26 junho 2009

Épica Menor...

... é o nome do último livro de poemas de António José Ventura, desta vez editado pela Gente Singular (o site não está actualizado, infelizmente, mas tem lá o mail para onde podem escrever e pedir o envio do livro).
Ainda não tive oportunidade de ir a nenhuma das apresentações, mas comprei o livro no Pátio de Letras. Tem uma ilustração («um pássaro do paraíso») de Costa Pinheiro e um estudo no final, que pode ser lido se seguirem a ligação que está no nome do poeta, acima.

Os poemas estão agrupados em quatro grupos.

Deixo aqui dois, da primeira parte (que se intitula «A casa, o mundo e as estações»).

Um tem título:


«As pétalas de rosa»

A luz é a água da rosa. Branca
numa jarra, desabrocha para a sala
pondo a natureza na casa. E eis
que caem as pétalas uma a uma.
Termina o instante da rosa.


Outro não tem:

Sou um arqueiro de um exército em fuga.
Passei fome e frio nas estantes da biblioteca
ferido pelas palavras refugiei-me no litoral
numa furna onde não me atingem as ondas.
Estou num estado de completo silêncio,
apenas me fazem companhia os mexilhões e as lapas,
alimento-me de moluscos.
Começo a ouvir o movimento da maré
o rumor do mar subindo pela praia.
Em breve terei de abandonar o meu esconderijo
e decerto serei feito prisioneiro pelo exército das vozes.
A natureza não me pode salvar
apenas encontrarei abrigo na cidade
servindo as forças vencedoras.

25 junho 2009

no círculo

Vou estar ali, mesmo no centro do círculo de sophia, no dia 4, às 21. A falar de mitos, pois então.

Diz a newsletter:

Caro amigo(a).

Vamos ter Mitologia no Círculo de Sophia!

A Professora Adriana Nogueira, classicista entusiasta de muitos outros saberes irá apresentar-nos uma agradável Palestra acerca de alguns Mitos que têm acompanhado a Humanidade.

“Os mitos são, geralmente, histórias baseadas em tradições e lendas feitas para explicar o universo, a criação do mundo, fenómenos naturais e qualquer outra coisa a que explicações simples não são atribuíveis. Mas nem todos os mitos têm esse propósito explicativo. Em comum, a maioria dos mitos envolvem uma força sobrenatural ou uma divindade, mas alguns são apenas lendas passadas oralmente de geração em geração.”

Certos, do interesse que este tema suscita, contamos com a vossa presença e participação na tertúlia que terá lugar após a palestra.

Cumprimentos e até sábado

Os amigos do Círculo de Sophia

Isilda e José Carlos

Temática: Mitologia/Filosofia

Programa Mensal

Mês de Julho 2009

04/07/2009
pelas 21:00 horas

Género: Palestra/Tertúlia


Morada:
Largo de S.Francisco
nº49, 2º - 8000 Faro


Tel: 937533031

E-mail: circulosophia@gmail.com

Web: circulosophia.blogspot.com

22 junho 2009

curva algébrica

x = a \cos t \sqrt{2 \cos (2t)}; \qquad y = a \sin t \sqrt{2 \cos (2t)}

(daqui)

Esta é a fórmula que corresponde ao prémio que o Miguel gentilmente me atribuiu e que muito agradeço. Estou sempre a aprender!


(Aproveito para agradecer ao Tomás Vasques a tão simpática referência que me fez)

Fui procurar o blogue criador do selo abaixo apresentado e encontrei a razão da sua existência:
«O selinho foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos leitores»
As sete escolhas seguiram um critério tão inválido e injusto como outro qualquer: conhecer pessoalmente o autor.

Ponteiros Parados (bem... é amigo de amigo... conta, não conta?)
Rua da Abadia (o nepotismo em todo o seu esplendor)
Bandeira ao Vento
(então, pá, e os nossos projectos?)
Chá de Letras (amizades cinéfilas, literárias, profissionais e chazeiras)
A dignidade da diferença (é mais falador no blogue)
Delito de Opinião (lamentavelmente, só conheço um... mas conta, não conta?)
Dário Guerreiro - a prosa (aprendemos muito sobre os alunos com os seus blogues)

21 junho 2009

inconsistência

Como os leitores deste blogue se terão apercebido, normalmente não uso este espaço para dizer mal. Para que queixar, sim (do mau serviço da Divani ou da TMN, por exemplo), mas má-língua, não.
Mas, por vezes, há coisas que me incomodam de tal modo, que penso: «Vou pôr no blogue», como se o blogue fosse o amigo a quem temos que telefonar sempre que nos acontece qualquer coisa. De bom, normalmente. De menos bom, por vezes.

Hesitei em escrever este desabafo, mas cá vai: incomoda-me muito a inconsistência. Pessoas inconsistentes. Ideias inconsistentes. Livros inconsistentes. Personagens inconsistentes.
Por razões que apenas a mim se devem, estou a ler um livro de um jornalista que escreve romances. Aquilo lê-se depressa, mas não sei se consigo continuar. Talvez o faça, para respeitar o meu «princípio da não-desistência», mas está difícil. Tive de parar.

Às vezes penso que gostava de ser daquelas editoras à americana que lêem os manuscritos e fazem os seus comentários, dialogando e discutindo com o autor, de modo a que este possa corrigir, reformular ou manter a sua decisão (que será forçosamente mais consistente, depois de ter tido de a defender). Uma editora que pudesse dizer ao autor:

«Já reparou que a sua personagem não é credível? Desde quando um professor universitário de História, consultor de entidades prestigiadas e selectas como a CIA, não sabe o que é a tundra? Ou, perante a informação de que a uma igreja que vê na praça Vermelha, em Moscovo, não é o Kremlin (ele não é um turista. É doutorado em História.), parece amuar, recusa-se a ver o complexo, recusando também a realidade, dizendo que, para si, aquela igreja seria sempre o Kremlin, «dissessem o que dissessem»? «Dissessem», quem? Os historiadores como ele. A realidade.
Uma atitude tão pouco sensata (para não dizer tão incongruente) não se adequa a um investigador.

Mais: um conhecedor profundo de línguas antigas, que sabe hebraico e grego, que conhece a cabala, que decifra enigmas, perante a necessidade de ler um único nome em russo (o nome de da cidade para a qual se dirige e que se encontra escrito no autocarro que necessita tomar) diz que não sabe cirílico? Impossível. Qualquer pessoa que saiba grego sabe ler a maioria dos caracteres cirílicos. É básico. Pode não reconhecer todas, mas muitas letras são semelhantes. Nunca se sentiria completamente a zero.»

Isto diria eu como editora à americana. Mas nem à portuguesa sou.
Parei aqui e ainda não consegui retomar.
Já não podia mais com as conversas que a personagem mantinha com outras personagens. Como pode alguém, contratado pela Interpol por ser o mais destacado na sua área, comportar-se como um imbecil, a quem é necessário explicar muitas vezes as mesmas coisas?
É bem-feita. Ninguém me mandou meter-me nestas leituras, até porque o livro nem faz parte da minha biblioteca.
Para me redimir, comecei agora mesmo a ler O Homem Lento, do Coetzee, e já me sinto recompensada.

19 junho 2009

Lendas da fundação de Roma - Curso Livre

Querida Gi,

Lembrei-me de ti quando vi o anúncio deste curso que a Ana Alexandra vai dar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Pelo que conheço dela como colega, posso garantir que vai ser muito interessante e muito bem explicado.
Quem morar em Lisboa vai ter mais facilidade do que tu, pois são duas vezes por semana, 2h cada.
Pensa nisso. Se fosse sobre Júlio César em vez de Tito Lívio, irias sem hesitar, não era?
Tenho de perguntar ao se não quer ir. Ele é todo virado para estas coisas das antiguidades e tem um conhecimento de latim (e grego) que não é de desprezar.

Fica bem e até um dia destes!

17 junho 2009

Auto-avaliação

Vou observar-me com toda a atenção, vou fazer uma coisa da maior utilidade: avaliar com cuidado cada um dos meus dias.
Habitualmente, ninguém auto-analisa a própria vida, o que só contribui para acrescer os vícios.
Todos pensamos no que estamos a fazer, e mesmo isso raramente, mas não atentamos no que já fizemos, quando afinal as decisões quanto ao futuro estão dependentes do passado.

Séneca, Cartas a Lucílio, 83,2. Tradução de Segurado Campos para a FCG.

12 junho 2009

armas de arremesso

(imagem daqui)

Este blogue tem andado paradinho há mais de uma semana.

Em casa, estive uns dias sem net. Na faculdade, não me davam acesso a ele por conteúdo suspeito (julgo que devido ao post das orgias e bacanais). Enfim, o muito trabalho, a correcção dos exames dos maiores de 23 (antigos ad-hoc), uma greve, e a falta de disposição deram nisto: ausência prolongada.
Esclarecida a situação (obrigada a todos os que me pediram para voltar), publico um post que tinha inicado há cerca de um mês e que versava a concordância do adjectivo com o nome. Como, infelizmente, iremos ouvir mais deste género, este poste não está ainda desactualizado.
(Acabei de fazer um busca no google e lá está, citado ainda este mês de Junho).

Na boca (ou na pena) de políticos ou de jornalistas, tenho ouvido com regularidade na rádio (oiço diariamente de manhã, as notícias na Antena1) que isto ou aquilo não deviam ser «armas de arremesso político».
Arremesso político?
O que será um arremesso político?
aqui vos falei da minha incapacidade para entender bem o que me dizem.
Infelizmente, a frase foi muito repetida e percebi que se referiam a armas de arremesso na política. Portanto, se haveria de haver uma concordância era com armas e não com arremesso. Arremesso é o determinativo de armas e são elas que indicam o género e o número do eventual adjectivo ou o número do verbo:
Não se diz «O meu banco de dados pifaram»
nem
«Tenho dois fatos de banho amarelo».
Agora, se eu disser «Quero duas fatias de bolo redondo», significa que quero duas fatias de um bolo que é redondo.
Se disser «Quero duas fatias de bolo redondas», significa que quero duas fatias que sejam redondas (não sei qual a forma do bolo, mas sei a das fatias) .
Esperaríamos, então, que os políticos e os jornalistas dissessem (e escrevessem) «armas de arremesso políticas», pois políticas são as armas e não os arremessos. Até porque aqui (diferente do exemplo do bolo, mas semelhante ao fato de banho) arma de arremesso é um tipo específico de arma, funcionando como uma locução substantiva .

02 junho 2009

ignorantia legis neminem excusat

Rimando:
O desconhecimento da lei não desculpa ninguém

Infelizmente, não entendo de leis.
Como sabem, não sou de Direito, mas sempre ouvi dizer que o desconhecimento da lei não pode ser usado para que esta não seja cumprida (agradeço ao meu velho amigo
Xiclista a frase latina no título deste post).
Se isto é assim, por que não aprendemos leis desde pequeninos, na escola? Não é que ache mal as novas matérias que se pretendem impor, como a Educação Sexual, mas acredito que os jovens não só sabem mais desse assunto (através dos pais e amigos) como sabem onde procurar informação fidedigna e gratuita (nos centros de saúde, por exemplo).
E de leis?
Onde pode um jovem aprender a ler uma lei? Qual a diferença entre uma lei e um decreto-lei? Que significa todo aquele arrazoado que, por vezes, parece estar a ser pronunciado noutra língua? Até onde vai o poder dos juízes? Que apoio podemos ter do Ministério Público?
Se a leitura da Lei fosse fácil, não seriam necessários tantos pareceres para a interpretar. E, como muitos sabemos, nem todos os juízes a interpretam da mesma forma.
É importante conhecer os nossos direitos e deveres directamente da fonte. Conhecer a Constituição da República Portuguesa. Lidar, desde cedo, com nomes como Código Penal, Código Civil, matéria cível e outras coisas de que não me lembro agora.
Perceber o alcance da União Europeia e dos seus órgãos, para os quais terá de votar depois dos 18 anos.
Suponho que ninguém do Ministério da Educação leia o meu blogue, mas acho mesmo uma boa ideia que se introduza a disciplina de Direito nas escolas ou algo como Português Jurídico, para que sejamos menos enganados.