A minha mãe contou-me umas das suas histórias de infância. Falávamos do nosso piano. Ela nunca soube cantar nem tocar. Sempre o disse e todos sempre o soubemos. Por isso me surpreendi quando me começou a dizer:
- Eu às vezes também me sentava ao piano a estudar.- A estudar ao piano? A Mãe?
- Sim, sentava-me a estudar. A avó tinha um cavalo grande, em cima do piano e eu ficava ali a estudar o modo de o tirar de lá e de o montar. Teria aí uns cinco anos. Estudei, estudei e lá descobri como subir para o piano, tirar de lá o cavalo e montá-lo.
- E depois?- Montei-o e ele partiu-se todo. E depois apanhei.- Os cacos?- Apanhei da minha mãe. Ela gostava muito daquele cavalo. Mas as crianças são assim. Sempre a estudar maneiras para se distraírem. Eu passava os dias sozinha com a criada, tinha de arranjar alguma coisa para não me aborrecer. Às vezes passava tardes a penteá-la. Ela sentava-se eu penteava-a, penteava-a. Vocês agora têm uma vida melhor, mas a nossa teria, talvez, mais peripécias. Já te contei aquela do tio João e do médico? Parece mesmo uma anedota.E o serão continuou.
(* Estas histórias que aqui conto da minha mãe são publicadas com o seu consentimento.)
5 comentários:
São histórias como essas que nos fazem sorrir em momentos tristes.
Sou de origens muito humildes, sempre fui pobre, mas tenho um tesouro que poucos terão: as histórias contadas pela minha avó. Era capaz de ficar horas sem fim a ouvi-la. Hoje que ela já partiu, ficaram as histórias, aquelas histórias que ela me contava durante tanto tempo para me fazer comer o prato da sopa.
Aproveite cada minuto desse tesouro que a sua mãe lhe dá, não há nada que o pague.
Cartas-a-si,
Aproveito muito estas conversas com a minha mãe, sim.
:)
Um abraço.
Gostei muito desta história. Fez-me lembrar histórias da minha mãe e da minha avó.
... Sentada ao piano, a estudar! :-)
Delicioso!!!
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