23 agosto 2008

Da natureza dos homens (bons)

Os Gregos (e os Romanos também - veja-se César, descendente de Vénus) gostavam de apresentar um deus na origem da sua família. Heródoto conta-nos esta lição dada pelos sacerdotes egípcios, sobre a natureza humana dos... homens:

«trezentas gerações correspondem a dez mil anos, pois três gerações equivalem a um século, e além das trezentas gerações as quarenta e uma restantes correspondem a mil trezentos e quarenta anos.

Então, durante esse período de onze mil e trezentos e quarenta anos, dizem os sacerdotes, não houve rei algum que fosse um deus sob forma humana, nem aconteceu isso antes ou depois desse período entre os restantes reis dos egípcios.

O historiador Hecateu esteve antes de mim em Tebas, onde traçou para si mesmo uma genealogia que vinculava sua linhagem a um deus na décima sexta geração de seus antepassados.

Mas os sacerdotes de Zeus fizeram para ele o mesmo que fizeram para mim, que não lhes havia apresentado a minha genealogia. Eles me levaram ao grande pátio interno do templo e lá me mostraram estátuas colossais de madeira, contando-as até o número que já me haviam dado, pois cada sumo-sacerdote deixa lá enquanto vivo um estátua sua; contando-as e apontando para elas, os sacerdotes mostraram que cada um deles herdou a função sacerdotal de seu pai, e começando pela estátua do último sacerdote morto eles me fizeram passar diante de todas as estátuas.

Então, quando Hecateu traçou sua genealogia e reivindicou para seu décimo sexto antepassado a condição de deus, os sacerdotes também traçaram uma genealogia de acordo com o seu método de computação, pois não se deixariam convencer da possibilidade de um homem descender de um deus; eles traçam a genealogia ao longo da fileira completa de trezentos e quarenta e cinco estátuas colossais, chamando-as Píromis, filho de Píromis, mas sem associá-las com qualquer antepassado, deus ou herói (píromis em língua helênica significa apenas um homem bom).

Assim eles mostraram que todas aquelas pessoas cujas estátuas se alinhavam lá haviam sido homens bons, mas estavam muito longe de ser deuses»

(texto de Herótodo daqui)

4 comentários:

Lúcio Ferro disse...

Bem, como é da natureza dos homens (bons), esta passa. Mais uma lição, para quem não dá ponto sem nó, até que é interessante e nos ensina muito sobre o que nós (homens bons) efectivamente somos.


Gostei do blogue, penso regressar.

zeladorpublico disse...

Boa tarde
Interessante o blogue e que bastante nos elucida.
Mas estava convencido que uma geração era 25 anos..li que um século são 3, fico na dúvida.
Ou não?
Irei passando, para averiguar..
Cumprimentos

Xantipa disse...

Lúcio,
Obrigada pela visita.

José,

A contagem das gerações, hoje em dia, não é consensual. Não investiguei como os Gregos a contavam, mas quando souber digo-lhe!
Um abraço

António Conceição disse...

Se pensarmos que todas as pessoas têm dois pais, quatro avós, oito bisavós, 16 trisavós, 32 tetravós, 64 pentavós... e por aí fora, ao fim de 300 gerações (2 elevado a 300), não há quem não descenda de deuses.
Na "História Universal da Estupidez Humana" conta-se que no século XVII, na Áustria, se viveu uma invulgar febre genealógica. Não havia cão vadio endinheirado que não pagasse a um especialista, para este lhe construir a árvore genealógica. Invariavelmente, os melhores (e mais caros) faziam remontar a ascendência do cliente aos parentes de Jesus Cristo.
Num castelo qualquer dos arredores de Viena há ainda hoje um quadro que representa a castelã a ajoelhar-se diante de Nossa Senhora e esta a impedir-lho, dizendo-lhe em legenda: "ora, prima, entre parentes não há estas formalidades"!