A primeira idade a surgir foi a de ouro. Sem justiceiro algum,
sem leis e de livre vontade, cultivava a lealdade e a rectidão.
Não havia castigos nem medo, nem palavras de ameaça (...)
e não havia trombeta direita, nem trompa curva de bronze,
nem capacetes, nem espadas. Sem precisão de soldados,
as gentes viviam numa ociosidade doce, livres de cuidados.
A própria terra, isenta de deveres, intocada pela enxada,
ferida por nenhum arado, tudo dava espontaneamente. (...)
E, então, corriam rios de leite, então, rios de néctar,
e loiro mel pingava do cimo da verdejante azinheira.
Ovídio, Metamorfoses, 89-112 (salteado). Tradução de Paulo Farmhouse Alberto para Livros Cotovia, Lisboa, 2007.
2 comentários:
Este arquétipo da "idade de ouro" - não é a nossa saudade dos tempos felizes de vida na tépida quentura do ventre amterno?
E passamos o resto da vida a sonhar com o regresso a essa maravilhosa e apaziguadora origem...
Isso já não sei... até porque não aguentei os 9 meses e saí mais cedo...
:)
E esta idade do ouro parece-me, às vezes, muito aborrecida!
;)
Bj
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