13 setembro 2006

Os «antigos-ricos»


Quaisquer semelhanças com a realidade não são pura coincidência

«Os empréstimos assentavam na hipoteca da liberdade pessoal - como já foi dito - e a terra encontrava-se nas mãos de uma minoria.
5. Uma vez que a constituição tinha esta estrutura e a maioria das pessoas era escrava de um pequeno número, o povo sublevou-se contra os poderosos. 2. A luta foi acesa e as duas facções mantiveram-se frente a frente durante muito tempo, até que, de comum acordo, escolheram Sólon como árbitro e arconte, confiando-lhe a direcção da cidade;
(...)
6. Depois de se haver tornado senhor da situação, Sólon libertou o povo tanto no presente como para o futuro, ao proibir os empréstimos sob garantia pessoal. Além disso, promulgou leis e procedeu a um cancelamento das dívidas, fossem privadas ou públicas, medida que os Atenienses designam por seisachtheia, porque vieram a desfazer-se de um fardo.

(Aproveitadores e espertalhaços... houve sempre!)

2. Servindo-se destes factos, alguns procuram denegrir-lhe a imagem: na verdade, aconteceu que Sólon, quando se preparava para implementar a seisachtheia, referiu previamente essa intenção a alguns notáveis. Em consequência, pelo que afirmam os democratas, foi vítima de uma manobra preparada pelos amigos; segundo os que o querem caluniar, também ele tomou parte na fraude. Essas pessoas teriam contraído empréstimos a fim de adquirirem grandes extensões de terra, pelo que, pouco depois, quando se procedeu ao cancelamento das dívidas, haviam enriquecido. Segundo se diz, é daí que provêm os que, mais tarde, ficaram conhecidos por «antigos-ricos».

Aristóteles, A Constituição dos Atenienses, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. Tradução de Delfim Ferreira Leão, que ganhou, com este trabalho, o Prémio de Tradução da União Latina 2004

Sem comentários: