26 novembro 2008

Diz Aristóteles, na Política

A causa da existência de muitos regimes políticos deve-se ao facto de todas as cidades possuírem uma pluralidade de partes. Assim, começamos por observar que todas as cidades são compostas por habitantes reunidos em famílias; em seguida, nessa massa de cidadãos agrupados, existem necessariamente os que são ricos, outros sem recursos, e outros de condição mediana; os ricos possuem armas, os pobres estão desprovidos delas. Vemos também que, no povo, uns são agricultores, outros comerciantes, e outros trabalhadores braçais.
(...)
É evidente que existem necessariamente muitos regimes e em cada um deles, várias formas distintas entre si, uma vez que cada uma das duas partes difere entre si da forma. Um regime é, pois, uma ordenação de magistraturas repartidas por todos conforme o poderio dos que participam no governo, ou a igualdade comum a todos; refiro-me, no primeiro caso, ao poderio dos ricos e dos pobres e, no segundo caso, à igualdade comum a ambos.

(já se está mesmo a ver o que se segue, mas continuo amanhã. A referência é sempre a mesma.)

23 novembro 2008

post descaradamente roubado

Não resisto a roubar este post à Gi:

Seis meses sem democracia

Os antigos Romanos acabaram com a monarquia por não suportarem atitudes tirânicas dos seus últimos reis, e criaram uma série de cargos executivos eleitos por um ano para evitar novas tiranias.

No entanto, quando havia uma situação excepcionalmente grave, podia-se nomear um ditador que estaria no cargo por seis meses durante os quais tomaria as decisões que entendesse, não sujeitas a veto, e pelas quais não responderia criminalmente após o fim do mandato, ao contrário do funcionamento normal da república.

Andará Manuela Ferreira Leite a estudar história da antiguidade?

20 novembro 2008

dor

A perda de seu pai não a chora Gélia quando está só;
se alguém está presente jorram lágrimas de encomenda.
Não sente o luto, Gélia, quem procura ser louvado.
Sente dor verdadeira quem, sem audiência, sente dor.

Marcial, Epigramas, vol. I, Tradução de José Luís Brandão para as Edições 70, em 2000, com introdução e notas de Cristina de Sousa Pimentel

18 novembro 2008

nesta semana sem tempo...

... em que só me lembro das palavras de Séneca e de como não me servem na correria em que ando, obrigo-me a parar e a ler um soneto do novo livro de Nuno Júdice, O Breve Sentimento do Eterno, que me foi oferecido, no sábado, dia 8, quando fui à sua apresentação na bonita livraria Pátio de Letras:

Tempo

Se corre devagar o tempo, e o tempo
não corre, em que relógio contarei
os segundos que se demoram quando as
horas se precipitam, ou o amanhã

que nunca mais chega neste hoje
que já passou? Mas o tempo só o é
quando o perdemos; e ao ver que
é tarde, não se volta atrás, nem

as voltas que o tempo dá o voltam
a fazer andar. Por isso é que o tempo
nos dá tempo para o ter, se ainda

houver tempo; e se tivermos de o perder,
nenhum tempo contará o tempo que se
gastou para saber o que se perdeu, ou ganhou.

17 novembro 2008

Bloqueio da TMN

Uma curta mensagem: estive sem internet quinta e sexta, bloqueada pela TMN por alegada falta de pagamento. Como a rede é tão má aqui em casa e sou tantas vezes impedida de ir à net, pensei que fossem apenas maus momentos. Na sexta lá fui à loja saber o que se passava e afinal era ainda o problema que tenho com eles desde Junho: cobraram-me um valor imenso (nesse mês foram 210 euros!!!), a mim que, mesmo que quisesse, não tinha estabilidade de rede para downloads pesados. Enfim, lá me restabeleceram a ligação. Continuo à espera da resolução deles para este problema.
Já voltarei a escrever e obrigada pela paciência.

12 novembro 2008

Abbey Road

Já falei aqui dela, mas agora que tem um blogue, espero que também a acompanhem. Não sei se vai continuar a escrever em O nascer do Sol, onde tem uma etiqueta só dela, mas serei leitora de tudo o que faz na sua Rua da Abadia.
Não estou a ser nada tendenciosa nem parcial, influenciada pelo amor que lhe tenho, mas a minha sobrinha é excepcional.

09 novembro 2008

II Festival de Órgão - Faro 2008

Fui ontem assistir ao segundo concerto do II Festival de Órgão, na sé de Faro, com Antoine Sibertin-Blanc, numa organização da Associação Cultural Música XXI. Foram cerca de 50 minutos muito bonitos (passaram tão depressa!) de música muito vívida e tocada com muita perícia. Há muitos anos ouvi ali João Vaz (que espero poder voltar a ouvir para a semana).
Para que pudéssemos acompanhar o intérprete, um écran gigante ia transmitindo em directo as imagens de Sibertin-Blanc, a leveza dos seus dedos e a agilidade com que ia mudando os registos. O único problema foram as variações que o realizador (não sei se se chamará assim) resolveu fazer. Em vez de nos deixar acompanhar a música com a visão do intérprete, em momentos-chave, como quando os puxadores mudavam os registos dos tubos, fazia «efeitos especiais», abrindo e fechando a imagem em bolas, em cortina, e outras coisas do género, mostrando os anjos que encimam o órgão, ou os tubos, elementos interessantes, mas cujas imagens serviram apenas para distrair, perturbando o tranquilo acompanhar da interpretação.
Veremos se no próximo sábado (sempre às 21.30) João Vaz terá mais sorte.

05 novembro 2008

Outro prémio

O blogue “Paixões e Desejos”, de Paula e Rui Lima, nomeou o “Senhora Sócrates” com o “Brilhante Weblog”. Agradeço-lhes a simpatia. Aceito sempre os prémios que me entregam, pois comove-me o facto de se lembrarem de mim e desta ágora.
Seguindo as regras, nomeio 7 blogues que gosto de ler (aproveito, já que está tão perto do prémio anterior, por indicar alguns que ficaram de fora da última vez):

Floresta do Sul (blogue de um dos escritores portugueses contemporâneos meus preferidos)
Lauro António apresenta...
Ao rodar do tempo
Pisa-papéis
Dona Redonda
André Benjamin
Sem Pénis nem Inveja

02 novembro 2008

Os mortos vão devagar
É-lhes árdua a subida.
Não há pressas p’ra chegar
Foi difícil a partida

Sobem paulatinamente
Descem muito devagar
Fazem tudo lentamente
É dormente o seu andar.

O tempo não acabou
Não há passos de corrida
Em círculos sempre se andou:
A vida não tem saída.

O adeus é um momento
Que temos de partilhar:
Para nós, o sofrimento,
Aos mortos resta o vagar.

Foi difícil a partida
É dormente o seu andar.
A vida não tem saída.
Aos mortos resta o vagar.

01 novembro 2008

Não somos nós


As Janelas

Nestas salas escuras, onde vou passando

dias pesados, para cá e para lá ando
à descoberta das janelas. - Uma janela
quando abrir será uma consolação. -
Mas as janelas não se descobrem, ou não hei-de conseguir
descobri-las. E é melhor talvez não as descobrir.
Talvez a luz seja uma nova subjugação.
Quem sabe que novas coisas nos mostrará ela.

Konstandinos Kavafis, Poemas e Prosas, Relógio de Água, Lisboa, 1994. Tradução de Joaquim Manuel de Magalhães e Nikos Pratsinis.