02 agosto 2007

Felizes os pobres de espírito

Instaste-me a comentar aqui o teu postal, caríssimo Miguel.
Sabes que gosto de te ler e das coisas que escreves e o meu comentário não será grande, até porque a última coisa de que tenho vontade é de discutir a existência de algum tipo de deus. É, de facto, um assunto que não me ocupa minimamente o espírito.
Sempre que se fala nisso lembro-me do filme A Última Tentação de Cristo, de Martin Scorsese. Estive a ver se encontrava o guião e, ao lê-lo, fiquei contente por me lembrar bastante bem da parte que aqui queria referir: quando S. Paulo encontra Jesus e lhe diz que a fé que as pessoas têm é superior à própria existência daquele homem que diz ser Jesus, termina afirmando:
«I'm glad I met you. Now I can forget you. My Jesus is much more powerful.»

Quanto aos «pobres de espírito», «feeble minded» não é uma boa tradução. Essa é a tua tradução inglesa do texto português. Pode ter sido escrito originalmente em aramaico, mas o que possuímos são textos gregos. E aí está escrito: μακάροι οι πτωχοι τω πνεύματι (não sei fazer todos os acentos aqui) - felizes os pobres (pobres mesmo, miseráveis, pedintes) de espírito.
A interpretação tradicional segue este raciocínio: um pobre é o que não tem; se não tem, está vazio; se está vazio tem lugar, tem espaço. Espaço onde? No seu espírito. Para quê? Para perceber e receber Deus.
De resto, esta explicação em nada invalida o teu raciocínio. Apenas corrige que o Reino de Deus é para quem tem lugar para ele...
Beijinhos!

3 comentários:

Lúcio Ferro disse...

Vanitas vanitatum, dixit Ecclesiastes, vanitas vanitatum et omnia vanitas...

Esse "reino" tem dois defeitos: o primeiro é que não se vê e o segundo é que já se matou mais em nome dele do que em nome de outra coisa qualquer.

Miguel G Reis disse...

Ola Xantipa

Ui, que rico comentário, tinha razão em pedir-te que o fizesses. ;-)

A tua citação é excelente, e de certa forma demonstra o meu ponto: a fé ''não é deste mundo''. É fundamental para o ser humano, mas tem apenas a ver com processos internos, nao com o mundo exterior. Nesse sentido, Jesus é um ídolo como outro qualquer (o que, em parte, explica a animosidade dos judeus face aos cristãos). A propósito desta ideia, os Monty Python têm sketchs brilhantes no Life of Brian.
Esta questão é para mim muito interessante pois encerra problemas filosóficos importantes, especialmente a nível epistemológico.

Quanto aos pobres de espírito tens toda a razão, obrigado pela correcção.

Beijinhos!
:)***

Xantipa disse...

Caro Lobo Solitário,
Obrigada pela visita. E sobre o reino, o não se ver ainda é o menor dos defeitos...
;)

Querido Miguel,
Referes a Vida de Brian! Há séculos que não vejo isso, mas lembro-me que me ria sempre muito! Os Mounty Python são brilhantes!
:)***