01 junho 2008

São escolhas

Roubei isto à Marta , que lhe chamou «Solidão». Eu não. São escolhas.

Dois bancos vazios à nossa espera, estando tão longe um do outro, como nós estamos.
Parece perto, bastaria estender a mão e aquietarmo-nos debaixo da sombra acolhedora.
Mas não, cada um de nós se sentou na beira mais longe, nem nos olhamos, por não querermos saber um do outro. Estamos até perto demais…mas continuamos juntos, que 40 anos é tempo imenso, todo das nossas vidas feito.
Há tanto tempo que te devia ter deixado, mas nunca saberei por que não o fiz…talvez ter-te sempre ali à mão, talvez o ter quem me fizesse a cama, me preparasse o jantar, ter companhia, no fundo, nem que fosse a tua, irritante, que não sabes aproveitar a vida, que de tudo dizes mal, que nunca nem por um momento te sentiste feliz.
Talvez o que te menos perdoe é dizeres que gostas das tuas filhas, mas que se não as tivesses tido passavas bem sem elas. Sonhas com uma carreira, com uns estudos que te recusaste a fazer quando amigas tuas recomeçaram a estudar, mas tu não, se calhar para poderes dizer mal de tudo e de todos, como é teu hábito.

Mudo-me para o teu banco, que isto não faz sentido, mas és sempre desagradável…criticas, criticas e voltas a criticar.
Todos os amigos desapareceram por não te conseguirem aturar…rio-me, amigos? Tiveste alguém de quem fosses amiga? Não há nada por mais simples que seja, que não faças dramas.
Ando cansado, mas muito cansado de ti.
É tão triste chegar ao fim da vida e olhar e só ver quem nunca soube amar, minha companheira, que à frente de todos de mim diz mal…cansaço enorme, mas contigo continuo sem saber o porquê.
Agora também já não vale a pena, basta-me estar calado. Qualquer compra que faça tenho de mentir no preço, para não haver discussão, aliás, já nem te conto nada de nada e nem dás por isso, por não conseguires estar calada, mas sempre, sempre a dizer mal e a criticar sem conseguires perceber que passo os dias calado

Deveria estar aqui a gozar esta sombra, esta árvore, este campo, em vez de estar tão amargurado, que nem os vejo.
Estes dois bancos que estavam vazios, são bem o nosso símbolo: Juntos, mas separados, vazios de afectos, vazios de tudo, vazios de nada.
Cansado, tão cansado de esta vida de solidão.
Então penso, que teria sido melhor… deveria ter sido sim, melhor, ter tido coragem para ficar sozinho, talvez não sentisse esta solidão, este vazio.

2 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Este texto impressionou-me!
Porquê?

É o retrato de uma situação em que eu estaria hoje se não tivesse tido a coragem de partir a loiça ao fim de 25 anos de casado. Aguentei aqueles anos porque havia o João e a Lena. Quando eles cresceram inventei a coragem (muita!) que era precisa para pôr tudo em causa.
E nunca me arrependi! Os meus filhos são os meus melhores amigos e não cortaram com a mãe.
Muitas vezes o problema é a falta de coragem para resolver o problema!

Obrigado, Xantipa.
Por isso gosto de frequentar este seu espaço.

Xantipa disse...

Dou-lhe os parabéns, Méon. Muitos não têm a sua coragem!
E obrigada pelo seu apoio ao meu blogue.
:)