos. Por isso me surpreendi quando me começou a dizer:
- Eu às vezes também me sentava ao piano a estudar.
- A estudar ao piano? A Mãe?

- Sim, sentava-me a estudar. A avó tinha um cavalo grande, em cima do piano e eu ficava ali a estudar o modo de o tirar de lá e de o montar. Teria aí uns cinco anos. Estudei, estudei e lá descobri como subir para o piano, tirar de lá o cavalo e montá-lo.
- E depois?- Montei-o e ele partiu-se todo. E depois apanhei.- Os cacos?- Apanhei da minha mãe. Ela gostava muito daquele cavalo. Mas as crianças são assim. Sempre a estudar maneiras para se distraírem. Eu passava os dias sozinha com a criada, tinha de arranjar alguma coisa para não me aborrecer. Às vezes passava tardes a penteá-la. Ela sentava-se eu penteava-a, penteava-a. Vocês agora têm uma vida melhor, mas a nossa teria, talvez, mais peripécias. Já te contei aquela do tio João e do médico? Parece mesmo uma anedota.
E o serão continuou.

(* Estas histórias que aqui conto da minha mãe são publicadas com o seu consentimento.)

13 outubro 2007

Parabéns, Mãe!

A minha mãe faz anos hoje e vamos reunir a família.
Deste núcleo, já não estamos todos, mas os que faltam estão connosco no coração.
As famílias são assim: crescem, multiplicam-se, uns vão, outros vêm.
Muitos beijinhos, Mãe!

22 maio 2007

E ela celebrava o dia dos meus anos

(nós as duas, no dia dos seus anos, em Outubro de 2006)

A 22 de Maio de 1952 morria a Adrianinha, minha irmã mais velha, a primeira filha que a minha mãe teve, em Outubro de 1946, um ano após o casamento (pós-guerra, Setembro de 1945).
Durante anos ela ia ao cemitério por flores.
Mais dois filhos. Mais dois mortos, à nascença.
Depois, chegámos «nós, os quatro macacos», como ela dizia a rir (os naturais do Bombarral são macacos, assim como os de Lisboa alfacinhas). O meu irmão João já partiu, vai fazer 5 anos. Restamos três.
Já tinha ela três filhos (seis partos), quando aos 42 anos engravida de novo. Foi o resultado das saudades de uma viagem a Itália com uma tia, opinava eu (para implicar com ela), durante a qual o meu pai e minha avó ficaram a tomar conta das crianças.
O fim do tempo era em Junho.
Maio aproxima-se.
Ela enerva-se: «E se nasce antes do tempo? E se nasce a 22 de Maio?»
22 de Maio era o dia da ida ao cemitério, de limpar e de pôr flores na campa da Adrianinha.
Nervos acumulados, preces «que ela não nasça a 22 de Maio, que ela não nasça a 22 de Maio», mas de nada serviu.
A 22 de Maio, mal o sol despontava, eu nascia!
Igual à outra.
Quanto ao nome, muitas indecisões. Está bem, que fique com o mesmo nome.
A grande diferença foram as idas ao cemitério que nunca mais se fizeram a 22 de Maio.
Nesse dia havia festa, prendinhas, amigos pela casa, muita alegria.
Conseguiu sempre esconder qualquer tristeza que lhe pudesse toldar os olhos, ocupada como estava a fazer os bolos e a assegurar-se de que a festa era sempre um sucesso.
Nesse dia ela celebrava o dia dos meus anos.
Parabéns à minha mãe!

(sim, é verdade, o título é inspirado em A. Campos)