08 março 2007

Dia Internacional da Mulher

Tinha pensado deixar este dia em branco...
Mas decidi que não, que iria dizer alguma coisa.
Não acho muita graça ao dia disto e daquilo, com toda a parafernárlia comercial que se segue, mas tal como se comemoram datas importantes da história nacional ou mundial, o dia em que 130 mulheres morreram queimadas numa fábrica em Nova Iorque, em 1850, por defenderem os seus direitos, parece-me justo que se celebre, para que a memória não esqueça.
«Que parvoíce as flores, que parvoíce os jantares só de mulheres! Não quero essa rosa!», tenho ouvido as minhas colegas dizerem neste dia. Por ser este dia, porque noutro qualquer não acahariam mal.
Mas a verdade é que somos umas privilegiadas.
Por muito tempo fui assim: só convivia com mulheres como eu, com liberdade, independência económica e intelectual (bem... talvez...), que também eu não via com bons olhos fazer parte de uma minoria que tem de ser lembrada para que os seus direitos não conquistados sejam postos em destaque, pelo menos uma vez por ano...
Mas uma vez pude conviver com outras mulheres. Mulheres muito diferentes de mim. Mulheres com salários mínimos, filhos, maridos possessivos e até agressivos. Este dia é o único em que podem almoçar ou, as mais ditosas, jantar ou mesmo ir a um bar com amigas. Só mulheres, claro, que com um homem eles não deixariam.
Não deixariam.
É o único dia em que alguns deles lhe dão uma flor, em que os colegas de trabalho lhe dão um mimo, em que todos lhes sorriem quando passam e as tratam um pouco melhor.
É triste, mas um dia hoje... outro amanhã... não podemos fazer muito por estas mulheres...
Direitos, já têm. Prática... não prevejo que aconteça tão cedo...
É também altura de lembrar aos nosso alunos e alunas, filhos e filhas, que só em 1977 o Código Civil mudou, permitindo às mulheres serem chefes de família. Carolina Beatriz Ângelo fundou, em 1911, a Associação de Propaganda Feminista, a primeira portuguesa a votar, dado que era viúva e a lei permitia que os chefes de família exercessem esse direito. E é de lembrar que, para impedir que isto voltasse a acontecer, em 1913, a Lei 3, 3/7/1913 passou a especificar «chefes de família do sexo masculino».
E é de lembrar que em 1949 proibiu-se a co-educação.
E é de lembrar que só depois de 1969 as mulheres casadas puderam passar a deslocar-se ao estrangeiro sem autorização do marido.
E é de lembrar que, se o marido matasse a mulher era punido com três meses de desterro fora da sua comarca, enquanto que a mulher que matasse o marido só teria esta pena se ele tivesse outra mulher a viver lá em casa («concubina teúda e manteúda pelo marido na casa conjugal»)!
Bem...
Acho que chega para lamentar que isto seja recordado apenas num dia por ano.
Que comece com um dia...

7 comentários:

carneiro disse...

Vamos lá a ver se percebi.

Então comemoras, hoje, por causa do passado que descreves.

Esqueceste-te de invocar o tempo das cavernas, quando as mulheres eram arrastadas pelos cabelos...

Desculpa, querida amiga, mas do mesmo modo que não peço desculpa às ex-colónias - onde nunca meti os pés -, nem aos africanos - que nunca escravizei -, nem aos judeus - que nunca queimei na fogueira -, também não peço desculpa às mulheres - a quem nada fiz daquilo que invocas.

Na minha geração sempre foi 50-50. E "isto" chega, sem mais comentários, para definir uma atitude de vida.

Do ponto de vista da discriminação não devo nada a mulher alguma. Embora tenha presenciado - vezes demais - mulheres a pretenderem a diferenciação apenas pelo facto de serem mulheres - como se essa qualidade, por si só, justificasse o que quer que fosse.

Discursos históricos como o teu só conseguem suscitar complexos de superioridade intelectual que, de outro modo, nunca sentiria.

Que raio de lembrança a tua.

Miguel G Reis disse...

Ai que regresso!!!
Excelente post!

Beijinhos
:)***

Unknown disse...

Depois de ter terminado com o "Postaias da Novalis" para me dedicar mais à astrologia, tenho aproveitado este tempo para desenvolver mais os conceitos evolutivos dos signos do zodíaco, como base elementar desta nossa reencarnação.

Aqui fica o convite para conhecer melhor o signo onde está o seu sol de nascimento, assim como o dos seus familiares e amigos.

Copie-os para o word, para melhor poder reflectir sobre o signo mais importante do do seu zodíaco.

Agradeço comentários no sentido de melhorar os textos, aprofundando-os.

Um abraço,

António Rosa

Xantipa disse...

Querido Carneiro,

Por acaso imaginei um comentário assim teu...
:)
É bom sabermos que há pessoas que são firmes e seguras, pois também nos passam a sua firmeza e segurança.
:)
Por ser comodista e não gostar de polémicas, pensei deixar a data em branco, como comecei por dizer.
Ou escudar-me nos meus antigos...
Mas depois resolvi escrever o que penso.
É bom saber que temos amigos que não nos abandonam só por causa da diferença de opiniões!
Obrigada pelo teu comentário!
Beijinhos!

Querido Miguelão (devo-te esta! Lolol),
Fico contente por teres gostado! Muito, mesmo!
Beijinhos!

Caro António,
Continuação de bom estudo!
Abraço

quirites disse...

Pois, o problema é que muitas mulheres nem neste dia podem saír com autorização do marido...

Anónimo disse...

Ainda bem que comemoraste.
Há ainda tantas mulheres, como tu dizes e só para falar no nosso país que ainda não sabem o que é a prática de direitos iguais.

Anónimo disse...

A emancipação feminina é parte inseparável da luta pela emancipação humana.
kzqywFaz tu o teu dia!...