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06 outubro 2009

Falar estrangeiro

No meio das memórias que as arrumações trazem, lembrando os meus professores de Literatura Latina:
«Por que razão o historiador romano Fábio Pictor escrevia em grego?»
Para ser lido pelos gregos, claro.
Fábio Pictor narrava os feitos de Roma, culpava Aníbal pela Segunda Guerra Púnica e tudo isto em grego.
O mundo civilizado era grego.
Horácio bem o disse, mais tarde:

Para quem escreveria um romano em latim, a explicar os porquês das suas invasões e desejos de domínio de tudo quanto era economia florescente e próspera?

Não seria para os outros romanos, que esses não precisavam de ouvir razões (muito menos ler, que era saber de poucos).
A história escrita em grego era uma maneira de dar explicações a quem, apesar de tudo, se respeitava ou, provavelmente, se invejava a grandeza.
Será daí que veio a nossa predisposição para falar «estrangeiro» na nossa terra?

05 outubro 2008

quando alguém nasce, nasce selvagem, não é de ninguém

Nas minhas domingueiras arrumações encontrei um livro de Chadwick (que usei bastante como fonte dos meus Hércules), The Mycenaen World. Percorro o livro em busca de sublinhados, numa espécie de auto-voyeurismo. Encontro (e traduzo):

No sistema grego [de atribuição de nomes], as mulheres usam o nome do pai em genitivo* se são solteiras e o do marido se são casadas; ainda hoje, na Grécia, permanece o hábito das mulheres casadas terem o apelido em genitivo.

*O genitivo é o caso que indica a posse (como o caso possessivo em Inglês).

27 junho 2008

«o artista é como um pato numa barraca de tiro»

(imagem daqui. Carregue para aumentar)

Reencontro os livros do José Carlos Fernandes, um dos autores que mais gosto. Reparem que não disse um dos autores de Banda Desenhada. JCF é um pensador. Como alguém um dia disse (num jornal espanhol, creio), os seus textos ainda são melhor que os seus desenhos.

Não tenho como digitalizar a página que aqui reproduzo apenas em palavras, mas assim poderão ver o nível do texto. A ambiência é semelhante à acima apresentada. Deixo-vos com uma prancha do volume III - As Ruínas de Babel - de A Pior Banda do Mundo.

8. O Desporto Nacional

Kaspar Grosz, secretário-geral do Partido Impopular Idiossincrático, considera que os inquéritos têm efeitos pernicionos.
- O cidadão comum é tão frequentemente solicitado a responder a inquéritos, sondagens, eleições e referendos, que se convenceu de que a sua opinião tem algum préstimo.
Sobretudo no domínio artístico, pois uma vez que neste existe uma forte componente subjectiva, logo assumem que qualquer opinião é tão boa como qualquer outra.
Assim, tornou-se comum que criaturas que ignoram o que seja um hemistíquio ou uma hipálage discorram com à vontade sobre literatura, ou que, desconhecendo o que seja um pizzicato, uma semi-fusa ou até mesmo um contrabaixo, emitam juízos definitivos sobre música!
Todos parecem ter uma necessidade imperiosa de espalhar a 4 ventos a amálgama de ignorância e preconceito que faz a vez do gosto educado e da cultura.
Frederico Bayer, designer de pastelaria [cumprimentando um músico]
-Ouvi a sua «sonata sub-sónica» para mega-harpa e contra-ocarina... não está má, mas julgo que o acorde final deveria ser maior e não menor.
(...)
[continua Kaspar Grosz]
- Nos tempos que correm, o artista é como um pato numa barraca de tiro: qualquer burgesso que pague bilhete se julga com direito a disparar sobre ele!