Às voltas com as arrumações, abriu-se esta dedicatória nas primeiras três páginas do livro que a minha sobrinha R., que eu adoro, me ofereceu num dia do meu aniversário, há muitos anos atrás:
Querida Tia (A Tia):
É a primeira prenda que te ofereço em dezanove anos, de modo que a responsabilidade que fulmina os meus frágeis ombros é demasiada!
De qualquer modo, momentos solenes (e felizes) nunca se desperdiçam, por isso vou dar o meu melhor na minha (também) primeira dedicatória que te escrevo.
Este livro é a condensação da desilusão do português suave. Senti o cinzento da melancolia de Lisboa que há tanto tempo esqueceu o que é ser a sede do V Império, a monotonia quer do cidadão comum que sabe que não consegue raiar a mediania, quer do pretenso revolucionário apenas acalentado pelos sonhos da revolta, mas sufocado pela realidade da rotina.
E há ainda a mediocridade arrogante da Elsa Galvão, a personificação de tantos e tantos compatriotas que manipulam subrepticiamente o nosso quotidiano.
Gostei do sarcasmo e da ironia, da auto-crítica despida do barroco que o constatar da decadência acarreta sempre.
Acima de tudo, gostei e espero que gostes.
Despeço-me, finalmente, porque já me alonguei demais. Nem devo ter dito nada do que ensejava, mas pelo menos, se fui eu que escrevi, alguma coisa esta dedicatória há-de ter de mim. Deve ter muito, considerando que a escrevo para ti.
P.S. É sempre bom trocarmos umas ideias sobre todos os assuntos! (Toda a gente se esquece disso!)
P.S.2: Desculpa ter utilizado tantos pontos de exclamação. Cada vez que uso um lembro-me sempre do insuperável Adrian Mole que, ao receber uma carta de amor de uma rapariga que não corresponde aos seus elevados parâmetros intelectuais, afirma peremptoriamente que não seria capaz de casar com alguém que recorresse tão frequentemente e indiscriminadamente às exclamações.
Apesar de tudo, tal afirmação permaneceu na minha memória e, inexplicavelmente, não posso deixar de pensar que ele tem alguma razão! (Ah! Ah!)
Querida Tia (A Tia):
É a primeira prenda que te ofereço em dezanove anos, de modo que a responsabilidade que fulmina os meus frágeis ombros é demasiada!
De qualquer modo, momentos solenes (e felizes) nunca se desperdiçam, por isso vou dar o meu melhor na minha (também) primeira dedicatória que te escrevo.
Este livro é a condensação da desilusão do português suave. Senti o cinzento da melancolia de Lisboa que há tanto tempo esqueceu o que é ser a sede do V Império, a monotonia quer do cidadão comum que sabe que não consegue raiar a mediania, quer do pretenso revolucionário apenas acalentado pelos sonhos da revolta, mas sufocado pela realidade da rotina.
E há ainda a mediocridade arrogante da Elsa Galvão, a personificação de tantos e tantos compatriotas que manipulam subrepticiamente o nosso quotidiano.
Gostei do sarcasmo e da ironia, da auto-crítica despida do barroco que o constatar da decadência acarreta sempre.
Acima de tudo, gostei e espero que gostes.
Despeço-me, finalmente, porque já me alonguei demais. Nem devo ter dito nada do que ensejava, mas pelo menos, se fui eu que escrevi, alguma coisa esta dedicatória há-de ter de mim. Deve ter muito, considerando que a escrevo para ti.
P.S. É sempre bom trocarmos umas ideias sobre todos os assuntos! (Toda a gente se esquece disso!)
P.S.2: Desculpa ter utilizado tantos pontos de exclamação. Cada vez que uso um lembro-me sempre do insuperável Adrian Mole que, ao receber uma carta de amor de uma rapariga que não corresponde aos seus elevados parâmetros intelectuais, afirma peremptoriamente que não seria capaz de casar com alguém que recorresse tão frequentemente e indiscriminadamente às exclamações.
Apesar de tudo, tal afirmação permaneceu na minha memória e, inexplicavelmente, não posso deixar de pensar que ele tem alguma razão! (Ah! Ah!)
9 comentários:
Lembro-me bem deste livro e desta dedicatória. Foi depois de me teres falado nele que o comprei e li. (apetecia-me usar um ponto de exclamação, mas...não! Não vá aparecer um Adrian Mole!!!)
Lembro-me bem da tua sobrinha R., da vossa deliciosa relação e, por tudo isso, releio o seu P.S. e penso na necessidade de trocarmos ideias sobre tudo. Ah! Como há tanta gente a esquecer-se disso!
Não resisto às exclamações. teresap
Mas que bela dedicatória e que bem escrita que está! Justifica-se plenamente a sua inserção aqui. Pergunto-me o que andará hoje R. a fazer que foi capaz de escrever isto (percebi bem?) aos 19 anos? Qualquer coisa de especial, tenho a certeza.
Querida Teresinha,
Lembro-me bem nesse aniversário, no chinês da rua que ia dar ao Chile.
E acho sempre que devemos trocar ideias sobre todos os assuntos.
Caro Rui,
A minha R. é hoje professora numa universidade e mantém a inteligência e candura de sempre. Especial, sim.
"coisas que alegram a vida" sem dúvida alguma!
Que delicia de dedicatória :)
Parabéns às duas *
Que bonito :-)
...tem qualquer coisa.
Querida Xantipa,
para mim, o Mário de Carvalho é o melhor ficcionista português da actualidade. Tive a honra de o entrevistar. A Ofertante teve olho.
Entretanto, anuncio-Lhe a insignificância do meu come back.
Aqui, com o conchego Doutros:
http://corta-fitas.blogs.sapo.pt/
Beijinho
Xantipa, gostei do que a sua sobrinha lhe escreveu, e por fim desvendei um mistário que há muito me martelava o cerebro mas não conseguia desvendar. Afinal foi a sua sobrinha e Adrian Mole que o desvendou. Pois a partir daqui vou imendar a minha forma de escrever... se for capaz.
Bj
Maria
Não há reconhecimento maior do que quando quem adoramos do fundo coração reconhece o valor que temos para essas pessoas. De facto a dedicatória está lindissima. Muitas felicidades para ambas.
Um beijinho
Ana Paula
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