30 outubro 2006

Non latine loquor...

... sed saepe lego.

Isto foi só uma gracinha, a propósito da notícia da Visão desta última quinta-feira (p.69):

Fazendo gala da sua tradição do estudo do Latim e num sinal de respeito por minorias eruditas, o sítio da Presidência Finlandesa da União Europeia insere, regularmente, um Conspectus rerum latinus, que é como quem diz, em tradução livre, um «Olhar em latim sobre os assuntos a tratar». Nesse conspectus, lá estão indicações sobre a actividade de Matti Vanhanen, «primus minister Finnorum» e de José Manuel Barroso, «praeses Commissionis Europaeae».
(Nota: na Visão, a última palavra está mal escrita. No site está « Europaeae» - assim mesmo, «aeae» - genitivo de «Europaea», e a revista retira-lhe a última sílaba. Corrigi...)

Também na Finlândia há uma rádio que emite em Latim (Nuntii Latini) e o seu site tem chats (colloquia latina) onde se pode conversar sobre temas diversos com pessoas com nicks como Mucius Scaeuola, Furius Camillus, Beatus Bernardus ou Regiomontanus...

Não falo Latim. Ensino (ensinava...) e estudo esta língua há muitos anos de um modo passivo. Mas elogio a Finlândia, que não sendo herdeira da língua latina (nem indo-europeia!) entende a sua importância e gabo aqueles que se dedicam ao Latim com o empenho necessário para verter Fernando Pessoa («Puerulus matris suae») ou Carlos Drummond de Andrade. É o caso de Silva Bélkior, que passou estes dois poetas para a língua do Lácio (ai, como nós gostamos destas coisas!).

Deixo aqui outra gracinha, tirada do Jornal de Poesia
Carlos Drummond de Andrade
(Tradução: Silva Bélkior )

Bis gemina chorea
lohannes ardebat Theresiam quae ardebat Raymundum
qui ardebat Mariam quae ardebat loachim qui ardebat Lilim
quae ardebat neminem.
lohannes ad Status Foederatos fecit iter, Theresia ad claustrum,
Raymundus fatali obiit casu, Maria vitam vixit virgo,
loachim propria se interfecit manu atque Lilim sibi iunxit J. Pinto Fernandes
qui fabellam non ingressus fuerat.
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. PintoFernandes
que não tinha entrado na história.

8 comentários:

Anónimo disse...

Ipsis verbis, Carlos Drummond. As linguas querem-se vivas e activas... uma lingua morta... desperdício.

Se estou enganado, desculpe, amiga Xantipa... e dir-lhe-ei mais, nesse caso: Felix culpa! :-)

Xantipa disse...

Percebo-o, Voyeur.
Sem culpas!
:)

a mulher do lado disse...

pode sim. também vou te lincar :-)
Adoro esta quadrilha...

Anónimo disse...

Bom dia minha amiga,

Já tive a oportunidade de ver que tens andado ocupada... tenho muito com que me entreter agora.
Já cá volto... ;-)

Era só para desejar um bom dia*

Anónimo disse...

Xantipa,

Latim, para grande tristeza minha, nunca foi uma das disciplinas inseridas nos meus estudos.
Falo a sério quando digo que gostaria muito de aprende-la.
(dizem que é dificil);-)

Anónimo disse...

Também estudei latim, os dois anos obrigatórios do liceu para o meu curso. Mas adorei e achei que me tinha ajudado a raciocinar tanto como a matemática.

Gregorio Salvaterra disse...

Língua morta, é uma maneira de falar...
Como é possível cunnilingus e felatio com uma língua morta?

Reboliço disse...

Mais uma deixa sobre os finlandeses e o latim: uma das traduções da epopeia deles, a Kalevala, é precisamente em língua latina. E foi das mais úteis, como imaginarás, na versão do texto para português.