Na terça-feira, dia 8, ouvi Ivo de Castro no canal 2, num programa da Universidade Aberta. A propósito das regras gramaticais, este Professor Catedrático de Linguística referiu o largo espectro que medeia entre o erro e a forma mais elevada de expressão na Língua Portuguesa, referindo que essa forma é a usada pelos escritores. Mas logo, matreiro, contou uma anedota que nos põe a pensar...
Encontrando um dia o já clássico Augusto Abelaira, este confessou-lhe ter produzido um texto que, depois, ao ser relido, lhe levantou dúvidas quanto a uma determinada construção. Para sanar a questão, Abelaira fora consultar a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Sintra. Procurara e encontrara: a construção que estava a usar e da qual duvidara estava atestada na gramática, tendo como base o uso literário de um autor consagrado. Era esse autor... Augusto Abelaira!
Ivo de Castro relatou esta conversa a Celso Cunha que terá dito: «Se eu soubesse, não o tinha usado para aquele exemplo».
Quem faz as normas? As regras? As excepções?
Vou ter muito em que pensar nos próximos tempos...
7 comentários:
Penso que as regras podem e devem ser alteradas, sempre que alguém (presumivelmente um escritor)as mude ao escrever e que soem bem.
Se calhar é genérico de mais.
Este post vem mesmo a calhar para demonstrar caminhos sinuosos por onde evolui uma lingua e demonstra que todos somos "inventores" da lingua, mesmo com os nossos erros.
E é muito natural o Prof. Lindley Cintra (que tive o previlégio de conhecer) "validar" qualquer novidade (mesmo que a origem seja um erro duvidoso) introduzida por alguém como Augusto Abelaira, pode-se dizer que é a evolução por via erudita, mas na evolução por via popular os erros repetidos deixam de ser erros e passam a fazer parte do Português corrente.
Post bem oportuno.
Caro Carlos,
Tem toda a razão...
E levanta bem esse problema... eu acho que há erros e erros... Por exemplo, apesar de não usar e de me incomodar ouvir «a gente vamos», compreendo que este erro venha a deixar de o ser. Apesar de nos outros colectivos todos continuarmos a colocar o verbo no singular («a matilha era perigosa», «o rebanho está espalhado pela encosta»,p.ex.), neste há tendência para fazer a concordância com o sujeito enunciador. Disseram-me os meus alunos que, sendos homens, não fazia sentido dizerem «a gente é bonita», quando queriam dizer que eram bonitos. Claro que podiam usar o «nós somos» e resolvia-se a dúvida, mas «a gente» está de tal forma generalizada que me parece quase inevitável que venha a ser aceitável.
Mas, carlo Carlos, há outras formas que não têm razão para entrar (ou sair) e que me repugna ter algum dia de o fazer: por exemplo, já se fala em «erradicar» a 2ª pessoa do plural, «porque não se usa», dizem. Inclusive, se for ver os manuais de Português para estrangeiros, essa forma não consta.
Não sei como se permite uma coisa destas. O Norte, como se sabe, continua a usar essa forma e acho uma falta de respeito a Gramática vir a excluí-la ou a considerá-la de uso residual.
Bem, tínhamos muito que conversar, não acha?
Um abraço e obrigada pela sua participação!
Querida Marta,
Pelo que escrevi ao Carlos, percebes e concordo que se «adicione» formas «originais», mas não concordo que se retirem as que já fazem parte do nosso património linguístico.
Beijinhos!
:)***
cara professora, venho aqui colocar uma questão, pois para o meu trabalho de imagens, tenho um Deus pouco conhecido a que achei bastante piada, chamado Priapus... será possível continuar a fazer o trabalho com esta personagem??
Sim, pode usar Priapo e falar dele.
:)
Xantipa
Realmente é assunto que dá "pano para mangas" e dava para iniciar um forum de comentários sobre a lingua Portuguesa.
Para finalizar a participação no forum e extraindo do seu comentário "... carlo Carlos ... ", será que o "carlo" pode ir para a colecção ??? (hehehe)
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