Outras das lendas a circular recentemente, dá conta que há raptos de pessoas nas lojas chinesas para lhes tirarem os órgãos...
Esta lenda é nova?
Parece uma coisa recente, mas não é. Esta ideia de que há um grupo de pessoas, normalmente estrangeiros, que rapta gente para lhes tirar os órgãos em seu benefício está registada pelo menos desde o século XVIII. Em Lyon, França, houve uma revolta das pessoas mais pobres da cidade que invadiram a faculdade de medicina, porque se dizia que os cirurgiões raptavam crianças para as dissecarem. E, segundo outra versão, dizia-se que lá dentro vivia um príncipe a quem faltava um braço. Então, todas as noites raptavam uma criança na esperança de arranjarem um braço que servisse. Claro, que em ambas, os maus são pessoas de uma classe superior, gente tão estranha que é quase estrangeira, e da qual se pode esperar tudo, exactamente como agora no caso das versões sobre as lojas chinesas. O que é de facto impressionante é que no século XVIII era impossível fazer transplantes, mas as pessoas acreditavam. Esta lenda conta-se, por exemplo, relativamente à América do Sul. Contou-se há anos relativamente a Moçambique.
A Internet também é campo fértil para este mitos...
A transmissão da literatura oral por via escrita não é uma coisa recente, nem pouco mais ou menos. Os impressores que publicavam as primeiras edições de livros no século XV já publicavam folhetos com textos de origem oral. Portanto, isso é velho como a imprensa.Claro que no passado, antes de uma lenda como esta do roubo de órgãos humanos chegar a outro continente, teria que passar muito tempo. Hoje basta carregar num botão. E há realmente muitas lendas a circular na Internet, enviadas por e-mail, que são apresentadas como um facto.
Porque é que estas lendas surgem?
Mas no mundo moderno, informado e globalizado de hoje é difícil acreditar que se dê credibilidade a estas coisas, ou não?
Acho que muitas das coisas que se dizem sobre a globalização são ditas sem reflexão histórica. Hoje diz-se que as crianças só querem pizzas e hambúrgueres e videojogos americanos, e que ninguém liga às nossas tradições. Bom, já pensou que o cristianismo, algo tão ligado à tradição europeia, é uma religião oriental? Nasceu no Oriente, difundiu-se na Europa através dos Romanos e veio abafar todos os deuses que existiam nos países europeus. Essa substituição foi de tal maneira forte que nós hoje, pouco ou nada sabemos sobre a religião dos nossos antepassados Lusitanos. Sabemos o nome de um ou dois deuses, mais nada. Mais nada. Portanto esta ideia de que a globalização é uma coisa digital, dos dias de hoje, não é verdade.
Mas como é possível que as pessoas acreditem neste tipo de coisas?
Bem, essa questão que me coloca é fruto de teorias filosóficas que, penso, não são anteriores ao século XVIII e ao Iluminismo. Era a ideia de que a instrução muda as pessoas. Ensinando as ciências, factos, as coisas positivas (que se podem experimentar), as pessoas iriam recusar tudo o que é sobrenatural. No século XVIII, acreditava-se que a Humanidade vivia um estádio intermédio em que os pouco instruídos ainda estavam muito ligados ao sobrenatural, mas que as elites instruídas, sobretudo republicanos e anticlericais, já tinham ultrapassado essa fase. E acreditavam que, no futuro, a religião desapareceria porque não faz sentido e todas as coisas se explicam pela ciência. A verdade é que isto não é assim. Aquilo que os factos provam, é que a esmagadora maioria da população ocidental não chegou a esse estado previsto pelos positivistas. Repare, hoje em dia está na moda o New Age, e tudo aquilo que tem a ver com as antigas filosofias orientais está vivíssimo. E não apenas entre o povo, mas pelo contrário nas classes médias e altas. Repare, na Rússia, ao fim de anos e anos de anti-religião, quando o regime caiu, as igrejas encheram-se de novo.
Então, acha que o sobrenatural há-de acompanhar sempre a espécie humana?
5 comentários:
É por estas e por outras que eu não vou às lojas chinesas. Livra!!!...
Maria
Lendas urbanas são:
1-O Simplex
2-A redução do nº de desempregados
3-O aumento da qualidade de vida
4-A redução da corrupção e criminalidade...
5 Acesso rápido, universal e gratuito á justiça...
Querem mais lendas e mitos?
Há cerca de um ano, aqui no Porto, um taxista contou-me essa história, indicando-me a loja e contando-me que a senhora tinha sido salva no último momento pelo marido, quando já lhe iam cortar qualquer coisa!
Achei muito interessantes as lendas urbanas do anónimo em cima :)
Cara Redonda,
Pois é, as lendas apresentadas pelo anónimo são interessantes...
Quanto à versão do taxista, é interessante como se pode ver que estas lendas estão por todo o lado e vêm de muito, muito longe.
Beijinho
Fiquei a saber que no século XVIII já havia lojas dos chineses. Será que nessa altura também já teriam incentivos fiscais para se implementarem? ;)
Beijoca!
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