06 outubro 2009

Falar estrangeiro

No meio das memórias que as arrumações trazem, lembrando os meus professores de Literatura Latina:
«Por que razão o historiador romano Fábio Pictor escrevia em grego?»
Para ser lido pelos gregos, claro.
Fábio Pictor narrava os feitos de Roma, culpava Aníbal pela Segunda Guerra Púnica e tudo isto em grego.
O mundo civilizado era grego.
Horácio bem o disse, mais tarde:

Para quem escreveria um romano em latim, a explicar os porquês das suas invasões e desejos de domínio de tudo quanto era economia florescente e próspera?

Não seria para os outros romanos, que esses não precisavam de ouvir razões (muito menos ler, que era saber de poucos).
A história escrita em grego era uma maneira de dar explicações a quem, apesar de tudo, se respeitava ou, provavelmente, se invejava a grandeza.
Será daí que veio a nossa predisposição para falar «estrangeiro» na nossa terra?

3 comentários:

Gi disse...

Não sei, mas lembra-te que dois séculos mais tarde os romanos cultos falavam grego, que os russos cultos falavam francês...
Eu acho que às vezes são palavras de outra língua/cultura que dizem melhor o que pretendo.

Xantipa disse...

:)
Os romanos cultos nunca deixaram de falar grego.
:)
O próprio Catão o terá ensinado ao filho (li isso não sei onde e há muito tempo), apesar de todas as invectivas contra o grego.
Os romanos (já Fábio Pictor assim pensava) consideravam o latim demasiado rude para expressar certas ideias.
Deve ser por isso que os grupos de rock portugueses começaram por cantar em inglês...
:)
O teu caso é diferente.
Aliás, hoje em dia, com tanta informação e leitura que fazemos, certas ideias já as aprendemos noutras línguas e expressá-las na nossa parece sempre uma tradução.
Não é isso a que te referes?
Beijinhos

Gi disse...

Acho que tens razão em tudo o que disseste neste comentário. Bjs.