17 outubro 2008

medos

(imagem daqui)

Assim falou; e eu dei-lhe a seguinte resposta:


"Ó Circe, como podes pedir-me para ser agradável contigo?

Tu que no teu palácio transformaste os meus amigos em porcos,

e a mim aqui reténs, ordenando-me que vá

para o tálamo e que suba para a tua cama,

de modo a tirares-me coragem e virilidade quando estiver nu.

Fica sabendo que não subirei para a tua cama,

a não ser que tu, ó deusa, ouses jurar um grande juramento:

que não prepararás para mim qualquer outro sofrimento."

Assim falei; e ela jurou logo, como lhe ordenara.

E depois que jurou e pôs termo ao juramento,
foi então que subi para a cama lindíssima de Circe.

Odisseia, X, 336-347

4 comentários:

Anónimo disse...

Leio há mt mas não me atrevo a comentar para não ajavardar, é que basta o nick, mas hoje, porque é um dia feliz, tenho que lhe dar felicitações, sem duvida um blog excelente para a divulgação do que melhor se escreveu. Escreva todos os dias porque quando nao escreve nao tenho muito para reflectir

Xantipa disse...

Que bom ser hoje um dia feliz!
Não me deixo impressionar por nicks javardos, mas apenas por comentários javardos vindos de qualquer nick, por mais sério que seja. Portanto, não receie uma exclusão por causa do seu exterior.
O seu comentário é muito gentil e fico contente pelos momentos de reflexão que o blogue lhe proporciona.
Obrigada por ter comentado.
Um abraço

Anónimo disse...

Muito interessante este trecho.

Aqui se revela o poder do desejo, do qual Ulisses se aproveita sem qualquer escrúpulo aparente - mas também a Odisseia é escrita por um homem, ou por homens, penso eu; e esta submissão sem restrições ao desejo por parte de Circe pode ser mais a expressão de uma fantasia masculina, do que propriamente o retrato dominante da psique feminina... mas não sei realmente.

Curioso realmente, e percebo o título que deu, "medos", como Ulisses receia que Circe o convide para o amor apenas com a finalidade de o esvaziar das qualidades habitualmente consideradas masculinas da coragem e da virilidade. Assim, o pedido de juramento aparece então mais como um teste que um Ulisses receoso (e prudente, diga-se de passagem, já que com os deuses nunca se sabe) faz a Circe.

"(...)a não ser que tu, ó deusa, ouses jurar um grande juramento:
que não prepararás para mim qualquer outro sofrimento."
Só mesmo uma deusa pode jurar e cumprir integralmente uma coisa destas, infelizmente não os seres humanos, mesmo que o desejem com todas as suas forças.

Gostei muito deste post. Obrigado.

Xantipa disse...

Bela leitura do trecho.
Ainda bem que gostou!
Um beijinho