27 junho 2007

Tabernices III - Provocações: regimes políticos e sociedade

(esqueci-me ontem de relembrar que foi dia de Taberna. Este é o postal ali publicado)

Gosto muito de ler os Antigos.
Porém, quando transcrevo passos dos clássicos, não está em causa a concordância com o que dizem, mas a minha constante admiração pelas questões que já então colocavam. Gosto das provocações que nos fazem, mas não os podemos encarar como regra nem lei!


Aqui vai uma provocação extraída da Política, de Aristóteles, em edição bilingue, traduzido por António Capelo Amaral e Carlos de Carvalho Gomes , editado pela Vega em 1998, com prefácio e revisão literária de R.M. Rosado Fernandes.

Deve-se primeiro definir o que constitui a disposição para a realeza, para a aristocracia, e para o regime constitucional.
Assim, destina-se a ser governado por um rei o povo que, por natureza, produz uma família que, graças à sua virtude, dirige os assuntos políticos.
Destina-se ao regime aristocrático o povo que produz naturalmente um corpo de cidadãos capazes de serem governados como homens livres por chefes aptos, graças à sua virtude, para dirigir os negócios da cidade.
O povo destinado ao regime constitucional é aquele em que existe um corpo de indivíduos com capacidade militar, e que podem governar e serem governados conforme a lei que reparte as magistraturas entre cidadãos abastados e segundo as suas virtudes.
1288a6-15
E a democracia? interroguei-me. Respondeu-me:

Aquando da primeira investigação sobre os regimes, sublinhámos que existiam três regimes rectos, a saber: realeza, aristocracia e regime constitucional, e que eram igualmente três os desvios em que podiam incorrer, a saber: a tirania como desvio da realeza, a oligarquia como perversão da aristocracia, e a democracia como perversão do regime constitucional.
1289a25-30
Bem, isto não se fica por aqui. Para a semana conto o que entendia Aristóteles por democracia. E, para desanuviar, aqui fica uma salada grega, a horiatiki:

6 comentários:

Anónimo disse...

www.pnet.pt ---- muitas gaijas .... mas sem estarem nuas

Anónimo disse...

os clássicos tiveram o mérito de colocarem perguntas essenciais e encontrarem muitas respostas (não me atrevo a dizer todas). Leituras que deviam ser obrigatórias para os alunos do nível secundário e releituras para todos nós. Talvez o mundo fosse melhor, embore eles próprios o não tenham conseguido.

spring disse...

olá
quando lemos os clássicos descobrimos que os dias de hoje são bastante áridos, no respeitante a pensadores (porque a palavra de ordem é "penso logo desisto") infelizmente...
beijinhos
paula e rui lima

Xantipa disse...

Caro(a) Sem Nome,
Concordo. Lar os clássicos e outros! Ler, ler!
:)

Paula e Rui,
Os antigos deixaram muito, mas houve evoluções. O problema é que se esquecem as questões colocadas por todos os filósofos ao longo doa séculos e, algumas vezes, parece que nascemos ontem e não há nada antes de nós, nem filosofia, nem história, memória, etc.
Beijinhos

Miguel G Reis disse...

Ola Xantipa

Bom, a primeira parte parece-me assim um pouco como que fraca: então dizer que um certo regime existe, numa dada região, por existirem condições para isso, nada justifica. O mais interessante será saber as causas que levam ao aparecimento desse regime em particular. E para o fazer, a meu ver, o melhor veículo é a análise histórica e política.

A dos desvios tem piada. É como falar de degenerescências. Impurezas. Discordo, como quase sempre me acontece com o que diz o Aristóteles. Evolução é o conceito essencial para uma interpretação mais fundamental; mas para isso é necessário o conceito de tempo, do qual Aristóteles não gostava assim muito. Enfim...

Beijinhos
Miguel

Xantipa disse...

Ihihi
Miguel, gostei que tivesses reagido à provocação, porque disso se tratava, como o nome indica.
Claro que é como dizes. Aliás, começo por dizer que não concordo com tudo o que dizem os «meus» clássicos, mas que ajudam muito a pensar o presente, ajudam...
Beijinhos