Não ama verdadeiramente quem não amar sempre
Gosto dos episódios das tragédias.
Diz Aristóteles, na Poética, que o episódio «é uma parte completa da tragédia entre corais».
Em muitos destes diálogos estão os momentos de maior tensão, já que vamos assistindo ao evoluir das situações e às perguntas e respostas, muitas vezes entendidas apenas por nós, espectadores, que sabemos bem o que as frases querem dizer, ao contrário das personagens em cena. Recordo como Tirésias diz a Édipo que ele é o assassino que procura e como este não entende as palavras do adivinho, mesmo quando ditas com toda a clareza. São destes episódios que me lembro quando oiço/vejo os diálogos dos filmes com Humphrey Bogart, quando a resposta parece quase ser mais rápida que a pergunta.
Outra característica dos episódios são as frases lapidares, daquelas que apetece citar. Algumas tornaram-se mesmo proverbiais. Gosto de abrir uma tragédia qualquer e sublinhar, com o meu lápis-encontrador-de-belezas (roubado ao Gonçalo M. Tavares), uma frase ao acaso, descontextualizada, como hoje, de Eurípides, As Troianas, 1051, na fala de Hécuba (acusa ndo Helena):
Diz Aristóteles, na Poética, que o episódio «é uma parte completa da tragédia entre corais».
Em muitos destes diálogos estão os momentos de maior tensão, já que vamos assistindo ao evoluir das situações e às perguntas e respostas, muitas vezes entendidas apenas por nós, espectadores, que sabemos bem o que as frases querem dizer, ao contrário das personagens em cena. Recordo como Tirésias diz a Édipo que ele é o assassino que procura e como este não entende as palavras do adivinho, mesmo quando ditas com toda a clareza. São destes episódios que me lembro quando oiço/vejo os diálogos dos filmes com Humphrey Bogart, quando a resposta parece quase ser mais rápida que a pergunta.
Outra característica dos episódios são as frases lapidares, daquelas que apetece citar. Algumas tornaram-se mesmo proverbiais. Gosto de abrir uma tragédia qualquer e sublinhar, com o meu lápis-encontrador-de-belezas (roubado ao Gonçalo M. Tavares), uma frase ao acaso, descontextualizada, como hoje, de Eurípides, As Troianas, 1051, na fala de Hécuba (acusa ndo Helena):
Não ama verdadeiramente quem não amar sempre
8 comentários:
Concordo.
É verdade.
O amor é como os existencialistas dizem que a vida é: a fazer sentido, só faz no fim, isto é, estamos a morrer e pensamos "realmente, amei e fui amado".
As vantagens de virmos ao blog da tia comentar: num breve comentário, verbalizamos o sentido da vida e do amor. Se os Gregos tivessem blogues, meu Deus, já nem haveria mais nada que valesse a pena discutir.
No entanto, gostaria de trazer à liça uma questão: a frase proverbial refere-se a amar sempre a mesma pessoa, ou ao acto de amar sempre? É que se pode amar sempre, mas pessoas diferentes. Eu vou interpretar como amar sempre a mesma pessoa. Isso é que é!
E não é que é verdade mesmo, cara Xantipa? O amor não se compadece com intermitências... tem que ser permanente, ainda que de vez em quando se possa chamar outra coisa qualquer (amizade, preocupação, ódio, raiva...) :-)
Nos clássicos está tudo o que é preciso saber, não há dúvida.
um beijo
Minha querida sobrinha Rita,
Neste contexto, é amar sempre a mesma pessoa. A frase é uma argumentação de Hécuba a Menelau, para que ele não leve Helena no seu barco, pois ela iria conseguir seduzi-lo de novo, depois de todos os males que causou.
Ele responde:
«Depende da disposição de espírito de quem ama. Mas será como queres: ela não embarcará no mesmo navio que eu. Não dizes mal.»
Beijinhos da tia N.
Querida Ana,
É (quase) verdade: nos clássicos está (quase) tudo!
:)
Beijinhos
Frases assim são faróis no meio do nevoeiro dos sentimentos e das emoções. Até que ele se dissipa e tudo brilha renovado e simples. Bjs
Amar sempre a mesma pessoa: chama-se a isso a "constância" no amor.
O contrário das borboletas que andam de flor em flor...
Gosto destas tuas "lições" de clássicos...
Beijinho
Estas poderiam ser as palvras que Antígona diria a Creonte, ainda com as mãos sujas de terra. Antígona preferiu morrer com a consciência viva do seu amor pelo irmão do que viver com uma consciência morta por não ter provado esse amor com actos. Morrendo amando, amou para sempre.
JR
amar sempre, sem interrupções, ou amar para sempre, sem interrpções?
elucida-me.
Gostei da ideia do lápis-encontrador-de-belezas. A frase parece muito verdadeira.
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