30 junho 2007

As Mulheres no Parlamento (1)

Esta peça de Aristófanes inicia-se com as mulheres a conspirarem para irem ao Parlamento (que se localizava na Pnix, uma pequena colina de Atenas), vestidas com as roupas dos maridos e levando barbas postiças.
Objectivo? Fazer com que eles decidam entregar o governo da cidade a elas, por serem as mais sensatas.
Este passo é interessante, porque, entre outras coisas, mostra muitas das actividades exercidas na vida caseira e a visão que os homens tinham das mulheres (o que justifica que se descrevam, por vezes, de forma pouco elogiosa. Não nos esqueçamos, porém, que este texto foi escrito por um homem, há cerca de 2500 anos) Neste trecho estão sozinhas, ainda a tentar decidir quem, de entre elas, as vai representar como oradora. Por isso divertem-se com algumas das graças mais comuns sobre si próprias. A escolhida foi Praxágora, com este discurso:

Que os hábitos delas são melhores que os nossos é o que passo agora a demonstrar. Para começar, mergulham a lã em água quente, à moda antiga, todas elas, e não se vê que estejam dispostas a mudar. Ao passo que a cidade de Atenas, mesmo se uma coisa dá resultado, não se julga a salvo se não engendrar qualquer inovação.
Fazem os seus grelhados sentadas, como dantes; trazem fardos à cabeça, como dantes; celebram as Tesmofórias, como dantes; cozem bolos, como dantes; estafam os maridos, como dantes, metem amantes em casa, como dantes; compram gulodices, como dantes; gostam de uma boa pinga, como dantes.
Por isso é a elas, meus senhores, que temos de confiar a cidade, sem mais discussão, sem sequer nos preocuparmos com o que pensam fazer. Dêmos-lhes carta branca para governarem. Consideremos apenas estes pontos: primeiro, que, se são mães, vão dar tudo pot tudo para salvarem os soldados; segundo, no que respeita à comida, quem mais solícito que uma mãe para reforçar uma ração?
Ninguém mais furão que uma mulher para arranjar umas massas; no poder, não há quem lhe faça o ninho atrás da orelha, porque a fazer o ninho atrás da orelha quem é que lhes leva a palma?!
Bom, adiante! Vão pelo que vos digo, que hão-de levar uma vidinha regalada.

Na verdade, o que efectivamente dizem na assembleia excluiu as partes que as podiam denegrir, ficando só as virtudes. E isso fica para o próximo postal.

3 comentários:

Anónimo disse...

Mulheres gregas ou de qualquer outro pais, terão sempre dificuldade em ascender a qualquer lugar ao competir com os homens.
Por muito que as mentalidades mudem, eles julgam-se sempre superiores.
Ignoram onde estiveram durante nove meses das suas vidas!...

spring disse...

olá xantipa!
texto maravilhoso este que nos faz pensar. texto antigo? bem actual!
beijinhos
paula e rui lima

Miguel G Reis disse...

Bom, discordo do anónimo.
As mulheres é que se acham inferiores, os homens querem lá saber! Eles estão bastante mais interessados em ter comida no prato, ver o jogo de futebol, e mamar umas cervejolas. Caramba, é favor as mulheres pararem com o raio do discurso da vítima (algo, já agora, tipicamente feminino)!

Como dantes, como dantes...
Realmente, as mulheres sao o berço do conservadorismo. LOLLLLLL

A peça é deliciosa. O Aristófanes é magnífico.

Beijinhos grandes
:)***