A Arte de Amar, de Ovídio, está dividida em três livros, sendo os dois primeiros «dirigidos aos homens e o terceiro às mulheres. O primeiro visa, genericamente, ensinar o homem a seduzir a mulher; o segundo, a conservar o amor, depois de concluído, com êxito, o processo de sedução; o terceiro engloba o mesmo conjunto de ensinamentos, mas, desta feita, dirigidos à mulher.», diz Carlos André, autor da tradução publicada pela Cotovia.
Segue-se um excerto do livro III:
«Rara é a beleza que está livre de defeito; disfarça os defeitos
e, tanto quanto puderes, esconde as mazelas do teu corpo.
Se és pequena, senta-te, para, de pé, não pareceres sentada,
e estende-te, por pequena que sejas, no teu leito;
mesmo aí, para não poderem tirar-te a medida, quando estendida,
esconde os pés, lançando-lhes por cima o manto;
a que é delgada demais, vista roupa de pano grosso
e faça cair dos ombros um manto largueirão;
a que tem uma cor desmaiada traga no corpo riscados de púrpura;
se és morena em demasia, parte em busca da ajuda de tecidos de Faros;
o pé chato deve ficar sempre resguardado dentro de sapato branco e fino,
e pernas descarnadas não devem andar sem correias;
ficam bem pequenos chumaços em ombros altos;
à volta do peito raso deve sempre passar um corpete.
Deve acompanhar de gestos curtos tudo quanto disser aquela
que possui dedos gordos e unhas sujas;
a que tem mau hálito nunca fale em jejum
e guarde senpre distância do rosto do seu homem;
se tens dentes negros ou grandes ou tortos,
enorme é o teu prejuízo quando te rires.»
(261-280)