14 dezembro 2006

Os três géneros - Banquete (1)

(O Banquete para ser ouvido em inglês...)

Diz Aristófanes, no discurso que faz sobre o Amor, no Banquete, de Platão:

Para começar, a nossa antiga natureza não era tal como hoje e sim diversa. Para começar, os seres humanos encontravam-se repartidos em três géneros e não apenas em dois – macho e fêmea – como agora: além destes, havia um terceiro que partilhava das características de ambos, género hoje desaparecido, mas de que conservamos ainda o nome. Era ele o andrógino, que constituía então um género distinto, embora reunisse, tanto na forma como no nome, as características do macho e da fêmea; hoje, contudo, não passa de um nome lançado ao descrédito…

Em segundo lugar, a forma de cada ser humano era inteira e globular, com as costas e os flancos arredondados. Tinham quatro mãos e igual número de pernas; sobre o pescoço redondo, duas faces, iguaizinhas uma à outra; uma única cabeça onde assentavam as faces, colocadas em sentido oposto; quatro orelhas; órgãos genitais em número de dois; e tudo o mais que a partir daqui possa imaginar-se. Caminhavam erectos, como agora, mas nos dois sentidos em que o desejassem. Porém, quando os assaltava o desejo de correr a toda a brida, faziam-no às cambalhotas, projectando as pernas para o ar, como os equilibristas, até regressarem à posição vertical. E assim, apoiados nos seus membros, que eram oito, se deslocavam velozmente em círculo.

Platão, Banquete, 189e-190a. Edições 70, 1991. Tradução, introdução e notas de Teresa Schiappa de Azevedo.

6 comentários:

Etienne disse...

Eis a prova como o homem já chegou a Marte...

Anónimo disse...

A Marte e arredores, que o homem mete o nariz em tudo..

Beijocas (já não vinha aqui à "bués"..tens andado no surripianço?..hummm..:-)

Damularussa

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Xantipa:
Finalmente eu, o Paulo/misantropo posso tornear o Beta e agradecer-Lhe a minha imerecida nomeação para os Oscars, sendo certo que não haverá a agradecer a meio undo como é costume por lá, mas apenas à Sua generosidade. Peço a indulgência para com este "nom de plume", que explico na jaula.
Beijinho.

Manuel disse...

Sempre achei o Banquete uma obra-prima da literatura.

É um autêntico crescendo sobre o amor, até culminar na análise Socrática.

Este excerto que escolheste é delicioso.. Quando ainda nem se havia estabelecido o que era a ciência... Platão aventura-se na ficção científica...

Xantipa disse...

Caro Voyeur... pois parece que sim...
:)**

Querida damula! Há que tempos! Eu estive fora e andei pouco por aí, mas vi que não actualizaste o blogue! :)

Caríssimo Paulo,
Não seja modesto! O seu blogue é excelente e proficiente! Gosto muito!
Fico contente por poder passar a vê-lo mais vezes por cá!

Caro Manuel,
Também eu gosto do Banquete... aliás, de Platão em geral...ou não fosse eu a Xantipa...
;)
Segue, nos próximos dias, o resto...

Anónimo disse...

Parebéns pelo post.