01 julho 2008

«o amor vive na ponta dos cabelos»


PLUMAS


Através da terra o amor
torna-nos estranhos à terra
liga-nos a uma divina linhagem
com seu tormento inapagável
suas velocidades enormes

O amor vive na ponta dos cabelos

O amor, ditam os frios de coração, é ruinoso
qualquer momento em chamas denunciará a imprecisa inquietação que nos toma

Os inocentes que se amam dizem
teu corpo está a nevar
tua alma é uma flor
um prado tranquilo sua noite

Os inocentes que se amam
por seu tormento elevam-se
como plumas
num chapéu de passeio

José Tolentino de Mendonça, A Estrada Branca, Assírio & Alvim, 2005

No alto de uma pilha, reconheço algumas capas da Assírio. Pego num dos livros, lombada fina.
José Tolentino de Mendonça.
Não sei se é ser preconceituosa (glup), mas não deixo de me surpreender sempre que penso que este homem, que tão bem canta o amor, é padre!
Eu sei, eu sei. O amor de um sacerdote, sim... o amor de Cristo, pois... que até a Bíblia, claro... sim, e o Cântico dos Cânticos (que ele tão bem traduziu para esta mesma editora)...
Mas, que querem? Surpreende-me sempre.

5 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Grande poeta, sim! Gosto muito do que ele escreve. Este poema é de uma beleza tocante!

Preconceito? Onde as tuas palavras nos levariam, Xantipa!
Sou genericamente anti-clerical - no sentido que lhe dá o Padre Mário de Oliveira, lá de cima do Norte - mas tive e tenho amigos padres.
Homens como J T Mendonça estão a pôr os padres no lugar onde devem estar: ao lado de todos nós. E não acima, como antigamente, em que eles adoravam dizer o como e o quê devíamos fazer, como devia ser a nossa conduta. Alguns ainda são assim mas estão, cada vez mais, a falar sozinhos nos templos vazios.

Dia bom!

Xantipa disse...

Eheheh!
Este assunto daria uma bela conversa, sim.
:)
Um bom dia para ti também!

Anónimo disse...

Só alguém que sabe do que está a falar consegue escrever um poema como este.

Amor é sempre amor, seja por uma mulher ou por Deus.

Bonito poema... e verdadeiro...
Estou cansado de poemas falsos.

Cara Senhora,
divirta-se nestas manhãs bonitas que também são "como plumas num chapéu de passeio".

Xantipa disse...

Obrigada, Nuno.
E tem razão. Amor é amor. Não interessa porquê ou por quem.
Um abraço.

Anónimo disse...

"Deus é amor. Amai-vos uns aos outros. Antes de chegar a esse píncaro da revelação do novo testamento, o homem precisa de purificar as concepções completamente humanas que tem do amor, para aceitar o mistério do amor divino - e este passa pela cruz. A palavra 'amor' designa com efeito muitas realidades diferentes, carnais e espirituais, passionais ou refletidas, graves ou ligeiras, libertadoras ou destruidoras. O homem bíblico conhece tudo isso. ..." fui reler há pouco tempo no Vocabulário de Teologia Bíblica.
Gosto de cá vir pois tudo se repete, tudo se transforma, está tudo inventado.
Cumprmts
Sofia