17 setembro 2006

Enigmas e oráculos

É sabido que os gregos gostavam de enigmas e, em situações muito concretas, foram eles a origem de grandes males. No oráculo de Delfos, a Pitonisa (ou Pítia) expressava-se de um modo ambíguo, de maneira a que raramente falhasse. Creso, rei da Lídia, terá perguntado o que aconteceria se atacasse a Pérsia. A resposta foi que um império seria destruído. Creso avançou, perdeu, e o seu império foi destruído.
Proponho aqui alguns enigmas da Antologia Palatina. A tradução é de Albano Martins.

a) - (O enigma mais famoso...)
Há no mundo um ser com dois, quatro, três pés
e que tem sempre a mesma voz. Ele é o único, de quantos
se arrastam na terra, sobem no ar e mergulham
no abismo, cuja postura muda.
b)
Sou filho branco dum pai preto. Pássaro
sem asas, voo até às nuvens do céu.
Aos bonitos olhos que encontro faço brotar lágrimas,
sem dor. Uma vez nascido, dissipo-me no ar.
c)
Quem me vê não me vê e, não me vendo, contempla-me.
Não falando, faço falar; não correndo, faço correr.
Não passo duma mentira, e digo sempre a verdade.

d) - (para nós, os dois últimos versos podem servir para distrair, mas as outras pistas ainda são válidas hoje me dia!)
Só a mim é permitido o amor com as mulheres
às claras, e a pedido dos maridos.
Só eu possuo os rapazes, os homens, os velhos,
as raparigas, diante dos parentes aflitos.
Detesto o impudor. A mão do médico
gosta que eu execute um dos trabalhos de Hércules.
Sempre pronto a salvar aqueles a quem me uno,
lutaria até com Plutão, pelos meus amantes.
Associando à cabra o elefante, o engenho dos homens
produziu um filho de couro de dente branco.

A resposta virá amanhã...
Para quem estiver com muita pressa, pode ir a antologia de Albano Martins, do mundo grego outro sol, Lisboa, Edições Asa, 2002.

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