12 junho 2009

armas de arremesso

(imagem daqui)

Este blogue tem andado paradinho há mais de uma semana.

Em casa, estive uns dias sem net. Na faculdade, não me davam acesso a ele por conteúdo suspeito (julgo que devido ao post das orgias e bacanais). Enfim, o muito trabalho, a correcção dos exames dos maiores de 23 (antigos ad-hoc), uma greve, e a falta de disposição deram nisto: ausência prolongada.
Esclarecida a situação (obrigada a todos os que me pediram para voltar), publico um post que tinha inicado há cerca de um mês e que versava a concordância do adjectivo com o nome. Como, infelizmente, iremos ouvir mais deste género, este poste não está ainda desactualizado.
(Acabei de fazer um busca no google e lá está, citado ainda este mês de Junho).

Na boca (ou na pena) de políticos ou de jornalistas, tenho ouvido com regularidade na rádio (oiço diariamente de manhã, as notícias na Antena1) que isto ou aquilo não deviam ser «armas de arremesso político».
Arremesso político?
O que será um arremesso político?
aqui vos falei da minha incapacidade para entender bem o que me dizem.
Infelizmente, a frase foi muito repetida e percebi que se referiam a armas de arremesso na política. Portanto, se haveria de haver uma concordância era com armas e não com arremesso. Arremesso é o determinativo de armas e são elas que indicam o género e o número do eventual adjectivo ou o número do verbo:
Não se diz «O meu banco de dados pifaram»
nem
«Tenho dois fatos de banho amarelo».
Agora, se eu disser «Quero duas fatias de bolo redondo», significa que quero duas fatias de um bolo que é redondo.
Se disser «Quero duas fatias de bolo redondas», significa que quero duas fatias que sejam redondas (não sei qual a forma do bolo, mas sei a das fatias) .
Esperaríamos, então, que os políticos e os jornalistas dissessem (e escrevessem) «armas de arremesso políticas», pois políticas são as armas e não os arremessos. Até porque aqui (diferente do exemplo do bolo, mas semelhante ao fato de banho) arma de arremesso é um tipo específico de arma, funcionando como uma locução substantiva .

9 comentários:

tiomanuel disse...

Porque não propõe ao Ministério umas aulas curriculares ao referidos políticos e jornalistas a que se refere, separados, evidentemente, dos "maiores de 23" que não têm culpa nenhuma?

Unknown disse...

"Armas de arremesso político". Não sou linguísta, mas a sua explicação é claríssima e certamente correcta. No entanto, como mero exercício, não poderíamos conceber um "arremesso político" no sentido de que pode haver arremessos não-politizados? Reconheço, obviamente, o absurdo do conceito, mas como disse, é só um exercício.

Xantipa disse...

Tiomanuel,
É verdade que faz lhes falta. Também faz falta que os jornais contratem revisores, as editoras contratem revisores (nem todas os têm) e a Assembleia da República tenha bons revisores e linguistas, de maneira a que as leis não saiam cheias de erros, como me contam os meus amigos advogados.
Obrigada pela visita!

Francisco,
Podemos fazer esse exercício e aí, claro, podíamos (e devíamos)falar em arremesso político. Tal como posso falar em banho amarelo («Ontem pus uns sais de limão na banheira e tomei um banho amarelo»), mas já não estava a falar no fato de banho nem, com o exemplo que dá, estaria a falar de armas de arremesso.
Eu também não sou uma linguista pura. Dedico-me a uma coisa mais antiga a que se chama filologia.
:)
Obrigada pela visita!

Anónimo disse...

Princípio de Peter - Terei lido há muito: "Quando te estão a dizer palavras bonitas, não te estão a informar, estão a enganar-te!" E mais não disse, de oportunistas, etc. Na Russia Estaliniana um cidadão falando sózinho - dizia, malandros, bandidos, filhos disto e daquilo. O Polícia colocou a mão no seu ombro e disse: Está preso por ofender o governo! Mas eu não estava a falar dele mas de outro alguém, disse o homem espantado e assustado. E diz a autoridade: Mas definiu-os muito bem...

tiomanuel disse...

O "banho amarelo" do Francisco lembra-me uma das mais deliciosas e idiotas frases dos jornalistas desportivos que consiste em tranformar um jogador que é castigado com um cartão amarelo num jogador "amarelado".
Nestas circunstancias, o castigo devia ser um banho, mas em vez de sais de limão sugiro a submersão em vários quilos de limão.

Elaine Gaspareto disse...

Olá!
Estou passando para conhecer seu blog um pouco melhor.Também quero desejar uma semana maravilhosa, com muitas coisas boas...
Beijos e fique com Deus.

Anónimo disse...

Os jornalistas bem que estão a precisar de umas boas aulas de português, não duvide. E o problema é que o vírus é contagioso e alastra de forma vertiginosa. Uma autêntica "pandemia" nacional.

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara bloguista, sempre que por aqui passo, aprendo qualquer coisa.
Em Portugal é caso raro. Bem haja!

Xantipa disse...

Cara Elaine,

Obrigada pela visita e pelas palavras!
:)

Caro Carlos,

Há quem escreva muito bem e há jornais que têm revisores. Mas, infelizmente, e relativamente ao assunto do post, na minha busca da net li a citação de um político que dizia: «arma de arremesso na política» e o comentário do jornalista, no mesmo artigo, dizia «armas de arremesso político»...
E obrigada pela visita e comentário!
:)

Cara Helena,

A sua visita e comentário muito me honram.
Obrigada!
:)